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Estado de Minas PROTEÇÃO AOS RINS

Pesquisa liderada pela UFMG tenta achar tratamento para doenças renais crônicas

Estudo tem participação de 31 cientistas de outras instituições e joga luz sobre os mecanismos de inflamação da doença renal crônica, tentando buscar novos marcadores e medidas terapêuticas para a patologia


postado em 19/04/2015 17:00 / atualizado em 19/04/2015 17:03

Augusto Pio

Professora Ana Cristina Simões, da Faculdade de Medicina da Federal de Minas, coordena o trabalho e diz que,a médio e longo prazo, estudo favorecerá tratamentos mais eficazes(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Professora Ana Cristina Simões, da Faculdade de Medicina da Federal de Minas, coordena o trabalho e diz que,a médio e longo prazo, estudo favorecerá tratamentos mais eficazes (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Professora titular da área de nefropediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Cristina Simões e Silva é a coordenadora de um projeto interdisciplinar de pesquisa sobre a interação do sistema renina-angiotensina – este formado por diversas substâncias que existem no corpo e que fazem muitas ações, entre elas as que podem levar a inflamação e cicatrização, com marcadores de inflamação e fibrose na progressão da doença renal crônica (DRC). O estudo  – aprovado recentemente em edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) , órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MTCI) – , será realizado em nível nacional, com a participação de 31 pesquisadores de diversas instituições de Minas e outros estados.

A pesquisa consiste, fundamentalmente, em tentar compreender como as doenças renais pioram e podem chegar à necessidade de diálise e transplante. Para essa finalidade serão dosadas substâncias no sangue e na urina de crianças e adolescentes com enfermidade renal e serão desenvolvidos modelos animais de doenças renais. A compreensão melhor as doenças renais é para permitir sua prevenção e desenvolver formas melhores de tratamento, e o objetivo maior é entender como estas levam à perda de toda a função dos rins e à necessidade de diálise e transplante. Além disso, serão identificadas substâncias que apontem para uma pior evolução dos pacientes e futuros alvos terapêuticos para as doenças renais.

Mestre e doutor em estomatopatologia e  professor titular do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Hercílio Martelli Júnior é um dos colaboradores do projeto. Ele explica que essa atuação multi/interdisciplinar tem sido bastante estimulada em âmbito nacional e internacional, particularmente no campo das doenças renais e que já existem relações bem estabelecidas entre algumas doenças com envolvimento renal e alterações odontológicas.

Martelli destaca ainda que a cooperação do cirurgião-dentista e do nefrologista deve ser perene, ou seja, esses profissionais devem se comunicar e estar atentos às doenças renais com repercussões nos tecidos bucais, destacando alterações quantitativas e qualitativas no esmalte dental, denominadas de amelogênese imperfeita. “É relevante que estudos sejam realizados para se conhecer melhor, e de forma mais plena, as possíveis interações genéticas e ambientais entre estes grupos de doenças, renais e dentais. Já temos realizado estudos com grupos brasileiros e do exterior envolvendo essas interações. Temos tido apoio constante da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), além de outros organismos de fomento à pesquisa, como o CNPq. Os principais beneficiários dessas investigações científicas serão os pacientes, que terão um melhor atendimento e uma melhor abordagem de orientação sobre a evolução clínica das doenças renais crônicas em estudo.”

O edital sobre doenças crônicas foi lançado pelo CNPq com o objetivo de apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação no tocante às doenças renais, mediante seleção de propostas para apoio financeiro a projetos que contribuam de modo efetivo para o avanço do conhecimento, geração de produtos, formulação, implementação e avaliação de ações públicas voltadas para a melhoria das condições de saúde da população brasileira. Visa também o fortalecimento dos serviços de saúde à luz dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). “O projeto pretende ampliar resultados anteriores no sentido de compreender melhor os mecanismos de piora da função renal nas doenças renais que mais comumente acometem crianças e adolescentes”, explica Ana Cristina.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES Aprovado em dezembro de 2014 e com duração de três anos, o projeto está em andamento e faz parte de uma linha de pesquisa ampla com vários estudos já publicados e outros em desenvolvimento. Ressalta-se que foram aprovados apenas seis projetos neste edital e esse é o único que estudará crianças e adolescentes. Ana Cristina salienta que os portadores de doença renal crônica (DRC) podem esperar um maior entendimento da doença e uma perspectiva de identificação de novos alvos terapêuticos para a doença. “Não há um benefício direto em curto prazo para os doentes. Mas acreditamos que a maior compreensão da doença possa favorecer no estabelecimento de novos tratamentos mais eficazes no futuro. Esse projeto faz parte de uma linha de pesquisa que, certamente, terá continuidade e, naturalmente, os resultados obtidos fornecerão elementos para projetos subsequentes”, acrescenta.

A coordenadora mineira explica que a DRC é considerada um dos mais importantes problemas de saúde pública da atualidade. “Apesar de a população pediátrica representar menor número de paciente em relação à adulta, a abordagem da DRC nesse grupo se torna um desafio por apresentar características decorrentes das manifestações da doença em seres em crescimento e em desenvolvimento. O sistema renina angiotensina (SRA) está intimamente envolvido nos mecanismos de progressão da lesão renal. Vários estudos clínicos mostram que o tratamento com remédios que inibem o SRA, como inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) e/ou com antagonistas de receptores angiotensnérgicos, pode retardar a progressão da fibrose renal e reduzir a mortalidade e o risco de complicações relacionadas à DRC. As ECAs deram origem a diversos remédios para tratamento de hipertensão arterial, doenças cardíacas e renais. Esses inibidores também diminuem a inflamação e a fibrose (cicatrização) de partes do corpo, principalmente rins e coração”, comenta Ana Cristina.

PAPEL DO SRA A professora da UFMG ressalta que, recentemente, tem sido mostrado que o SRA tem também substâncias que protegem a função renal, chamadas de via contrarregulatória do SRA, formadas pela ECA2, Aniotensina (1-7) e seu receptor Mas (tipo de composto que fica nas células). “Nessa proposta, objetivamos investigar o papel do SRA na progressão da doença renal crônica e avaliar como as substâncias desse sistema interagem com moléculas imunoinflamatórias e fibrogênicas. Será também investigado como os componentes do SRA e as moléculas imunoinflamatórias e fibrogênicas se associam às alterações clínicas, metabólicas, cardiovasculares e psiquiátricas das crianças e adolescentes com DRC, no intuito de identificar biomarcadores para diagnóstico e prognóstico, bem como alvos terapêuticos. A proposta está claramente alinhada com os objetivos específicos do edital do CNPq nº 36/2014, sobretudo, o de desenvolver pesquisas sobre os mecanismos básicos de doenças renais e investigar novos procedimentos diagnósticos e terapêuticos para doenças renais”, complementa Ana Cristina.

O projeto inclui pacientes pediátricos com DRC em diferentes estágios e de diferentes etiologias (abordagem clínica), além de modelos experimentais de doença renal (abordagem experimental). “Os pacientes serão submetidos à avaliação clínica e à coleta de amostras biológicas (sangue e urina) para mensurar componentes do SRA, moléculas imunoinflamatórias, relacionadas ao metabolismo mineral ósseo, e fibrogênicas, no intuito de identificar potenciais biomarcadores de diagnóstico, progressão da doença e resposta ao tratamento”, explica Ana Cristina. Segundo ela, os os modelos experimentais serão utilizados para investigar a fisiopatologia da lesão renal, os mediadores e vias metabólicas relacionados à piora da função renal e o papel da modulação do SRA sobre os processos de inflamação e fibrose renal. “Além disso, esses modelos permitirão a investigação dos mecanismos de renoproteção de moléculas agonistas do receptor Mas e dos fármacos bloqueadores do SRA.”


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