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Estado de Minas

Morcegos se baseiam nos sons emitidos por companheiros para evitar colisões nos voos


postado em 19/04/2015 19:00 / atualizado em 19/04/2015 19:10

Vilhena Soares

"Empregando estratégias de movimento que a natureza otimizou ao longo de milhões de anos, engenheiros podem, por exemplo, melhorar a eficiência de drones" Luca Giuggioli, pesquisador da Universidade de Bristol (foto: AFP PHOTO/SCIENCE/F.T.)

Quem já precisou andar no meio da multidão, sabe o quanto é difícil não esbarrar em alguém. Porém, morcegos conseguem realizar essa tarefa com destreza impressionante, mesmo quando estão voando em alta velocidade. Estudo conduzido por cientistas do Reino Unido conseguiu desvendar como esses mamíferos conseguem realizar tal façanha. De acordo com os pesquisadores, os animais seguem uma espécie de “regra de trânsito”, obedecendo às sinalizações dadas por seus companheiros. Os sinais, nesse caso, são os sons produzidos pelos bichos durante o voo.

Os morcegos distinguem o ambiente ao redor emitindo chamados altos e agudos e ouvindo o eco que produzem. Esses ruídos, porém, também acabam servindo para orientar os companheiros, que, assim, podem acelerar ou desacelerar e até mesmo realizar manobras complexas, tudo para evitar uma colisão. Segundo Marc Holderied, pesquisador da Universidade de Bristol e um dos autores do estudo, publicado na revista Plos Computational Biology, é a primeira vez que um trabalho consegue comprovar o refinamento da comunicação entre esses bichos.

“Tenho trabalhado com o movimento de morcegos e suas capacidades sonares por 18 anos, e sempre quis vincular esses aspectos. Agora, descobrimos que, realmente, há uma ligação muito direta entre os dois”, explica Holderied. “Não tenho conhecimento de um estudo que tenha demonstrado esse comportamento. Claro que qualquer pessoa que observe os animais pode ver que eles estavam perseguindo um ao outro e, de algum modo, respondendo um ao outro. Mas isso não havia sido quantificado”, completa.

Para realizar a pesquisa, Holderied e colegas usaram equipamentos avançados para captar os sons emitidos por morcegos-de-daubenton (Myotis daubentonii) durante voos sobre a superfície de água. Com as análises, eles puderam constatar que, muitas vezes, os movimentos de um bicho realmente são resultado dos sons emitidos por outro. Esse sistema, diz o especialista, torna o voo da espécie um verdadeiro balé de troca de posições. “Eles parecem ter adotado um truque simples: uma vez que outro indivíduo está perto o suficiente para que seus sons possam ser ouvidos (mesmo um eco), o morcego marca aquela posição para se adiantar ou atrasar, evitando choques”, explica Holderied.

Susi Pacheco, especialista em zoologia e pesquisadora do Instituto Sauver, organização de proteção ao meio ambiente, explica que a espécie escolhida é muito útil para esse tipo de estudo porque costuma voar em grupo. “Existem mais de mil espécies de morcego, e a Myotis daubentonii anda em grupo, basicamente em dupla. Isso fez com que os pesquisadores pudessem observar melhor o comportamento e a ligação entre eles para chegar a essas conclusões”, diz a brasileira, que não participou do trabalho.

Para ela, a análise traz dados sobre os quais os cientistas desconfiavam, mas apresenta revelações importantes. “A questão dos movimentos é algo que já se sabia, mas a interação feita pelos sons emitidos pelos morcegos é algo que podemos considerar novidade. Podemos ver, pela pesquisa, que um morcego sabe quando o outro se aproxima, e isso faz com que ele possa se desviar ou até se adiantar para pegar um inseto na superfície da água, por exemplo”, afirma.

Utilidade
Os autores do trabalho acreditam que compreender melhor essa comunicação entre os morcegos pode ajudar na criação de aparelhos usados em aviões e drones. “Quantificar as decisões do deslocamento que os morcegos adotam tem implicações muito além da ecologia animal. Empregando estratégias de movimento que a natureza otimizou ao longo de milhões de anos, engenheiros podem, por exemplo, melhorar a eficiência de drones e veículos de movimento autônomo”, diz, em comunicado, Luca Giuggioli, coautor do artigo e pesquisador da Universidade de Bristol.

O próximo passo dos cientistas é observar o comportamento dos animais com o auxílio de tecnologias ainda mais avançadas. “Temos implementado algumas das nossas descobertas em um modelo 3D para observar morcegos que se deslocam através de uma floresta. Queremos ver se eles podem evitar colisões. Acreditamos que podem. Temos estudado também grupos que ultrapassam outros obstáculos em voo livre e não apenas sobre uma superfície de água”, informa Marc Holderied.


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