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Estado de Minas

Programa usa as redes sociais para analisar estado emocional do usuário

Software criado nos EUA consegue, por meio da análise de selfies e textos publicados em redes sociais, definir se o usuário está bem ou mal-humorado. No futuro, poderá detectar sentimentos mais complexos


postado em 11/02/2015 09:20 / atualizado em 11/02/2015 09:24

Roberta Machado

(foto: Valdo Virgo/CB/D.A PRESS )
(foto: Valdo Virgo/CB/D.A PRESS )

Por trás de uma pose bem planejada para a selfie, de um tuíte editado à perfeição ou daquele post bem-humorado do Facebook pode haver uma tristeza oculta. Pesquisadores norte-americanos criaram um programa de computador que, por meio das redes sociais, monta o perfil do verdadeiro estado emocional do usuário, nem sempre claro para familiares e amigos. Além dos traços óbvios, como a expressão facial ou uma postagem de palavras positivas, o software procura sinais de alegria ou tristeza em pistas mais sutis, como o tempo que o internauta gasta na rede e até mesmo seus sinais biométricos.

O programa, desenvolvido pela Universidade de Rochester, ainda está em uma etapa preliminar de desenvolvimento, mas já mostra resultados que provam a validade da ideia. O software foi colocado à prova com um grupo de 27 voluntários, que foram estimulados por publicações positivas ou negativas enquanto tinham todos os movimentos, posts e até mesmo selfies examinados pelo computador equipado com uma câmera.

Os dados colhidos pelo programa foram comparados com os depoimentos dos voluntários, e mostraram que o sistema já é capaz de avaliar estados emocionais básicos, que variam do humor negativo ao positivo. Os resultados do teste, apresentados na semana passada em uma conferência de inteligência artificial no Texas, nos Estados Unidos, também ajudaram os pesquisadores a “treinar” o programa a compreender melhor a natureza das emoções humanas.

O sistema foi desenvolvido para colher o maior número possível de dados sobre o internauta, sem que ele tenha de sair da sua rotina. O usuário não precisa responder a nenhum tipo de questionário, fazer exames ou fornecer depoimentos. O programa usa como base as pistas deixadas naturalmente na internet, seja postando um comentário em um site, seja lendo o conteúdo publicado por outras pessoas.

“A saúde mental tem muito a ver com o estado de espírito, que pode ser facilmente afetado pela consciência de estar sendo observado ou questionado. Por isso, coletar dados enquanto o usuário não está percebendo é tão crucial para que a mente seja observada em seu estado natural”, explica Jiebo Luo, professor de ciências da computação da Universidade de Rochester e principal autor do trabalho.

Os pesquisadores escolheram uma série de marcadores que podem indicar como o usuário se sente, como a escolha de palavras usadas em um post no Twitter. Uma ferramenta separa os verbetes considerados felizes dos tristes e determina o tom geral do tuíte publicado. Esse é considerado um dos mais importantes dados para a avaliação do programa, que confere pesos diferentes para cada dado registrado. “Nosso sistema lê tanto as mensagens de texto quanto as imagens em tuítes para extrair os sinais das mensagens recebidas e das enviadas. Damos mais peso às mensagens enviadas para prever o estado emocional do usuário”, exemplifica Luo.

Rubor

Mesmo que o internauta só publique comentários positivos, os sinais de ansiedade emocional do usuário continuam claros para o programa. O software também pode medir a frequência dos batimentos cardíacos de uma pessoa com base nas mudanças de tom da testa dela. Esse é um indicativo do estado de agitação do usuário, que pode ser medido ainda pela quantidade de vezes que ele pisca os olhos ou pelos movimentos que faz com a cabeça. Esses e outros dados, que incluem até mesmo a dilatação da pupila, são calculados pelo programa com base nos vídeos registrados enquanto o usuário tira uma selfie habitual.

O exame biométrico feito pelo software pode ver, através da imagem, que o internauta constrói de si mesmo nas redes sociais. “Têm pessoas que se expõem até demais e que, possivelmente, vão demonstrar o estado de humor na rede social. Há outras que só publicam e acessam certos tipos de conteúdo e que selecionam muito bem o que publicam”, explica Paulo Lopes, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUCSP.

Outro sintoma facilmente medido pelo computador é a velocidade de leitura de uma página. Quanto mais tempo a pessoa demorar lendo o mesmo conteúdo, maior é o indicativo de que algo vai mal. O mesmo vale para o volume de cliques: enquanto um indivíduo bem-humorado costuma navegar com mais agilidade, acessando um grande número de sites, o internauta desanimado não vai mudar de páginas com tanta frequência. “Não acho que o programa tenha uma precisão altíssima, mas ele pode servir de alerta”, acredita Paulo Lopes.

 

Monitoramento pelo smartphone
Em breve, os pesquisadores da Universidade de Rochester esperam criar um aplicativo que possa transformar qualquer smartphone em um dispositivo de monitoramento emocional. Jiebo Luo, principal autor do trabalho, revela que está coletando dados para deixar o sistema mais robusto e sensível às emoções humanas, ensinando-o, por exemplo, a diferenciar a tristeza da raiva. Quando estiver pronto, o app poderia ser usado para monitorar a saúde mental de usuários ou até mesmo gerar dados a serem usados por profissionais de saúde que acompanham a evolução de um tratamento com base no humor do paciente. “No fim das contas, o nosso objetivo é melhorar o bem-estar mental de todos”, resume Luo.

No entanto, especialistas alertam que aplicativos de saúde como esse podem fornecer falsos resultados, apontando problemas inexistentes ou ignorando sinais de uma doença que seriam notados por um profissional em um diagnóstico tradicional. “O caminho é longo até que se consiga obter um instrumento compatível com o comportamento humano, que é multideterminado. É mais fácil a gente ter um instrumento super sensível e preciso para avaliar as estrelas do que para avaliar como nos comportamos”, aponta João Carlos Alchiere, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e conselheiro suplente do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

Alchiere acredita que ferramentas como o software desenvolvido pelos pesquisadores da instituição norte-americana possam fazer parte da rotina de pacientes e médicos nas próximas duas décadas, se as pesquisas forem capazes de aperfeiçoar a tecnologia. O uso de um programa como o desenvolvido em Rochester poderia, na opinião do brasileiro, fornecer a longo prazo um relatório completo sobre as flutuações de humor do usuário, detalhadas suficientemente para auxiliar no diagnóstico feito por um terapeuta. “Teríamos resultados muito promissores. Esse é o ponto do Big Data, as pesquisas com grandes quantidades de dados”, estima. (RM)


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