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Estado de Minas

Achado pode ser evidência de encontro entre o homem moderno e os neandertais

Parte de um crânio encontrada em Israel pode ser a evidência de que o homem moderno e os neandertais trocaram material genético


postado em 30/01/2015 06:00 / atualizado em 30/01/2015 13:05

Paleontólogos trabalham na caverna em que foi achado o crânio de um indivíduo que viveu há 55 mil anos, semelhante a dos africanos e europeus (foto: Omry Barzila/divulgação )
Paleontólogos trabalham na caverna em que foi achado o crânio de um indivíduo que viveu há 55 mil anos, semelhante a dos africanos e europeus (foto: Omry Barzila/divulgação )

Brasília – Por volta de 60 mil e 40 mil anos atrás, o berço da humanidade começou a parecer pequeno para o Homo sapiens. Há muito, seus ancestrais tinham se espalhado pelo globo, mas a espécie do homem moderno como se conhece hoje continuava estabelecida na África. Naquele momento, porém, se iniciou um movimento que mudaria para sempre o curso da história.

Estava na hora de dar adeus à savana para iniciar uma jornada rumo a outras paisagens. A essas alturas, diversas espécies humanas habitavam a Eurásia. Elas eram descendentes dos primeiros hominídeos que se aventuraram fora do continente africano e, por milênios, viveram sem perturbações em seus nichos. A chegada do Homo sapiens transformaria tudo isso – que o digam os neandertais, extintos depois do contato com seus primos próximos.

O problema é que faltam fósseis para esclarecer diversos pontos desse período. Inclusive, como e onde se deu o primeiro contato entre homens modernos e neandertais, que, de acordo com pesquisas genéticas recentes, trocaram material genético. Agora, a descoberta de um crânio parcial onde hoje é Israel poderá ajudar a compreender melhor o que se passou naquele lugar, naquele momento.

“A expansão do homem moderno africano para a Eurásia é um episódio-chave para a história da humanidade, porque, ao chegar, ele substituiu todas as populações existentes”, afirma Israel Hershkovitz, pesquisador do Departamento de Antropologia e Anatomia da Universidade de Tel Aviv. Durante quatro anos, uma equipe de cientistas chefiados por ele escavou em um local considerado um verdadeiro celeiro de fósseis, a Caverna de Manot. Lá, encontraram o crânio parcial de um indivíduo que viveu há 55 mil anos. A descoberta foi descrita na edição on-line da revista Nature desta semana.

De acordo com Hershkovitz, os traços anatômicos são bastante sugestivos. O formato se assemelha ao dos africanos e dos europeus modernos, mas há diferenças quando se compara ao dos levantinos, os povos que moram nessa localidade, que engloba Israel, Líbano, Síria, Jordânia, Chipre, Iraque e Península do Sinai. O paleontólogo afirma que, provavelmente, foi ali que o homem moderno e o neandertal cruzaram pela primeira vez, um fato que teve como consequência a presença de 4% do DNA dessa espécie extinta no genoma da população europeia moderna.

“Pela primeira vez, temos evidências físicas de que homens modernos e neandertais habitaram o mesmo lugar ao mesmo tempo, algo que já se suspeitava há tempos”, afirma Bruce Latimer, paleontólogo da Universidade de Case Western que integrou a equipe de pesquisadores. Ele diz que o crânio parcial coloca em dúvida a hipótese de que o intercurso aconteceu há 45 mil anos, pois o crânio de Homo sapiens data de 55 mil anos, 10 mil antes de quando se acreditava ter ocorrido esse encontro inicial.

Colonizadores Segundo Latimer, fósseis encontrados previamente indicam a presença de neandertais na região do Levante naquela época. “Periodicamente, eles habitavam a região onde fica a Caverna de Manot, que é quente e seca”, afirma. O local, recorda o paleontólogo, era a única rota por terra disponível para humanos antigos se deslocarem da África ao Oriente Médio, à Ásia e à Europa. Por isso, tem sido alvo de diversos estudos arqueológicos conduzidos pelo Ministério de Antiguidades de Israel e pela Universidade de Tel Aviv, desde que foi descoberta pela equipe de Hershkovitz.

“Na verdade, nem sabíamos da existência dessa caverna, porque, com o tempo, ela foi ficando soterrada. Entramos nela por um pequeno buraco ainda visível e nos deparamos com um pequeno crânio parcial”, recorda o paleontólogo. “Essa caverna foi habitada por homens pré-históricos por milhares e milhares de anos. É um local incrível e muito bonito”, descreve Hershkovitz.

De acordo com ele, apesar de a caverna ter fornecido abrigo a populações antigas por tanto tempo, não há dúvidas de que a caveira encontrada lá pertence a um homem moderno, e não a um hominídeo primitivo, como poderia se supor. “Não há nada nela que seja diferente do homem moderno, apenas na parte de trás há uma formação óssea típica de hominídeos mais antigos. Então, ela apresenta um mix de características. Para nós, isso significa que se trata de um homem moderno, porém mais antigo do que se imaginava encontrar naquela região”, diz. Os testes de carbono indicaram a idade de 55 mil anos.

A hipótese é de que esse indivíduo adulto, cujo sexo não foi possível determinar, tenha feito parte da primeira onda migratória do Homo sapiens para fora da África. “Ele é o ancestral dos colonizadores europeus. Morfologicamente e anatomicamente, o crânio é muito semelhante aos dos primeiros homens do paleolítico europeu, o que implica que ele integraria a população paleolítica ancestral no continente”, define Hershkovitz.

Vizinhos Para ele, o encontro desses primeiros colonizadores com os neandertais que já habitavam a Europa naquele momento é extremamente provável. A Caverna de Manot fica a menos de 50 quilômetros de outra em que já foram escavados diversos fósseis do homem de Neandertal. “Eles estavam vivendo lado a lado por milhares e milhares de anos”, lembra o antropólogo. O cientista israelense destaca, inclusive, que o indivíduo encontrado em Manot poderia ser um híbrido, resultante do cruzamento entre as espécies.

Contudo, essa é uma hipótese difícil de constatar, pois seria necessário coletar o DNA do crânio para tentar encontrar traços neandertais nele e há pouco material disponível. “As chances de conseguirmos coletar uma amostra de DNA nessa caveira são muito baixas. A região em que ela se encontrava não é boa para a preservação devido a aspectos climáticos. Mas não vamos desistir, porque, ao longo do tempo, a tecnologia está se aprimorando. Então, pode ser que, nos próximos anos, isso seja possível”, palpita.


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