(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Game criado por mineiros aposta no vácuo deixado pelo Flappy Bird

Nesses jogos, cada passo é mais difícil que o anterior. Por causa disso, surge uma competição entre as pessoas que jogam para ver quem consegue chegar mais longe e fazer mais pontos


postado em 14/10/2014 09:11 / atualizado em 14/10/2014 09:06

Carolina Cotta

Cléber Vinícius, Tiago Raposo e Eder Figueiredo mostram a cria: Cave Bat já é jogado na China e na Rússia (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Cléber Vinícius, Tiago Raposo e Eder Figueiredo mostram a cria: Cave Bat já é jogado na China e na Rússia (foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)

Quando Flappy Bird chegou à lista dos games gratuitos mais baixados na App Store, em janeiro de 2014, já era tratado como o novo Angry Birds, tamanha foi sua popularidade. Mas antes mesmo de completar um ano, foi tirado do ar pelo seu desenvolvedor, Dong Nguyen, uma atitude polêmica para a qual surgiram várias especulações. Chegou a ser promovida uma competição para a criação de jogos difíceis, quase impossíveis, como Flappy Bird. E assim, várias adaptações e jogos inspirados foram sendo criados pelo mundo para atender aos milhões de fãs loucos pelo pássaro que não consegue voar. Um deles é Cave Bat, de um grupo de desenvolvedores mineiros, lançado em julho e já baixado mais de mil vezes.

Cave Bat é um infinite runner, jogo sem fim que consiste em vencer o maior número de obstáculos. O jogador deve voar com um pequeno morcego por uma caverna, passando entre os pilares de pedra e marcando a maior pontuação. O principal diferencial é a jogabilidade, a sensação de voar com um morcego por meio de obstáculos cada vez mais difíceis. Segundo Tiago Raposo, programador da Ninja Rock Games e um dos criadores do Cave Bat, jogos cuja principal característica é dificuldade já existiam, mas eram conhecidos por um público pequeno e específico. “Com o surgimento do Flappy Bird e outros, caso de Dark Souls nos consoles, o grande público experimentou o desafio que esse tipo de jogo apresenta e a diversão de se superar dentro daquele universo.”

Talvez seja esse um dos motivos que tornam jogos como Flappy Bird e Cave Bat tão viciantes. Nesses jogos, cada passo é mais difícil que o anterior. Por causa disso, surge uma competição entre as pessoas que jogam para ver quem consegue chegar mais longe e fazer mais pontos. “Quando um amigo diz que fez uma pontuação maior, vem uma vontade de tentar de novo, de superar o amigo e a si mesmo e, como se diz, ‘tentar só mais uma vez’”, acredita Raposo. Em Cave Bat, o morcego tem o voo controlado por toques no celular e fica mais difícil à medida que a pessoa vai avançando no jogo. “Os feedbacks estão sendo positivos e quem joga quer cada vez ir mais adiante.”

Personagem do game desenvolvido em Minas é um morcego, que tem voo controlado por toques no celular (foto: Reprodução da internet)
Personagem do game desenvolvido em Minas é um morcego, que tem voo controlado por toques no celular (foto: Reprodução da internet)

O Flappy Bird só ficou no ar por poucos meses e quando saiu deixou um vácuo no mercado. “Os fãs do jogo, especialmente aqueles que não puderam baixar, estavam procurando algo similar, que pudesse substituí-lo. Ao perceber essa necessidade, surgiu a ideia de fazer um jogo inspirado nele, mas com identidade própria, e ser uma alternativa diferente dos vários clones que vieram em seguida”, define o programador mineiro. Ambos são baseados em um personagem com dificuldades de voar e que deve passar no meio de obstáculos incessantes. A grande dificuldade de avançar também é característica de ambos. Mas há diferenças. Flappy Bird se baseia em um pássaro que não consegue voar, e parece “pular” no ar. Já em Cave Bat, o morcego é mais apto e consegue dar pequenos voos.

Além disso, para não criar o problema, com em Flappy Bird, em que as pontuações podem chegar a números altíssimos e desestimular a competição, no Cave Bat a velocidade do jogo aumenta à medida que se avança pela caverna.
“Por isso, sabemos que mesmo os melhores jogadores do nosso jogo vão encontrar uma barreira de avanço, mas ainda assim podem disputar ponto a ponto com seus amigos”, explica Raposo. Cave Bat é totalmente gratuito e está disponível para smartphones e tablets Android, iPhone e iPad. Pode ser baixado nas lojas de aplicativos Apple iTunes e Google Play.

Cenário

O mercado de games ainda é muito inicial no Brasil. E nesse cenário, são nas startups, pequenas empresas inovadoras de tecnologia, que surgem as principais parcerias profissionais. Elas são comuns justamente porque geralmente nascem de uma boa ideia, que necessita ser colocada em prática com poucos recursos. Diante da impossibilidade de se contratarem serviços terceirizados, surge a possibilidade de se formar a sociedade. Com cada um tendo as competências específicas e responsabilidades definidas, esse encontro possibilita que o sonho – do aplicativo, site ou novo produto – saia do papel em busca do seu lugar no mercado. Não foi diferente com o Cave Bat, que nasceu da união de quatro sócios.

O game é fruto de parceria entre quatro profissionais: um programador, um game designer, um modelador tridimensional e um comunicador, cada um usando suas competências para alavancar o jogo no mercado. Segundo Tiago Raposo, o jogo foi inspirado em uma competição mundial realizada na PUC Minas, em Belo Horizonte, na qual os participantes têm um fim de semana para fazer um jogo. Raposo, juntamente com Eder Figueiredo, idealizou um projeto que pudesse ser concluído em apenas duas semanas. “O Cave Bat é um jogo simples e rápido de fazer, mas com uma ideia bem sólida e um conceito muito divertido. Pudemos fazer o jogo bem rápido, com poucos recursos, e lançá-lo ao público em um período muito curto de tempo”, lembra.

Mas, segundo Eder, apesar de ter um bom produto, faltava apelo visual. Foi quando se juntaram a Cleber Vinícius em busca de bons gráficos e expertise na área de produção artística. Mas ainda faltava conhecimento para promover a divulgação, e assim conseguiram mais um sócio, o especialista em marketing Téo Scalioni. “Não sei programar, mas sempre fui muito antenado a novas tecnologias e vi no Cave Bat uma oportunidade. O jogo já estava pronto e eu também seria dono. Agora, é trabalhar para fazê-lo a cada dia mais ser conhecido”, acredita o jovem.

Até agora, a maioria dos usuários é brasileira, mas há também gente dos Estados Unidos, Rússia e China brincando com o morcego. Como o game é totalmente gratuito, a remuneração dos sócios vem com a publicidade.

 

Sucessor

Dong Nguyen tirou Flappy Bird do ar e colocou outro no lugar. Swing Copters também é um desafio quase impossível, com jogabilidade simples. A missão é tentar chegar o mais alto possível com um personagem estranho, equipado com um capacete com hélice. Os controles são simples, mas ao mesmo tempo complexos. Basta tocar na tela para que o personagem mude a direção do voo, porém, com intensidade maior, tornando a tarefa de controlar o pequeno personagem quase impossível. Visualmente, o jogo é muito parecido com Flappy Bird, mas a jogabilidade não. Sai o rolamento lateral e entra a escalada rumo aos céus.

 

Três perguntas para...

Analice Gigliotti
Vice-coordenadora da Comissão de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria

 

Por que games viciam?
Os games brincam com as sensações de poder e recompensa, e isso libera dopamina no núcleo accumbens, mesma região do cérebro estimulada quando se usa uma droga, o que dá sensação de prazer. Quando se tem essa sensação, a pessoa quer senti-la cada vez mais.

Há algum tipo de game que vicia mais?

Os jogos on-line são mais perversos porque muitos deles exigem que o usuário mantenha-se conectado, e assim os jogadores não se desconectam. Não se tem mais a necessidade de sair de casa para jogar pôquer, por exemplo. E quanto mais fácil o acesso, mais fácil o vício. É por isso que o álcool e o tabaco viciam mais, porque há fácil acesso a eles. Os jogos on-line têm ainda a noção de comunidade e muitos querem superar os colegas e ser valorizados por isso.

Como evitar ou se livrar desse tipo de vício?
Crianças com mais de 13 anos não podem ficar conectadas por mais de duas horas por dia e seus pais devem saber exatamente em quais sites estão entrando. Se o tempo com jogos extrapolar essas duas horas e prejudicar as atividades, uma das ações é tirar o computador do quarto. A Sociedade Americana de Psiquiatria está estudando uma classificação de dependência para jogos on-line em função dos vários problemas que estão ocorrendo, principalmente na Ásia. Há casos de crianças que chegam a morrer porque não pararam para comer ou ir ao banheiro. O tratamento para deixar o vício em games envolve a orientação dos pais para uma melhor abordagem familiar, medicamentos e terapia comportamental cognitiva. 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)