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Estado de Minas

Complexo de recifes em Santa Cruz Cabrália surpreende pesquisadores

Uma bela formação recifal com contornos do órgão humano em sua forma lúdica, bem no complexo de recifes do Parque de Coroa Alta, em Santa Cruz Cabrália, surpreende biólogos e estudiosos marinhos


postado em 22/08/2014 11:02 / atualizado em 22/08/2014 11:02

Desenho do conjunto de corais intrigou pesquisadores que fazem mapeamento marinho nesta região da Bahia e analisam também de que forma as mudanças climáticas afetam as colônias coralíneas(foto: PROJETO CORAL VIVO/DIVULGAÇÃO)
Desenho do conjunto de corais intrigou pesquisadores que fazem mapeamento marinho nesta região da Bahia e analisam também de que forma as mudanças climáticas afetam as colônias coralíneas (foto: PROJETO CORAL VIVO/DIVULGAÇÃO)

Santa Cruz Cabrália ganhou notoriedade por ter sido a casa da Seleção Alemã de futebol, campeã do mundo na Copa realizada no Brasil. Localizada na Costa do Descobrimento, a cidade, porém, poderia estar no lugar de Porto Seguro nos livros de história. O jornalista e escritor gaúcho Eduardo Bueno, em sua obra A viagem do descobrimento, levanta a hipótese de os portugueses terem atracado na localidade ou na vizinha Prado, ao contrário do que aprendemos no colégio. Permeada por toda essa “mística”, Cabrália ainda “herdou” da natureza uma belíssima formação recifal, com contornos de um coração no complexo de recifes do Parque de Coroa Alta, formato que só foi descoberto recentemente pelo biólogo marinho e coordenador-executivo do Projeto Coral Vivo Gustavo Duarte, enquanto checava alguns mapas.


Os contornos lúdicos do coração – e não no formato bruto do órgão responsável por bombear sangue para todo o organismo – foram descobertos pelo biólogo, quando fazia a avaliação de algumas imagens de satélite, relacionadas ao mapeamento físico dos recifes do Parque Municipal Marinho Coroa Alta. “Além de coordenador do projeto, atuo na pesquisa de como as mudanças climáticas afetam os corais. Estava, por acaso, dando uma revisada nos mapeamentos e percebi que havia esse recife com formato de coração. Como está voltado para o Leste, estava de lado na imagem e dificultava um pouco a percepção”, comenta Duarte.

A formação está localizada especificamente na região dos Alagados (não confunda com a área de mesmo nome em Salvador), ao Sul do complexo recifal citado. Nos paredões, o coral casca-de-jaca (Montastraea cavernosa) se faz presente em suas grandes colônias. Ademais, róseas algas calcárias cobrem as paredes quase verticais, e garoupas têm no local sua morada. “Diferentemente dos recifes brasileiros, ele é muito fundo e tem paredes retas. Parece ter sido cortado com uma forma de biscoitos, naquele formato específico”, brinca o pesquisador.

Profundidade

O recife “coração” teve sua profundidade máxima aferida em 10 metros, enquanto a mínima ficou nos três. Isso foi constatado na primeira fase de levantamento batimétrico, ou seja, a medição de fundura dos oceanos, rios e lagos. Para o processo, os pesquisadores utilizam a ecossonda, instalada no casco da embarcação, e também o Strata scan – equipamento adquirido recentemente pelo projeto. O primeiro atua como um sonar, emitindo um som. O tempo que ele leva, de sua emissão da superfície até a recepção, é o determinante para medir a profundidade. Já o segundo atua escaneando o fundo do mar, transmitindo as nuances do solo. O aparelho consegue especificar onde há lama, areia, corais ou rochas. O mapeamento servirá para mostrar o relevo do recife em três dimensões.

A embarcação utilizada para auxiliar no processo é o catamarã Iamany (Senhora das Águas, na língua pataxó) – com certas adaptações para facilitar as pesquisas. Como a estrutura da embarcação fica pouco dentro d’água, há a facilidade de “passear” pelos recifes, com mais tranquilidade para fazer o levantamento batimétrico deles. No entanto, o processo não é tão simples quanto parece. “Temos que mapear lentamente, pois o motor da embarcação não pode funcionar a plena potência. Além disso, quando o mar está revolto, não há chances de se trabalhar”, comenta o pesquisador do Coral Vivo Jhone Araújo, mestrando de geologia no Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Interação com a comunidade

Localização no mapa do complexo de recifes: diferentemente das formações brasileiras mais comuns, este é fundo e tem paredes retas (foto: Arquivo EM)
Localização no mapa do complexo de recifes: diferentemente das formações brasileiras mais comuns, este é fundo e tem paredes retas (foto: Arquivo EM)
A formação recifal sequer havia sido notada pelos pescadores locais. “Foi uma surpresa até para eles. O pessoal achou muito bacana quando mostramos o mapeamento”, afirma Jhone Araújo. O Projeto Coral Vivo procura interagir com as comunidades e trabalhar sempre junto a elas. “A interação é muito boa. Temos, inclusive, uma política de contratação de moradores das comunidades, que trazem sua experiência, suas interações coralíneas desde pequenos, para nós. É uma troca de conhecimento muito grande”, salienta Gustavo Duarte.

A expectativa é de que o mapeamento físico completo dos recifes da Coroa Alta seja finalizado no próximo ano e entregue às prefeituras de Santa Cruz Cabrália e adjacências, que poderão trabalhar em conjunto com o Coral Vivo e comunidades para a preservação da área. A pesquisa ficará disponível também no site do projeto (www.coralvivo.org.br). O coração de Cabrália pode tornar-se parte integrante do turismo da região.

“Tenho a expectativa de que a área fique apta à visitação. Nosso coração tem 350 metros de diâmetro e um fundo de areia de coral. Além disso, há a formação de ondas em seu contorno. Mesmo distante da costa, seria interessante que surfistas checassem se a área é surfável”, comenta Duarte. Além disso, o mergulho é uma atividade que também pode ser explorada. Tudo depende do plano de manejo realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Toda unidade de conservação (UC) deve ter esse plano e o prazo máximo de elaboração, segundo o Ministério do Meio Ambiente, é de cinco anos.

De acordo com Araújo, a região sofreria muito mais com a atividade turística, não fosse a atuação dos guias. “O volume de pessoas que visita o parque é muito grande, mas o ambiente não é tão maltratado, graças aos guias turísticos que instruem, por exemplo, os visitantes a não retirarem um coral, mesmo que este esteja morto”, diz. 

 

Biomar
O Projeto Coral Vivo integra a Rede Biomar – Rede de Projetos de Biodiversidade Marinha. Os projetos Tamar, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Albatroz também fazem parte. Todos eles são patrocinados pela Petrobras, por meio do programa Petrobras Ambiental, com o intuito de conservar a biodiversidade marinha do Brasil, atuando nas áreas de proteção e de pesquisa das espécies e dos hábitats relacionados. As ações do Coral Vivo são viabilizadas também graças ao copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque. Além de Gustavo Duarte e Jhone Araújo, atuam no mapeamento o geólogo José Carlos Seoane, coordenador do trabalho, o piloto e monitor do Coral Vivo Márcio José, nativo da região, e os alunos de graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Bia Sabino e Ian Fortes.

 


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