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Estado de Minas

Investimento amplia as pesquisas sobre o câncer em Minas

Convênio entre estado e Instituto Mário Penna, referência em oncologia em MG, vai permitir ampliação dos estudos científicos acerca da doença, com foco na saúde feminina


postado em 31/03/2014 06:00 / atualizado em 31/03/2014 08:07


(foto: Janey Costa)
(foto: Janey Costa)
Segunda principal causa de morte por doença no Brasil e no mundo – 184.384 casos registrados em 2011, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde –, atrás apenas de males cardiovasculares, o câncer passa a ser diagnosticado e tratado com melhor precisão por meio de pioneiro convênio público-privado de pesquisa celebrado em Belo Horizonte no início de março. O projeto idealizado pelo Instituto Mário Penna, referência em oncologia em Minas Gerais, juntamente com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), ganha corpo com a inauguração do Centro de Pesquisa Mário Penna.

Primeiro centro da Rede de Pesquisa e Prevenção do Câncer da Mulher (RPPCM), o moderno laboratório instalado em uma área de 400 metros quadrados no Hospital Luxemburgo (Região Sul da capital) tem tecnologia de ponta e é dividido em três áreas principais de pesquisa: epidemiologia, básica e clínica. O principal objetivo, afirma a diretora-geral do centro e coordenadora executiva da rede, Paolla Freitas Perdigão, é facilitar o acesso do paciente carente – principalmente a mulher –, às novas formas de lidar com a doença, por meio de tecnologias que permitam a aplicação efetiva de resultados obtidos em laboratório.

Levantamento do governo federal aponta que 576.580 novos casos de câncer devem surgir no Brasil em 2014, dos quais o câncer de pele, próstata e mama tem maior incidência, entre 19 tipos mais frequentes listados pelo Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca). Somente entre as mulheres, as estimativas apontam uma previsão de 56 casos de câncer de mama a cada 100 mil pessoas do sexo feminino, 17 casos de câncer de cólon e reto, e 15 casos de câncer de colo e útero. "O centro vai utilizar a pesquisa científica para ampliar o acesso da população a novas tecnologias. Aquilo que fica muitas vezes dentro do laboratório e impacta beneficamente será levado ao paciente. É uma tendência mundial. Os maiores congressos e centros de pesquisa do mundo pegam o que é produzido no laboratório e fazem o paciente experimentar", explica Paolla.

Somente em equipamentos e estruturação do laboratório de biologia molecular, foram investidos R$ 2 milhões. A tecnologia vai beneficiar pacientes com câncer do Sistema Único de Saúde (SUS) atendidos nos hospitais do Instituto Mário Penna. A primeira linha de pesquisa a ser desenvolvida ainda não foi confirmada, pelo fato de o centro ter sido recém-inaugurado, mas, segundo a RPPCM, provavelmente será o estudo do câncer do colo de útero, um dos temas mais importantes em se tratando de câncer da mulher.

O canal com os pacientes se dará por meio de novos centros e unidade de saúde do estado. Cada resultado de pesquisa será apresentado à uma comissão formada por membros da Sectes e da Fapemig, que decidirão como replicá-los. "Hoje há uma forte tendência da medicina individualizada ou personalizada, em que uma molécula pode ser rastreada por meio de um kit de diagnóstico, por exemplo. Ainda não temos no Brasil um kit nacionalizado que faça essa busca. Quando se trabalha a pesquisa, permitimos que o governo consiga levar a nova tecnologia para o SUS dentro dos recursos disponíveis", exemplifica a pesquisadora.

Áreas de pesquisa

Cada área de pesquisa se debruça sobre uma necessidade. Na epidemiologia serão feitos estudos da população e do perfil clínico das neoplasias (crescimento celular não controlado que leva ao surgimento dos tumores) dos pacientes mineiros, levando em consideração características clínicas da doença, perfil socioeconômico do paciente e distribuição demográfica. A pesquisa básica abordará o genoma do câncer, moléculas importantes para a causa e desenvolvimento da doença e os efeitos no organismo. A área concentra boa parte dos equipamentos, como PCRs (termocicladores em 3D para amplificação genética em tempo real), citômetro de fluxo (que separa a célula) e um laser que captura a célula dentro de uma lâmina citológica. Por fim, na pesquisa clínica, o objeto de estudo é o paciente, avaliando se determinada nova droga promove melhora ou não no controle da doença.

Ainda não há, contudo, um prazo de conclusão para as primeiras pesquisas. "Isso é muito difícil de se precisar, porque os projetos de pesquisa estão sendo construídos agora para serem executados. Depende da complexidade. Pode levar um, dois anos... Estamos na fase de articulação com a gestão publica e a iniciativa privada, para montar os projetos com foco no câncer da mulher. Ou seja, numa fase de estratégia", acrescenta a diretora do centro.

Seguindo a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO) instituída pelo Ministério da Saúde, a Rede de Pesquisa e Prevenção do Câncer da Mulher tem objetivo alinhado ao Centro Mário Penna e, por isso, será operacionalizada a partir do hospital. A ideia surgiu em novembro, baseada na necessidade de se ter uma rede de pesquisa voltada ao câncer da mulher, principalmente porque é o tipo de câncer mais comum. "Um dos problemas da gestão pública é a incidência e a mortalidade. Então focamos no projeto para arranjar uma forma de tratar o problema cientificamente", afirma Paolla.

O projeto foi apresentado para as secretarias do governo de Minas e logo aprovado. "Por meio desta ação, vejo nos gestores públicos uma visão futurista aliando a ciência para resolver os problemas. Do que adianta fazer os projetos se o público não pode utiliza-los?", conclui. Entre os equipamentos, o Centro de Pesquisas tem ainda um biorrepositório – coleção de material biológico humano, coletado e armazenado ao longo da execução de um projeto de pesquisa.

 

Laboratórios já estão prontos e com aparelhagem moderna para início dos trabalhos científicos no Hospital Luxemburgo, em BH(foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS)
Laboratórios já estão prontos e com aparelhagem moderna para início dos trabalhos científicos no Hospital Luxemburgo, em BH (foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS)
QUATRO PERGUNTAS PARA...

Ricardo Assis
chefe de gabinete da Fundação Ezequiel Dias (Funed), parceira do centro


1) Qual o principal entrave do paciente de câncer carente para o estado hoje?
São diversas as ações que precisam ser replicadas para se melhorar o tratamento do câncer. A começar pela identificação da origem da doença. Um fator primordial no tratamento é prevenir o surgimento, por meio de alimentação e estilo de vida saudáveis, e identificar a doença o mais rápido possível. Outro entrave são os problemas de diagnóstico.

2) Qual o papel da Funed no centro?
A fundação faz parte do comitê de gestão permanente da Rede (de Pesquisa e Prevenção do Câncer da Mulher-RPPCM), que irá criar regras, aprovar o plano de trabalho e acompanhar a execução dos projetos de pesquisa da rede, além do regimento interno. Como fundação pública com experiência no tratamento de câncer, a Funed desenvolve hoje duas pesquisas principais: desenvolvimento de medicamentos para reduzir os tumores e identificação do tipo de câncer de colo no ovário. O kit de diagnóstico já é um dos nossos objetivos.

3) O projeto do centro nasceu em novembro de 2013 e foi efetivado em menos de seis meses com o apoio do governo de Minas. Há no Brasil, contudo, um histórico de desinteresse público na aplicação dos resultados práticos. Como tornar a pesquisa realmente útil?
Algo interessante da Rede é que vamos unir diversos serviços de tratamento ao câncer, podendo identificar pesquisas isoladas e apoiar o pesquisador. Também está prevista a captação de recursos por meio de editais da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), possibilitando que pesquisas realmente úteis sejam financiadas. Em vez de editais com análise teórica, poderemos fazer uma análise prática. Isso sem falar da união de esforços públicos e privados para ampliar a inovação e o setor produtivo do estado, fomentando o desenvolvimento.

4) Há previsão de serem investidos mais R$ 5,1 milhões em equipamentos no centro nos próximos dois anos. Do que depende a expansão?
Há uma emenda parlamentar e também recursos do estado destinados ao centro. Foi publicada no dia 19 a resolução conjunta Sectes-Funed formalizando a criação da Rede. A partir de agora, o membros do comitê permanente vão estabelecer os critérios para que centros de outras cidades mineiras solicitem adesão. Qualquer centro de referência de pesquisa em câncer no estado poderá participar.

 


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