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Estado de Minas PSICOLOGIA SOCIAL

Julgamento inicial sobre uma pessoa dificilmente é desfeito

Estudos mostram que os Mesmo que outras informações contradigam a opinião formada no primeiro momento, ela continua se impondo por muito tempo


postado em 25/02/2014 09:16 / atualizado em 25/02/2014 09:15

Paloma Oliveto

(foto: Arte D.A Press)
(foto: Arte D.A Press)
Brasília – Basta uma fração de segundo – e não é modo de dizer – para se formar a primeira impressão sobre algo ou alguém. Em um espaço de tempo mais curto que uma piscadela, o cérebro humano constrói imagens difíceis de serem desmontadas posteriormente. Pesquisas apresentadas neste mês no congresso anual da Sociedade de Psicologia Social e Personalidade dos Estados Unidos indicam que o poder das ideias moldadas no momento em que se bate o olho sobre uma pessoa é tão forte que nem mesmo os fatos são capazes de desmenti-las facilmente.

“Quanto menos tempo temos para emitir um julgamento baseado no que vemos, mais propensos seremos a confiar no que dizem nossos instintos”, conta Nicholas Rule, pesquisador da Universidade de Toronto. O psicólogo realizou um estudo para avaliar o potencial da primeira impressão a respeito da sexualidade e constatou que, se ela for de que uma pessoa é gay ou hétero, será difícil convencer do contrário, mesmo que novos dados demonstrem  isso depois.

Rule mostrou a 100 indivíduos as fotos de 20 homens, tanto heterossexuais quanto homossexuais. “Nesse momento, os participantes já emitiam seu julgamento, somente baseados na interpretação que faziam das fotos”, explica o psicólogo. Depois disso, os pesquisadores diziam qual era a orientação sexual de cada um dos retratados. A informação era passada várias vezes, dando a chance de os voluntários memorizarem a orientação de cada pessoa retratada. Em seguida, as fotos eram misturadas e apresentadas novamente, em um ritmo mais rápido. “Mesmo tendo sido informados sobre a orientação sexual correta dos homens nas fotos, nessa hora os participantes se deixavam levar por seus instintos, apontando as pessoas como gays ou héteros, não com base no que havíamos dito a elas, mas na primeira impressão que tiveram”, relata.

Seja para emitir uma opinião sobre a sexualidade dos outros, seja para avaliar se um filme é bom com base apenas no cartaz, o cérebro utiliza pistas que podem vir de diferentes formas, juntas ou separadas: não verbais, faladas e escritas. Pesquisas anteriores à da Universidade de Toronto indicam que as “colas” visuais são quatro vezes mais fortes que as outras. Imagens e gestos, portanto, realmente valem mais do que palavras na formação da primeira impressão. “Assim que vemos outra pessoa, pensamos algo sobre ela. Isso ocorre tão rápido que, às vezes, a imagem domina as informações que temos, tornando-se mais  para definir o que julgamos”, acredita Nicholas Rule.

Um exemplo fornecido pelo psicólogo é o do cantor porto-riquenho Rick Martin. O ex-menudo negou por muito tempo ser gay, até que, em 2010, acabou com as especulações, postando em seu site a frase: “Eu sou um homossexual feliz”. Confirmou, assim, o que boa parte dos fãs já imaginava. Mas, antes disso, ele chegou a ir à tevê para negar os rumores. “Na década de 1990, ao olhar para ele, você podia pensar: ‘Esse homem é gay’. Mas, então, você se lembrava da entrevista que ele deu para Barbara Walters (apresentadora do ABCNews), dizendo o contrário, e se corrigia: ‘Ah, não, esse é o Rick Martin’. O que temos aqui é o seguinte: a primeira impressão continua a nos acompanhar, muito tempo depois de termos uma informação relevante sobre uma pessoa”, diz.

A capa do livro Bertram Gawronski, psicólogo da Universidade de Western Ontario, no Canadá, que não participou desse estudo mas também investiga o poder da primeira impressão, concorda que o racional perde para o instintivo em relação ao julgamento visual. “Imagine que você tem um novo colega no trabalho e, à primeira vista, não simpatiza muito com ele. Uma semana depois, você o encontra em uma festa e percebe que, na verdade, ele é um cara muito legal. Apesar de saber que sua primeira impressão estava errada, ela vai continuar a dominar em todos os outros contextos. Em outras festas ou em um bar, você pode até considerá-lo agradável. Mas, no trabalho, dificilmente vai deixar de antipatizar”, teoriza.
Segundo Vivian Zayas, pesquisadora da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, apesar de o ditado aconselhar a não julgar um livro pela capa, isso é o que a maior parte das pessoas faz. “E, mesmo depois de ler o livro, aparentemente a impressão formada a partir da capa vai continuar nos influenciando”, compara. No encontro da Sociedade de Psicologia Social e Personalidade, Vivian apresentou uma pesquisa mostrando que o julgamento que se faz de alguém com base em uma fotografia é uma boa previsão do que se achará daquela pessoa ao conhecê-la face a face.

Em um estudo conduzido pela psicóloga, os participantes viam fotos de desconhecidos e contavam para os pesquisadores o que tinham achado delas, tendo como única referência o retrato. Um mês depois, eles eram apresentados aos indivíduos fotografados. “O resultado mostrou que o julgamento inicial baseado nas fotos se manteve intacto mesmo depois de os participantes interagirem com as pessoas”, diz. Isso, porém, não significa que a intuição está sempre certa. “Na realidade, o que ocorre é que a primeira impressão é tão forte, fica tão arraigada na mente, que acaba influenciando a opinião futura”, esclarece Vivian.

 

Status e regra

Especialistas explicam que o julgamento inicial é difícil de ser mudado porque, ao formar uma ideia, o cérebro a armazena e, naturalmente, a considera uma regra. Violar esse padrão pode não fazer sentido algum. O neuropsicólogo Alex Todorov, da Universidade de Princeton, admite que os cientistas não sabem no que a mente se baseia para construir as primeiras impressões, mas parte da explicação pode estar nas amígdalas, pequenas estruturas cerebrais associadas ao medo.

“A resposta ao medo envolve essa região do órgão, que existe nos animais há milhões de anos, antes ainda do desenvolvimento do córtex pré-frontal, onde os pensamentos racionais se formam”, diz o cientista. Para ele, alguma coisa no rosto de uma pessoa pode induzir essa região primitiva do cérebro a identificá-la como uma ameaça, o que geraria uma impressão negativa, difícil de ser mudada posteriormente. Contudo, Todorov lembra que isso não justifica outros tipos de julgamento – como pensar que uma pessoa é gay ou heterossexual sem informações diretas que corroborem a impressão. “Essa é uma área sobre a qual sabemos muito pouco”, diz.

Desconstrução

Apesar da teimosia da mente, Nicholas Rule, pesquisador da Universidade de Toronto, lembra que não é impossível desconstruir uma primeira impressão. “Leva tempo, mas é possível mudar um julgamento quando sabemos que ele está errado. Acho importante ressaltar que, ao mostrar às pessoas que temos essa forte tendência de julgar pela aparência, esses estudos não apenas dizem: ‘Tente causar uma boa impressão’. Eles também nos fazem refletir sobre a importância de levarmos as informações racionais em consideração antes de fecharmos uma ideia sobre alguém.” (PO)

 


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