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Estado de Minas

Onça-pintada corre risco de extinção na mata atlântica

Na Bahia, devido à seca, recenseamento comprovou que reprodução da arara-azul-de-lear foi afetada


postado em 13/01/2014 06:00 / atualizado em 13/01/2014 09:09

Shirley Pacelli

Estudo brasileiro teve início na década de 1990 e constatou que a Panthera onca está em declínio na mata atlântica, o maior predador nesse bioma(foto: ARAQUÉM ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO %u2013 29/1/07)
Estudo brasileiro teve início na década de 1990 e constatou que a Panthera onca está em declínio na mata atlântica, o maior predador nesse bioma (foto: ARAQUÉM ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO %u2013 29/1/07)

Imagine que, de repente, invadem seu território, roubem-lhe a sua casa e você passe a ser perseguido. Não há fuga, é preciso lutar para sobreviver no novo ambiente hostil. A trajetória das onças-pintadas no Brasil é assim. O homem ocupou seu espaço e sai à sua caça quando seus rebanhos domésticos são atacados. Em um trabalho longo e minucioso, pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) chegaram à conclusão de que as onças-pintadas (Panthera onca) estão em declínio na mata atlântica. O estudo, iniciado na década de 1990, mas teve os trabalhos intensificados a partir dos anos 2000, contou com informações de diferentes grupos de apoio ao longo dos anos, com cerca de 30 pesquisadores envolvidos.

Atualmente, a onça-pintada está na categoria criticamente ameaçada, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A costa brasileira, alguns trechos da Argentina e Paraguai integram a mata atlântica, que pode se tornar o primeiro bioma tropical a perder seu maior predador do topo da cadeia. A espécie ajuda no controle de herbívoros e carnívoros de médio e pequeno porte, como raposas e guaxinins. A sua extinção pode desequilibrar o funcionamento do ecossistema da mata.

Ronaldo Morato, de 47 anos, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos e Carnívoros, conta que a estimativa foi feita com o método marcação e recaptura. “A onça tem um padrão individual de pinta, sendo posssível identificar cada animal com a ajuda de uma câmera fotográfica”, diz. Foi realizada ainda a análise genética, que mostra a estrutura da população e suas características. Com a ajuda de um software, por meio de modelos matemáticos descobriu-se a população estimada e quantos indivíduos deveriam ter na localidade.

Na região pesquisada, que vai do Espírito Santo até o interior da Argentina, há 250 animais. “A onça-pintada está ocupando metade da área que ela teria para ocupar. Portanto, deveria haver o dobro de indivíduos”, acrescenta Morato. Segundo o pesquisador, o principal motivo do declínio do número de animais é a perda de seu ambiente natural. “Mas a onça também sofre com a caça, sobretudo em áreas com rebanhos domésticos, como no Nordeste, onde não há mais relato de sua presença”, ressalva.

Segundo ele, para reverter essa condição, de imediato, só mesmo com a redução da perda de seu hábitat e da caça. A onça-pintada precisa de uma boa base de presas e tem relação forte com a presença da água e cobertura vegetal. “Ela se esconde na floresta, diferentemente de outras espécies, que usam uma área mais aberta. Seu consumo de alimento é alto e usa grandes áreas, cerca de 50 quilômetros quadrados”, conta o coordenador. A longo prazo, há projetos para levar indivíduos de uma área para outra, além de estudos de técnicas de inseminação artificial.

 

Desaparecimento de carnívoros

Um grupo de pesquisadores publicou artigo na revista Science sobre o desaparecimento progressivo de grandes carnívoros. O grupo se concentrou em sete espécies – o leão africano, o lince europeu, o leopardo, o lobo cinzento, o puma, a lontra marinha e o dingo australiano. Segundo o artigo, o sumiço dos animais ameaça os ecossistemas do planeta. Mais de 75% das 31 espécies desses animais viram reduzida sua população e 17 delas estão ocupando atualmente menos da metade do território que habitavam inicialmente.
 
“Em escala planetária, perdemos nossos grandes carnívoros”, afirmou William Ripple, professor no Departamento de Ecossistemas Florestais da Universidade do Estado do Oregon e principal autor do estudo. “Vários desses animais estão ameaçados enquanto seus territórios diminuem rapidamente. E a maioria deles corre o risco de extinção, localmente ou em escala global”, advertiu Ripple, considerando “paradoxal que as espécies desapareçam em um momento em que estamos tomando consciência de sua importância na manutenção do equilíbrio ecológico”.

Os grandes carnívoros já foram amplamente exterminados em um grande número de países desenvolvidos, principalmente na Europa Ocidental e no Leste dos Estados Unidos. E essa caçada se estende ainda a várias partes do mundo, criticaram os cientistas.

Os cientistas americanos, europeus e australianos afirmam que é hora de lançar uma iniciativa mundial para reintroduzir esses animais na natureza e reconstituir suas populações, citando como exemplo a chamada “Large carnivore initiative” (Grande iniciativa carnívora, na tradução livre), celebrada na Europa, que pretende introduzir lobos, linces e ursos-pardos em seus hábitats.

 

 


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