(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Internacionalização de cientistas permite intercâmbio de saberes

Intercâmbio é oportunidade de atuar em centros de referência mundial. Mas há desequilíbrio entre regiões e áreas mais favorecidas


postado em 01/01/2014 00:12 / atualizado em 03/01/2014 09:45

Carolina Cotta


Nunca foi tão fácil fazer uma pós-graduação no exterior. A oferta de bolsas para pesquisadores brasileiros cresceu consideravelmente nos últimos anos, desde que o país mudou sua política de promoção de ciência, tecnologia e inovação. A oportunidade de morar fora, mesmo que por um período, chama a atenção. Mas é a possibilidade de fazer pesquisa em centros de referência mundial, e assim aumentar as colaborações e publicações, o que buscam os milhares de brasileiros que submetem seus projetos às agências de fomento, programas governamentais e privados de concessão de bolsas e às próprias instituições de ensino.

Pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo (USP), Arlindo Philippi Júnior vê na internacionalização dos programas uma oportunidade de os brasileiros conhecerem o que há de mais avançado em suas áreas de atuação, ficarem mais exigentes em relação à estrutura de pesquisa disponível no Brasil e estabelecerem conexões com grandes pesquisadores e instituições. Assim, a aproximação não fica mais restrita aos docentes e os alunos de pós formam sua própria rede de relacionamento. "Os ganhos são fantásticos. Quando se trabalha sozinho é uma coisa, quando se interage com outros grupos e mesmo com outras áreas do conhecimento melhoramos ainda mais o que estamos gerando de inovação", defende.

Entre 2010 e 2012, período compreendido pela última avaliação trienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cerca de 2 mil alunos da USP estiveram no exterior para fazer parte da formação ou apresentar resultados de pesquisa em congressos internacionais. Essa circulação de cientistas promove uma sinergia na produção de conhecimento altamente estimulada pela USP e outras universidades. Para Arlindo, nos últimos anos é possível observar esse movimento em todas as universidades brasileiras. "Todas elas estão se mobilizando na ampliação dessa internacionalização", acredita.

Existe, contudo, um desequilíbrio no número de bolsas para cada região do Brasil, o que tem uma relação direta com a oferta de programas de pós-graduação pelo país. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, o processo de internacionalização ainda é um pouco incipiente, embora exista um esforço individual e institucional. Segundo a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Divina das Dores de Paula Cardoso, algumas parcerias importantes têm sido firmadas e dessa forma a UFG tem convicção de que essa é uma meta a ser incrementada a partir de 2014.

"Não existe limitação na oferta de bolsas para doutorado-sanduíche no exterior para a UFG. A instituição está usando, até o momento, em torno de 50% das cotas a ela destinadas, o que se justifica pelo fato de que a grande maioria dos cursos de doutorado são novos e ainda sem estudantes aptos a usufruir do doutorado sanduíche." Para a professora, um dos desafios é o desconhecimento, por parte das grandes universidades do exterior, das instituições de ensino superior fora do eixo e por ainda serem tímidas na proposição de parcerias.

AVANÇO Não à toa, o Ciência sem Fronteiras limitou sua oferta de bolsas a áreas específicas. O programa do governo para promoção da ciência visa ao avanço da sociedade do conhecimento, mas também ao efeito direto disso na geração de inovação. E na promoção de sua economia, consequentemente. Produção agrícola sustentável; petróleo, gás e carvão mineral; energias renováveis; e tecnologia mineral são algumas das 18 áreas contempladas, todas relacionadas a atividades geradoras de renda do país. Mas a área de biologia, ciências biomédicas e saúde tem quase 30% das bolsas de pós-graduação concedidas desde o início do programa, em 2011.

Os Estados Unidos continuam sendo o destino mais contemplado. No Ciência sem Fronteiras, por exemplo, a maioria dos brasileiros procura um dos câmpus da Universidade da Califórnia. Sessenta porcento das bolsas de pós em universidades americanas são para doutorado sanduíche. França, Portugal e Espanha são outros destinos muito procurados. No programa, apenas o México e o Chile representam a América Latina na lista dos países de destino. O México recebeu apenas três pesquisadores. Para o Chile foram cinco.

Procurados pelo Estado de Minas, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agências de fomento do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), respectivamente, e responsáveis pelo Ciência sem Fronteiras, não se pronunciaram sobre o programa.

 

Discrepância

Pesquisadores mineiros já obtiveram 930 bolsas de pós-graduação no Ciência sem Fronteira. Das 14 instituições de ensino superior do estado contempladas, apenas duas são particulares. O Distrito Federal mandou 230 pesquisadores. São Paulo lidera com 2.459, enquanto Goiás teve 69 bolsas.

 

Personagem da notícia
Cecília nasciutti prudente
DOUTORANDA NA EMORY UNIVERSITY, ATLANTA, ESTADOS UNIDOS
Rica experiência

Aos 32 anos, ela mora nos Estados Unidos pela terceira vez. Sempre em prol da ciência, embora só agora seja ela a pesquisadora. Doutoranda em neurociências, Cecília Nasciutti nasceu e viveu nos EUA até os 4 anos, durante o doutorado do pai, e voltou aos 13, para o pós-doutorado. "Seu entusiasmo com pesquisa teve grande influência e me incentivou a buscar o mesmo caminho." Já no curso de fisioterapia na UFMG, ela foi bolsista de iniciação científica. O mestrado foi um caminho natural, assim como o doutorado no exterior. Desde 2009, Cecília mora em Atlanta com uma bolsa da universidade e outra bolsa do governo americano, por ter dupla nacionalidade. Voltar ao seu país de origem foi uma opção, já que ela procurou programas em outros lugares. “Apesar da ótima experiência que tive na UFMG, quis buscar oportunidades em outras instituições – no próprio Brasil, na Alemanha, na Espanha e nos EUA – para aprender maneiras diferentes de desenvolver pesquisa. Entre as opções, os centros americanos tinham programas mais completos e me davam a chance de trabalhar com grandes nomes da minha área." Ela quer continuar fora para o pós-doutorado e só depois vai decidir se fica ou volta. Mas o grande investimento em pesquisa nos EUA pode pesar. "Os laboratórios são altamente equipados e funcionam como pequenas empresas. Diferentemente da minha experiência no Brasil, todos os gastos com congressos e apresentações são bancados pela universidade ou por fundos disponíveis para esses fins. Além disso, os recursos são escassos e o número de pessoas envolvidas menor. Por esses motivos, o processo de pesquisa é mais lento e muitas vezes mais trabalhoso para o pesquisador. No entanto, acho que os brasileiros conseguem superar as dificuldades muito bem."  


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)