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Estado de Minas

Lagartas são usadas na busca por novas vacinas

Cientistas do Instituto Butantan testam a capacidade da hemolinfa, líquido presente nesses animais, de reduzir ação de micro-organismos no corpo humano, como fungos e bactérias. Ideia é produzir vacinas


postado em 09/12/2013 08:51 / atualizado em 09/12/2013 09:01

Bruno Freitas

(foto: CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA DE SANTA CATARINA)
(foto: CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA DE SANTA CATARINA)

O líquido que corre pelo corpo desses animais pode ser importante a ponto de fazer a diferença na busca por vacinas antibactérias, fungos e vírus. A hemolinfa, fluido incolor cuja função em invertebrados corresponde à do sangue, tem se mostrado de vital importância ao demonstrar potencial para reduzir a ação de micro-organismos no corpo humano. Pesquisadores do Instituto Butantan, de São Paulo, têm se valido dessa função ao identificar substâncias promissoras em pesquisas com duas famílias de lagartas.

A primeira, iniciada há 12 anos, isolou e purificou uma proteína em um animal da família Saturniidae, a Lonomia obliqua. Em sequência, os últimos resultados apontam substâncias de alta potência antiviral em lagartas da família Megalopygidae. Na busca pela composição química para testes em organismos e aplicação farmacêutica, os dados preliminares demonstram ação inequívoca: a Megalopygidae tornou 2 mil vezes menor a replicação do picornavírus (parente do vírus da poliomielite) e 750 vezes menor a do vírus do sarampo, além de ter neutralizado o vírus da influenza, o H1N1.

"Até a conclusão do trabalho, podemos chegar a uma redução ainda maior", aponta o virologista Ronaldo Zucatelli Mendonça. À frente da pesquisa intitulada "Bioprospecção de proteínas de interesses farmacológico e biotecnológico na hemolinfa de lagartas Megalopygidae", o especialista estuda a família há cinco anos. Até a chegada ao novo resultado, a proteína encontrada na Lonomia tornou a replicação do vírus da herpes 1 milhão de vezes menor e a replicação do vírus da rubéola 10 mil vezes menor. O trabalho foi inicialmente publicado na revista Antiviral Research, em 2012.

Ambos os estudos focam em substâncias que apresentem propriedades em ação apoptótica e antiviral. As proteínas são produzidas pela tecnologia de DNA recombinante. Enquanto a ação apoptótica promove a apoptose – morte celular programada ou desencadeada que elimina células danificadas ou em excesso –, um importante processo para o controle do câncer, por exemplo, a antiviral, utilizada atualmente nas lagartas Megalopygidae, combate vírus específicos. Por meio do DNA, o gene codificador da proteína é extraído da hemolinfa, clonado em um baculovírus (vírus que ataca insetos) e replicado em células de insetos que produzem proteínas de defesa (as chamadas proteínas recombinantes) em grande quantidade. "A principal vantagem em produzir a proteína recombinante é que isso torna possível a extração da substância de maneira mais simples e em maior escala. Antes de chegar à indústria, porém, é preciso verificar sua ação em organismos, em testes in vivo, e avaliar sua viabilidade econômica", diz.


Os próximos passos, segundo o pesquisador, são testar a proteína da Lonomia em outros organismos. "Já a temos sequenciada e clonada em sistema de baculovírus, parcialmente caracterizada. Com os testes saberemos como ela funciona, a reação do organismo à substância e os testes de estabilidade e determinação do tempo de resposta, além das doses". As Megalopygidae já tiveram a substância purificada e os testes in vitro realizados, entrando agora na fase de caracterização bio-química.

No caso da primeira lagarta testada, já há empresas do Brasil e exterior interessadas na produção de medicamentos. Quanto às Megalos, Mendonça diz que ainda faltam dois anos de testes até que todas as etapas de laboratório sejam concluídas. As lagartas estudadas são do tipo urticantes, com cerdas (pelos) que liberaram veneno capaz de levar à morte. A categoria de invertebrados foi escolhida devido ao acúmulo de carcaças, após a retirada do veneno, no instituto, para a produção de soro antiqueimadura. Foram retirados cerca de 100ml de hemolinfa das Lonomias e aproximadamente 25ml das Megalopygidae. Cada carcaça rende algo em torno de 0,1ml.

A família Megalopygidae reúne mais de 200 espécies, entre elas a Megalopyge lanata – a popular lagarta-do-cartucho, cuja mariposa ataca as culturas de milho no Brasil, além da Megalopyde albicollis, a lagarta-de-fogo. Os estudos abrem portas para outras importantes pesquisas no Brasil, que tem megabiodiversidade de insetos. "Todos podem ter substâncias desse tipo, de ação até maior do que as encontradas até agora", conclui o pesquisador, que realizou três pós-doutorados com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp): dois em Portugal e um no México. A previsão do Instituto Butantan é de que a ação das substâncias encontradas em lagartas seja verificada nos organismos até o fim de 2014.


TRÊS COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE LAGARTAS
1. Hemolinfa

O líquido cuja função em intevertebrados corresponde à do sangue tem uma composição química bem diferente: basicamente é constituído por água, sais e compostos orgânicos. O fluido preenche o corpo (hemocélio) e circunda as células, livres, desempenhando importante papel na defesa imunológica. Não há distinção entre o que é sangue e fluido intersticial, nem pigmento respiratório. A respiração é
direta e traqueal

2. Ciclo de vida
As lagartas são uma fase do ciclo de vida de mariposas e borboletas (forma adulta). As mariposas Lonomia obliqua têm hábitos noturnos e vivem de 8 a 10 dias, apenas se acasalando. Põem ovos em folhas de plantas que, após 15 a 30 dias, se rompem, dando vida às lagartas. A maior incidência de acidentes surge na fase de 90 dias em que as lagartas se tornam pupas, descendo para próximo ao solo. Após esse período, emergem das pupas as mariposas, reiniciando o ciclo.

3. Lonomia oblíqua
A popular taturana tem colocação marrom-clara com listras e vários pontos brancos. Seu corpo é recoberto por espinhos venenosos que causam sangramentos graves em contato com a pele humana. Vive em regiões de mata adensada e vegetação existente em áreas urbanas, como mangueiras, goiabeiras, ipê, cedro e aroeira. Costuma ficar agrupada em troncos ao longo do dia. No Brasil, é a espécie que causa o maior número de acidentes.

COMO PREVINIR ACIDENTES
» Acidentes ocorrem geralmente na manipulação de árvores frutíferas e ornamentais (seringueiras, araticuns, cedro, figueiras-do-mato, ipês, pessegueiros, abacateiros, ameixeiras, etc.). Por isso, deve-se verificar previamente a existência de folhas roídas na copa, casulos e fezes de lagartas no solo, com seu aspecto típico, semelhante a grãos dessecados de pimenta-do-reino.
» Observar, durante o dia, os troncos das árvores, onde as larvas poderão estar agrupadas. À noite, as taturanas dirigem-se para as copas das árvores para se alimentarem das folhas.
» Usar luvas de borracha para realizar atividades de jardinagem.

PRIMEIROS SOCORROS
» Lavar imediatamente a área afetada com água e sabão;
» usar compressas com gelo ou água gelada, que auxiliam no alívio da dor;
» procurar o serviço médico mais próximo;
» se possível, levar o animal para identificação.

 


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