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Estado de Minas

Ativistas do software livre defendem a abertura do conhecimento tecnológico para todos

O fundador da Free Software Foundation acredita que a militância pelo programa livre é uma questão ética, social e política


postado em 29/08/2013 10:49 / atualizado em 29/08/2013 12:49

Richard Stallman compara os trabalhos proprietários ao sistema colonial, no qual a população é privada do seu direito a liberdade e é dominada pelas grandes corporações(foto: GUILHERME DIAS/INDICEFOTO)
Richard Stallman compara os trabalhos proprietários ao sistema colonial, no qual a população é privada do seu direito a liberdade e é dominada pelas grandes corporações (foto: GUILHERME DIAS/INDICEFOTO)

Muita gente espalhada pelo mundo luta por uma gratuita distribuição e execução de softwares, bem como a sua livre modificação. Grupos de desenvolvedores, pesquisadores, estudantes e até simples aficcionados por tecnologia defendem o software livre, justificando
que a humanidade deve ter livre acesso aos recursos tecnológicos. Entretanto, é preciso entender bem as ideias de software livre e grátis.

Um programa livre pode ser comercializado ou não, dependendo de sua licença. Pode-se alterar um software livre e vendê-lo. Seus desenvolvedores também têm o direito de poder ler o seu software modificado e tê-lo de volta.O que importa aí é o programa ser de código aberto, passível de ser lido, entendido e modificado de acordo com a necessidade do usuário. Já um software gratuito pode não oferecer custos, mas não divulgar o seu código-fonte nem permitir sua  modificação. Alguns softwares grátis não têm nem a sua livre distribuição permitida.

Para o fundador da Free Software Foundation e autor do Projeto GNU, Richard Stallman, a militância pelo software livre é uma questão ética, social e política. “Ou os usuários controlam os programas ou os programas controlam o usuário”, disse ele durante o 14º Fórum Internacional Software Livre, realizado em Porto Alegre (RS). Stallman é programador, hacker e um influente ativista político de tecnologia e liberdade da informação. É ainda autor da GPL, a licença livre mais usada no mundo, que consolidou o conceito de ‘copyleft’ (uma forma de usar a legislação de proteção de direitos autorais com o objetivo de retirar barreiras à utilização, difusão e modificação
de uma obra).

CONTROLES

Em sua palestra durante o encontro, “Free software and other essentials for computing freedom” (“Software livre e outros itens essenciais para a liberdade da computação”), Stallman ressaltou a importância do compartilhamento, completando que “nós precisamos bem mais do que o controle individual, nós precisamos do controle coletivo”. O ativista compara os softwares proprietários ao sistema colonial, no qual a população é privada do seu direito à liberdade e é dominada pelas grandes corporações.O objetivo principal do considerado pai do software livre é a “libertação do cyberspace”, condição em que os usuários poderiam usar, modificar, copiar e distribuir legalmente qualquer material por meio da rede.

Três perguntas para Richard Stallman

De 1984, quando começou a desenvolver o GNU, até hoje, quais foramos principais
resultados do projeto?

A principal realização do Projeto GNU é tornar possível executar um computador com liberdade. Com o software, há duas possibilidades: ou os usuários controlam o programa ou o programa controla os usuários. Quando os usuários controlam o programa, chamamos isso de software livre. Para ter o controle, os usuários precisam contar com quatro liberdades essenciais: 1) a liberdade de executar o programa como quiser, para qualquer finalidade; 2) liberdade para estudar e modificar o programa, de modo que ele faça a sua computação como desejar; 3) liberdade para fazer e distribuir cópias exatas quando quiser; e 4) liberdade para fazer e distribuir cópias de suas versões modificadas quando quiser. Se os usuários não tiverem essas liberdades, eles não controlam o programa. Ao contrário, o programa é que controla os usuários, e o proprietário controla o programa.O programa passa a ser um instrumento que dá o poder proprietário sobre os usuários. Damos a isso, numa tradução para o português, o nome de "privativo", porque priva seus usuários de sua liberdade. Isso é uma injustiça.O sistema GNU, usado em combinação com o kernel do Linux, torna possível utilizar um computador em liberdade.

Por que o mundo não adota o GNU, uma vez que o sistema já provou ser eficiente e
confiável e não tem os custos de sistemas operacionais proprietários?

Principalmente devido à inércia social, com uma certa dose de injustiça. E o que eu quero dizer com inércia social é o seguinte:amaioria das empresas usa o Windows; a maioria das escolas ensina o Windows. As empresas dizem: "Não queremos mudar para GNU/Linux porque as escolas de pós-graduação são usuárias do Windows", e as escolas dizem:" Não queremos mudar para GNU/Linux porque as empresas querem contratar usuários do Windows”. Se cada um espera que o outro mude primeiro, ninguém nunca vai mudar. Uma vez que existem escolas para uma finalidade social, elas devem ter o dever de quebrar esse impasse. E devem parar de ensinar sobre softwares não livres, de modo a ajudar a sociedade a se mover para a liberdade.

O que diferencia o termo software livre de open source, que para muitos é
a mesma coisa?

Fundeiomovimento do software livre em 1983, ao anunciar o plano para o desenvolvimento doGNU, umsistema operacional de software livre. O objetivo do movimento do software livre é a liberdade para os usuários de informática. Dar a eles software livre para usar é o método. Na década de 1990, havia participantes da comunidade de software livre que usaram, desenvolveram e promoveram o software livre, mas não concordavam com nosso objetivo ético de liberdade dos usuários. Em 1998, eles criaram o termo ‘open source’, a fim de falar basicamente sobre o mesmo software, mas se esquecendo do nível ético da questão. Lutamos para manter a expressão  software livre para ajudar a chamar a atenção desse nível de liberdade que pregamos. Vocês podem saber mais sobre esse tema acessando neste endereço. Vale a pena ver também artigo de Evgeny Morozov sobre o mesmo ponto.

Pela autonomia tecnológica

Fórum reuniu desenvolvedores, pesquisadores, estudantes e pessoas simplesmente defensoras da liberdade digital(foto: EDUARDO SEIDL/INDICEFOTO)
Fórum reuniu desenvolvedores, pesquisadores, estudantes e pessoas simplesmente defensoras da liberdade digital (foto: EDUARDO SEIDL/INDICEFOTO)
O Fórum Internacional Software Livre (FISL) mostrou ser realmente o mais importante evento brasileiro dirigido ao tema por ter o poder de reunir grande número de desenvolvedores, pesquisadores, estudantes e aficcionados em tecnologia. E por propagar
a liberdade de execução, modificação e distribuição de recursos tecnológicos. O encontro,
realizado em Porto Alegre (RS),  ofereceu mais de 600 horas de programação, cerca de 500 palestrantes, representantes de 21 países, 98 caravanas inscritas e um público total de 7.217pessoas.

Buscando a mobilização da sociedade para a liberdade e autonomia tecnológica, o FISL reuniu comunidades de usuários de software livre, profissionais, empresas, estudantes e entidades para participar de discussões, palestras, lançamentos e inovações nacionais e internacionais do mundo do software livre. Encontros acadêmico-científicos, mostra de robótica livre e espaço de negócios também fizeram parte da programação. O uso da internet como catalisador de mobilizações populares, o vazamento de dados secretos que comprovam a violação de privacidade de usuários na rede, sustentabilidade, energia livre e novidades sobre o uso de soluções em código aberto de aplicativos para celulares também estiveram na pauta de discussões. 

O FISL acompanha há mais de uma década todo o processo de desenvolvimento e  crescimento do software livre no mundo e, particularmente, no Brasil. O surgimento do evento foi motivado pela convicção de seus criadores de que a luta pela  liberdade e pela autonomia tecnológica do país passaria necessariamente pelo software livre e pelos ideais construídos, inicialmente por Richard Stallman e, posteriormente, pela comunidade de hackers e desenvolvedores do sistema operacional GNU/Linux e demais aplicativos em software livre criados no mundo.



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