Seu José da Silva planta bananas no pequeno terreno de casa. Por cada quilo do produto ganha apenas R$ 0,55. Mas ele poderia ser muito mais bem remunerado pela produção. Aliando tecnologia, consciência social e empreendedorismo, o projeto Treebos (treebos.com) pode eliminar intermediários nesse processo e fazer com que o produtor ganhe até 60% mais que o valor hoje oferecido no mercado. A ideia é simples: você contrata pela internet um plano de assinatura de um kit de frutas, que é recebido no seu trabalho a cada 10 dias. Todo os alimentos vêm diretamente do pequeno produtor rural. Ele é pago em insumos para melhorar a produção, como sementes de hortaliças e reforma da estrutura. Além disso, a equipe monitora aspectos como a não utilização de agrotóxicos no cultivo e se as crianças da família estão frequentando a escola.
Segundo o idealizador Murilo Pessanha Ferraz, de 33 anos, a ideia era criar um negócio que gerasse valor para o mundo e não só para um cliente. O sistema de delivery on-line de frutas, na verdade, é só a ponta do iceberg de todo o trabalho planejado por ele. Fundada em 2012, a startup Treebos nasceu sem pretensão de virar negócio. A ideia era colocar em prática o Bosque do Futuro, onde pessoas se juntam para fazer um reflorestamento em um área pré-destinada para isso. Os participantes plantam árvores frutíferas on-line, acompanham o crescimento pela rede e, depois de dois anos, recebem as frutas em casa. Além disso, o excedente é vendido e a receita é destinada ao usuário. Com a Treebos, o empreendedor ajuda as classes B e C, oferecendo um serviço prático que estimula uma alimentação saudável, e a D e E, incrementando sua renda e consequentemente melhorando a sua qualidade de vida.
Formado em medicina, Ferraz pôde fazer um teste do modelo de negócios durante um voluntariado em Roraima em 2011. Nos 11 mil hectares do terreno foram plantadas 1 mil árvores, além de espaço para cultivo de legumes e vegetais e um tanque para o criadouro de peixes. Um engenheiro-agrônomo vinculado ao Sebrae, foi quem o alertou para o fato de que o projeto, além de social, era um negócio. Depois de dar uma palestra na Rio + 20, no ano passado, viu diversas grandes empresas se interessarem pela ideia e darem suporte para o seu desenvolvimento. Na sequência, a empresa participou do Desafio Brasil de startups e do Intel Global Challenge, além de passar pela aceleração da Endeavor. Nesse último, era preciso testar uma das vertentes do produto: a entrega de frutas frescas. Daí surgiu o kit de assinaturas com parceria com pequenos produtores.
Desde o lançamento, em 25 de março, já são 65 empresas cadastradas para receber os kits no Rio de Janeiro e Espírito Santo. No Rio são 200 assinantes. “Toda a ideia sustentável, se tornou financeiramente atraente”, afirma Ferraz. Por enquanto, o plano de assinaturas está fechado para que a empresa possa realizar uma espécie de censo agrícola em busca de novos produtores rurais. O atendimento pode, inclusive, ser estendido a Belo Horizonte porque a demanda já existe. Somando várias cidades, há uma fila de espera de cerca de 200 prédios. Mais cinco bosques serão implantados em breve: um em território capixaba e outros quatro no carioca. A ideia é que, até 2014, eles alcancem o total de 25 pomares. Ferraz planeja levar o projeto para outros países.
COMO FUNCIONA
O usuário entra no site, faz o cadastro e recebe um link para convidar colegas de trabalho a participar. Quando essa comunidade validar o pedido e atingir um número mínimo para a entrega, a Treebos avisa e começa o serviço. Cada kit tem três quilos e é composto de oito bananas, três maçãs, três ameixas, três pêras, três goiabas e dois cachos de uva. São três sacolas por mês, quantidade ideal para o consumo de uma pessoa por 10 dias. A assinatura custa R$ 79,90 por pessoa.