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Estado de Minas

Anti-inflamatório em crianças alivia a febre e afeta os rins

Uso de anti-inflamatórios pode comprometer gravemente a função renal em crianças


postado em 14/02/2013 10:20 / atualizado em 14/02/2013 10:22

Bruna Sensêve

Substâncias aparentemente inocentes e que podem ser compradas na farmácia sem receita, os anti-inflamatórios não esteroides estão praticamente na casa de todos os brasileiros e são administrados sem restrição logo na primeira dorzinha de cabeça. São os medicamentos que têm como princípio ativo o ácido acetilsalicílico, a dipirona, o paracetamol, o ibuprofeno ou o nanoproxeno, comumente utilizados para aliviar a dor e a febre. Pesquisadores americanos, no entanto, fazem o alerta: o uso desses remédios em crianças pode levar à lesão renal aguda.
A conclusão é fruto de um estudo retrospectivo de todos os casos de internação por lesão renal aguda no Hospital Infantil Riley da Escola de Medicina da Universidade de Indiana. Foram 1.015 crianças internadas com o problema entre janeiro de 1999 e junho de 2010. Todos os casos que poderiam ser explicados por outros fatores, como doenças que afetam diretamente a função renal, foram excluídos, sobrando apenas aqueles em que o único fator para a lesão foi a administração de anti-inflamatórios não esteroides. Os 27 pacientes encontrados representam cerca de 3% do total. O número pode parecer pequeno, mas os pesquisadores ressaltam que a lesão grave, nesse caso, foi causada exclusivamente pela administração desses medicamentos.
Autor principal do estudo, Jason Misurac também ressalta que esse número provavelmente está subestimado. Ele chama a atenção para o fato de que muitos pacientes que foram identificados por terem desenvolvido lesão renal aguda multifatorial — e, portanto, não foram incluídos na definição de lesão associada ao anti-inflamatório — foram expostos a essa medicação, condição considerada como um do múltiplos fatores de risco. “Além disso, muitos pacientes na nossa população de doentes excluída desenvolveram a lesão como uma complicação da terapia hospitalar, sem relacionamento com a condição primária ao chegar ao hospital”, constata.
Os anti-inflamatórios não esteroides são conhecidos por afetar a função renal ao restringir o fluxo de sangue para os componente de filtragem dos rins. Os pesquisadores também observaram que, diferentemente do imaginado, as lesões associadas à administração dos anti-inflamatórios não ocorreram em situação de hiperdosagem, mas quando a medicação foi ingerida na dose recomendada. Crianças mais novas, abaixo dos 5 anos de idade, tiveram uma lesão mais severa. Elas necessitaram de diálise temporariamente e eram mais propensas do que as crianças mais velhas a serem colocadas em uma unidade de terapia intensiva, além de necessitarem de maior tempo de internação. O motivo para esse agravamento ainda é desconhecido, mas os cientistas consideram a possibilidade de uma suscetibilidade maior dessas crianças aos efeitos tóxicos renais dos anti-inflamatórios.
Professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista na área de nefrologia pediátrica, Ana Cristina Simões e Silva diz que o principal fator a ser considerado nos resultados finais do estudo é que as lesões causadas pela ingestão dessas substâncias são potencialmente evitáveis. “São substâncias vistas como inócuas, prescritas e usadas indiscriminadamente. Se a pessoa tem em casa, pode tomar a qualquer hora e a qualquer dose. O risco, assim, com certeza aumenta. Mesmo na dosagem correta, é preciso ter um grau de monitoramento”, avalia.
Carlos Rogério Tonussi, professor em farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, não se mostrou surpreso com os danos causados às crianças, já que reconhece os anti-inflamatórios não esteroides como remédios capazes de diminuir a função renal e, em poucos casos, de levar à lesão aguda, principalmente se usados por um período prolongado. Ele explica que, mesmo tecnicamente nessa categoria de medicamentos, a dipirona e o paracetamol devem ser diferenciados por conta da forma de ação. “Eles são atípicos , não funcionam como anti-inflamatórios, mas apenas como analgésicos e antitérmicos”, explica.
Já as outras substâncias — como ibuprofeno, naproxeno, ketoprofeno e ácido acetilsalicílico — são metabolizadas pelos rins. “De todas, o paracetamol é a pior. Essa substância possui uma capacidade de lesão ao fígado muito grande, além da lesão renal”, diz Tonussi. Ele explica que o paracetamol tem efeito acumulativo no organismo, pois a metabolização no fígado produz radicais livres que destroem as células do órgão. “Se eu posso deixar um conselho, seria que todos os anti-inflamatórios devem ser evitados.”


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