Em uma indústria na qual os principais produtos envolvem orçamentos milionários e centenas de pessoas, é um feito programar, desenhar e finalizar um título inteiro por conta própria. O esforço é ainda mais notável quando o resultado tem o esmero de Dust: an elysian tail, produzido pela Humble Hearts—que é nada mais do que o nome jurídico do desenvolvedor norte-americano Dean Dodrill.
Dodrill, que trabalhava como animador, decidiu criar o jogo de plataforma mirando o canal de títulos independentes da Xbox Live. Em 2009, Dust: an elysian tailganhou o prêmio da competição Dream, Build, Play, promovida pela Microsoft, que garantiu, além de US$ 40 mil para desenvolver o game, um contrato de publicação na área nobre da rede do 360: a Live Arcade. O dinheiro e a atenção aumentaram o tamanho do trabalho, que acabou levando três anos e meio para ficar pronto. Mas a espera foi bem recompensada.
O game faz valer o talento de Dodrill como animador e até como desenvolvedor de fases. O herói da história leva o nome do jogo e acorda no meio de uma floresta, sem memórias do passado. Para ajudá-lo a se lembrar, ele recebe a ajuda de dois companheiros: a espada falante Amrah e o pequeno gato voador que vigia a arma, Fidget.
Daí em diante, você deve ajudar os três a explorar o mágico mundo do game. O título é um legítimo representante do gênero Metroidvania: várias telas e caminhos que compõem um mapa unificado, sem interrupções ou mundos centrais, como na série Mario, por exemplo. De campos verdes a modestos vilarejos, passando por cavernas congeladas e outros tipos de paisagem, todos os cenários do game estão conectados entre si—mas fique tranquilo, há diversos pontos para se teleportar de um local longínquo a outro. E, claro, nem tudo está disponível logo no começo.
Em alguns casos, a passagem está bloqueada ou você precisará de uma habilidade para seguir adiante. O importante é que o prazer de desvendar novas aventuras não desaparece em nenhum momento. Apesar do belo visual, é difícil levar o game a sério pelos traços típicos de cartoons e vozes de desenho animado infantil, mas essa impressão acaba assim que você entra em contato com o surpreendente sistema de combate. As animações são muito fluidas e passam com exatidão as sensações de destreza e agilidade que o herói da história tem.
Há duas maneiras de atacar: com a espada de Dust e com pequenos bolsões de energia de Fidget. A sacada do jogo é permitir que as duas habilidades sejam combinadas, criando uma chuva de energia que varre uma quantidade grande de inimigos da tela e aumenta seu contador de combos. O que parece forte demais para ser entregue ao jogador logo nos primeiros 20 minutos de história se transforma em uma habilidade crucial para sobreviver, principalmente da metade da aventura para a frente, quando a tela fica infestada de monstros e faz de qualquer dano um passo para a derrota. O game demora demais para se recuperar dos ataques adversários, criando uma injusta e provável chance de morrer sem sequer reagir.
Experiência A ação é sustentada por um sistema de RPG: cada vitória rende pontos de experiência, que podem ser alocados em atributos específicos do protagonista, como a barra de vida, a força dos ataques, a resistência das defesas ou as magias de Fidget. Um conveniente comerciante que presta homenagem ao mercador de Resident evil 4 também o ajuda no decorrer da história, fornecendo itens e pedindo matérias-primas que tanto servem para melhorar seus equipamentos quanto render uma grana extra.
Mesmo eclipsado pelo senso de exploração e o empolgante combate, o roteiro é interessante. A aura leve (e por alguns momentos boba) é apenas uma casca para várias tiradas e alegorias que fazem parte da liberdade poética de costume dos clássicos da Live Arcade. Aliás, vários personagens de jogos que estrearam nela, como o herói sem pele de Super meat boy, marcam presença no decorrer da trama.
De forma geral, o êxito do game é ser como o subgênero dos jogos de plataforma ao qual ele presta homenagem: ser recheado de mistérios e de nuances a serem desvendados. Há poucas falhas técnicas, mas que não retiram o senso de unidade da aventura, tanto na história quanto na jogabilidade envolvente, passando por um extenso e diversificado estilo de cenários. O título é praticamente o jogo de um homem só, mas é tão completo que parece ter sido feito por muitos.
Dust: an elysian tail
Avaliação
Jogabilidade *****
Entretenimento *****
Gráficos ****
Som ***
Produção:
Microsoft
Desenvolvimento:
Humble Hearts
Plataforma:
Exclusivo para Xbox 360
Número de jogadores:
1 (single-player)
Preço:
1200 Microsoft Points (cerca de R$ 30)
Não recomendado para menores de 10 anos