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Estado de Minas

Quatro tipos de câncer de mama são mapeados

Detalhamento da genética de tumores, com base em características da ocorrência de metástase e reação ao uso de medicações, pode revolucionar o tratamento contra o mal


postado em 25/09/2012 06:00 / atualizado em 25/09/2012 12:41


A rede de cientistas do Atlas Genômico do Câncer, projeto apoiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, acaba de concluir o primeiro mapeamento genético completo do câncer de mama. A análise dos dados coletados identificou quatro principais subtipos da doença, sendo que um deles se mostrou bastante peculiar: tem características moleculares muito próximas às de um tipo grave de câncer de ovário. Os resultados apontam para uma compreensão mais profunda dos mecanismos de ação de cada subtipo do câncer, além de carregarem a promessa de uma revolução no tratamento do tumor maligno que mais acomete as mulheres.

Em artigo publicado domingo, na versão on-line da revista Nature, os pesquisadores detalham a avaliação molecular das amostras de 825 pacientes com câncer de mama. A partir delas, foi possível gerar a caracterização de quatro principais subtipos do mal: o HER2 amplificado, o Luminal A, o Luminal B e o câncer de mama basal.

“É uma classificação que foca principalmente a agressividade do tumor e se ele responde ou não a certas medicações. Por exemplo, o basal é um tipo de câncer que tem comportamento mais agressivo e com um prognóstico pior”, diz Célia Tosello, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC). Ela explica que, se o basal for comparado aos casos de Luminal A, o paciente terá mais chances de metástase em uma víscera, como pulmão e fígado. “Já o Luminal A deve ter uma evolução muito boa e, se um dia tiver uma metástase, ela vai ser tardia e comprometerá os ossos”, esclarece a médica. No caso do câncer de mama HER2 amplificado, o tumor é mais suscetível a se espalhar no cérebro. Já o Luminal B é mais agressivo que o A, mas menos que os outros dois subtipos. A metástase nesse tipo de tumor, no entanto, pode ocorrer em qualquer parte do corpo.

Além das características de agravamento da doença, a sobrevivência no organismo também é um fator essencial para a classificação dos subtipos. Uma possível metástase deve ocorrer logo nos primeiros três anos no tipo basal e em cinco ou oito anos no paciente com Luminal A. O subtipo basal (ou triplo negativo) é mais frequente em mulheres jovens, negras e naquelas com os genes cancerígenos BRCA1 e BRCA2. São exatamente os distúrbios genéticos que acompanham esse grupo da doença que o tornam mais similar ao câncer ovariano seroso. Curiosamente, suas células também seriam parecidas às encontradas no câncer de pulmão.

“A semelhança molecular de um dos subtipos principais de câncer de mama e aquele encontrado no câncer de ovário nos dá um empurrão adicional para comparar tratamentos e resultados. Esse tesouro de informações genéticas terá de ser examinado em detalhes para identificar como podemos usá-lo funcionalmente e clinicamente”, declarou Harold Varmus, um dos autores da pesquisa e cientista do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos.

Perspectivas

Para o oncologista do Instituto Nacional do Câncer José Bines, o estudo mostra um avanço, mas nada na aplicação clínica deverá mudar imediatamente. “Todo mundo verifica, na prática, que o tumor de mama leva a uma série de doenças diferentes com o mesmo nome”, avalia. Com as definições e classificações, o artigo abre perspectivas para o desenvolvimento de determinados tratamentos, “além de uma seleção mais aprimorada da medicação a ser utilizada com cada subtipo da doença”, analisa.

Questionado sobre como a nova classificação pode mudar os tratamentos hoje usados, o oncologista André Murad, coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas da Universidde Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro Avançado de Tratamento Oncológico, em Belo Horizonte, diz que os tratamentos para tumores nas mamas já usam a oncologia molecular, que se baseia no tipo genético e não pela doença em si. “Por exemplo, o Luminal A deve ser tratado com hormonioterapia, porque os receptores hormonais estão presentes; no Luminal B, há presença de receptores hormonais, mas também uma hiperexpressão do gene HER2; por isso, o paciente recebe hormonioterapia mais o medicamento trastuzumab (baseado em anticorpo que combate especificamente células tumorais com hiperpressão HER2)”, explica.

Entre as futuras aplicações clínicas resultantes dos achados está a possível mudança no tratamento do tipo basal do câncer de mama. Como biologicamente ele é mais parecido com o câncer de ovário, pesquisadores deverão testar se as drogas usadas no órgão serão mais efetivas que aquelas indicadas para tratar as mamas. As antraciclinas, por exemplo, normalmente usadas no caso dos seios, poderiam ser imediatamente descartadas por não funcionarem no câncer ovariano.
Por outro lado, os pesquisadores detalham que análises computacionais foram capazes de mostrar que o câncer de mama basal e o de ovário do tipo seroso podem ser suscetíveis a agentes que inibem o crescimento dos vasos sanguíneos. Seriam drogas de quimioterapia, tais como a cisplatina, que cortariam o fornecimento de sangue ao tumor. (Colaborou
Cristiana Andrade)


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