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Estado de Minas

Anel vaginal é usado contra o HIV

Dispositivo similar ao usado para evitar gravidez é preenchido por substância que combate o vírus da Aids. Teste em macacos reduziu infecção


postado em 06/09/2012 14:58

Um plástico flexível com 4mm de espessura e 5,5cm de diâmetro que libera compostos hormonais na mucosa vaginal e previne contra a gravidez. Simples, o anel vaginal pode ganhar importantes atribuições. Novo estudo mostra que esse pequeno dispositivo também pode ser a chave na prevenção contra a transmissão do vírus HIV. Em pesquisa publicada nesta semana na Science Translational Medicine, o anel vaginal foi capaz de proteger macacos de um vírus composto por genes do HIV e do vírus da imunodeficiência símia (SIV). Os pesquisadores acreditam que esse é apenas um pequeno passo em direção a uma estratégia maior de desenvolvimento de um anel vaginal ainda mais poderoso, capaz de proteger mulheres de diversas doenças infecciosas sexualmente transmissíveis (DSTs), como o HPV e o herpes.

Para bloquear a ação do HIV no organismo dos animais, os cientistas do Conselho Populacional de Nova York preencheram os anéis com microbicidas e os aplicaram em macacos. Normalmente usados em forma de gel, os microbicidas são compostos já conhecidos que, se ministrados no interior da vagina ou do reto, conseguem proteger o indivíduo contra diversas DSTs, inclusive o HIV. No entanto, a substância ainda não está disponível no mercado porque a forma de entrega e a toxicidade no organismo humano ainda estão sob investigação. O estudo desenvolvido pelos pesquisadores americanos avança nessa direção como o primeiro a trazer dados da eficácia de entrega de microbicidas em um anel vaginal, o que indica um sucesso potencial no uso desse dispositivo em mulheres.

O microbicida usado pelos pesquisadores é denominado MIV-150 e funciona como um inibidor da transcriptase reversa — consegue impedir que o vírus se multiplique nas células do indivíduo exposto, bloqueando a possível ação infecciosa. “Esse estudo não só fornece a prova de conceito para os anéis, mas também amplia as opções potenciais dos microbicidas, nos dando novos dados sobre a eficácia do antirretroviral MIV-150. Conforme aprendemos aqui, o MIV-150 é altamente eficaz em prevenção da infecção quando lançado a partir de um anel”, informou à imprensa Melissa Robbiani, coautora do estudo e diretora da pesquisa biomédica em HIV do Conselho Populacional.

Os macacos que participaram da pesquisa foram divididos em dois grupos. O primeiro recebeu anéis vaginais carregados de MIV-150 e o outro, anéis com placebo. Em apenas 30 minutos, foi possível detectar elevados níveis da droga nos fluidos vaginais e nos tecidos dos animais. Isso porque o anel libera um fluxo contínuo do composto por um tempo prolongado (veja infografia). A atuação direta do microbicida na mucosa vagina, porta de entrada do vírus, é essencial para a efetividade da substância anti-HIV.

“O vírus quando vai ser transmitido procura uma célula-alvo no indivíduo que normalmente está na célula genital. Quando é colocada uma substância que dificulta a multiplicação desse microorganismo, a infecção não acontece e o corpo elimina sozinho o pouco que foi primeiramente depositado”, explica o infectologista do Hospital Sírio-Libanês Esper Kallás. Os experimentos mostraram que somente dois de 17 macacos com anéis carregados de MIV-150 foram infectados. Se comparados àqueles que receberam anéis de placebo, o resultado representa 83% de proteção contra o vírus. No caso, dos 16 macacos que receberam o anel sem a droga, 11 foram infectados.

Outro fator também chamou a atenção dos cientistas. Quando os anéis foram removidos imediatamente antes da exposição ao vírus, reduziu-se a proteção. Sob essa condição, quatro de sete animais foram infectados, representando 16% de efetividade da droga. “Ficamos surpresos ao perceber que os anéis tinham de permanecer no local durante e após a exposição para serem eficazes. Pensamos que o anel utilizado nesse estudo só precisaria estar presente antes da exposição ao vírus. Nós descobrimos que é essencial permanecer também depois disso”, disse Tom Zydowsky, coautor do estudo, ao Estado de Minas.

Outras DSTs

Segundo Esper Kallás, ter um anel vaginal que possa proporcionar essa entrega de forma efetiva diretamente nas mulheres é extremamente válido também no desenvolvimento de mecanismos para a prevenção de diversas DSTs. Kallás explica que estratégias para a deposição de medicação contra gonorreia, herpes genital e clamídia, por exemplo, também podem se beneficiar da descoberta. “A imaginação é o principal motor da ciência. Temos que imaginar que pode ser possível para proporcionar novos meios de prevenção.”

Por outro lado, o pesquisador de imunologia clínica do Instituto Oswaldo Cruz Cláudio Cirne não acredita que, por si só, o MIV-150 possa também ser eficaz para outros microorganismos. Seria necessário o desenvolvimento de uma combinação de drogas. Ele reforça que, ainda assim, os microbicidas talvez sejam uma das grandes saídas para a prevenção contra o HIV, porém, nessa estratégia, não impedem que os microorganismos entrem no indivíduo.

“A substância bloqueia os primeiros passos de multiplicação do vírus, não impede a entrada dele. Esse pode ser o maior problema desse tipo de pesquisa, já que não consegue atuar de forma 100% eficaz. Algumas pessoas acabam se contaminando. No entanto, qualquer proteção é bastante significativa”, declara. Cirne é responsável por uma pesquisa que desenvolve o primeiro antirretroviral brasileiro que funcionará da mesma forma que o composto usado no estudo americano (veja Saiba mais).

Infectologista do hospital universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alberto Chebabo recomenda que, independentemente do sucesso do novo dispositivo, é importante que pelo menos duas formas de prevenção sejam associadas. O uso do anel não poderia excluir o preservativo, assim como a recomendação médica para o Truvada – primeira pílula de prevenção à infecção por HIV – também deve ser combinada ao uso da camisinha. “Acredito que, no futuro, vamos ter metodologias e estratégias que, combinadas, poderão reduzir os números de transmissão. Dentro de todas essas possibilidades testadas e avaliadas, duas ou três serão utilizadas pelo indivíduo.”

 

 


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