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Estado de Minas

Santuário de Abrolhos está ameaçado


postado em 09/08/2012 07:40 / atualizado em 09/08/2012 07:47

(foto: PAULO SUMIDA/DIVULGAÇÃO)
(foto: PAULO SUMIDA/DIVULGAÇÃO)
 

O arquipélago de Abrolhos, paraíso que atrai visitantes de todo o mundo, conhecido por suas ilhas de águas cristalinas e recifes de corais coloridos, abriga a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul e a maior diversidade de recifes de toda a costa brasileira. Mas não é só isso. Em um grande mergulho no oceano, cientistas brasileiros mapearam a região que vai do Norte do Espírito Santo ao Sul da Bahia, descobrindo que Abrolhos guarda outras preciosidades. A região tem o maior banco de rodolitos do mundo, uma espécie de rocha construída a partir do crescimento de algas calcárias encontradas em águas rasas de 20 metros a 110 metros de profundidade. Ao mesmo tempo o estudo alerta que esses grandes bancos submarinos, abrigo de milhares de organismos, estão ameaçadas por ações predatórias e mudanças climáticas.

Os rodolitos estão no alvo da queima de combustíveis fósseis, que aumenta a acidez do mar; da má conservação das bacias hidrográficas, que afeta a qualidade da água, mas também da exploração econômica do calcário. O grande mapeamento do banco de Abrolhos foi publicado em abril na revista científica americana PloS One. Liderado por pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e de outras cinco universidades brasileiras, contou com o financiamento da Conservação Internacional Brasil e de órgãos como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).

No banco de Abrolhos, os rodolitos ocupam 70% do fundo marinho e os mais antigos têm por volta de 8 mil anos. Sozinhos, eles fornecem 25 milhões de toneladas de calcário ao ano, o que corresponde a 5% da produção mundial do mineral, largamente usado na agricultura e também na indústria de cosméticos e medicina, são abrigo para a vida de uma infinidade de organismos e por fim funcionam como corredores de recifes, para a migração de centenas de peixes e espécies como as lagostas. “Os rodolitos são estruturas aproximadamente esféricas construídas pelo crescimento de algas calcárias. Os bancos diferem dos recifes de coral por construírem um ambiente de estrutura mais baixa e com menos relevo que os recifes coralinos”, explica Paulo Yukio Sumida, pesquisador do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), integrante da equipe responsável pelo estudo. Segundo Sumida, assim como os recifes, os rodolitos fornecem abrigo a uma infinidade de invertebrados. “Eles propiciam a criação de uma maior quantidade de nichos ecológicos onde diferentes espécimes podem coexistir”, diz.

Corais contaminados pela praga branca: pressão sobre o frágil ecossistema(foto: RONALDO BASTOS/DIVULGAÇÃO)
Corais contaminados pela praga branca: pressão sobre o frágil ecossistema (foto: RONALDO BASTOS/DIVULGAÇÃO)

O mapeamento identificou a grande relevância das algas calcárias, apontando que o ecossistema sofre ameaças da sobrepesca, do aumento de sedimentos derivados de atividades de dragagem e do turismo. Outros impactos incluem as mudanças climáticas e pressões para exploração de petróleo e calcário. “Os impactos já podem ser sentidos na forma de doenças nos corais, branqueamento e retirada de espécimes-chave no ecossistema coralino”, aponta Sumida. Segundo os pesquisadores, a ampliação e criação de novas áreas de proteção, a recuperação das margens dos rios e o controle de efluentes são ações urgentes para preservar o ecossistema.

Os bancos de rodolitos são encontrados também no Espírito Santo. Essas algas calcárias são também elementos importantes das comunidades bentônicas (do fundo do mar) da plataforma continental do Nordeste brasileiro. Além do Brasil, os rodolitos podem ser encontrados no México e na Austrália. Eles são importantes para a vida de outros organismos por servir de abrigo e proporcionar um ambiente mais rico biologicamente do que um fundo de areia.

Segundo Gilberto Amado Filho, biólogo do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, coautor do mapeamento, as estruturas funcionam como corredores entre recifes de corais, facilitando a migração de lagostas e peixes. O pesquisador explica que além do ponto de vista ambiental, os rodolitos ajudam a retirar carbono da atmosfera, influenciando na regulação do clima do planeta. Eles absorvem o gás carbônico diluído na água e o transformam em calcário, o que tem atraído a atenção da indústria em busca do valioso mineral.

A exploração direta de calcário para uso na produção de cimento e cal, na agricultura, para a correção do pH do solo, e na indústria metalúrgica e produção de vidro ameaçam o ecossistema marinho. Outra ameaça é o aumento da concentração do dióxido de carbono (CO²) na atmosfera. O crescimento dessas concentrações de CO² causando a diminuição do pH do mar é um fenômeno chamado acidificação dos oceanos.


“Esse processo afeta principalmente os organismos marinhos que depositam carbonato de cálcio em suas estruturas corpóreas (que são muitos), em especial corais, moluscos e algas calcárias. O pH mais baixo (em relação ao existente atualmente) provoca a corrosão destas estruturas, podendo levá-las à morte”, explica Paulo Sumida. Durante o estudo, os pesquisadores fizeram mapeamento por sonar e usaram dois robôs submarinos para avaliar a distribuição, extensão, composição e estrutura do banco de Abrolhos.

 


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