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Estado de Minas

Café faz bem a quem tem Parkinson

Consumo diário de 400mg da substância pode amenizar sintomas da doença degenerativa. Cientistas, porém, afirmam ainda ser cedo para garantir que estimulante é bom para todos que sofrem do mal


postado em 03/08/2012 07:49 / atualizado em 03/08/2012 08:04

Pesquisadores canadenses divulgaram uma boa notícia para quem não começa o dia sem uma xícara de café: a bebida estimulante pode ser uma ajuda saborosa aos que sofrem do mal de Parkinson. O experimento mostra pela primeira vez como a ingestão de cafeína pode trazer benefícios reais para quem apresenta sintomas da doença. O estudo, publicado quarta-feira na revista especializada Neurology, mostrou que o consumo diário de 400mg de cafeína trouxe uma melhora para a coordenação motora de 31 pacientes. A dose é equivalente a três xícaras de café.

A relação entre a cafeína e a doença já foi tema de estudos dezenas de vezes. Os experimentos indicavam, por exemplo, que o consumo da substância poderia diminuir em cinco vezes as chances de se desenvolver a doença, ou atrasar em até oito anos os primeiros sintomas. “Já havia outros estudos epidemiológicos. Teve um em junho que foi feito com mais de 300 mil pessoas e que mostrou que as pessoas que ingeriam altas quantidades de cafeína tinham menor risco de ter Parkinson. Era um fator de proteção”, exemplifica Carlos Rieder, da Academia Brasileira de Neurologia.

O que os neurologistas da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, fizeram foi verificar na prática quais os efeitos da substância em pacientes que já sofriam da doença. A intenção inicial da equipe era conferir se a bebida resolveria o problema da sonolência excessiva, um dos sintomas mais comuns. “O Parkinson tem sintomas motores, como a lentidão e a rigidez, mas também tem outros problemas, como a depressão e a sonolência. Os pacientes não dormem o dia todo, mas há casos mais severos, em que eles dão cochilos enquanto estão conversando com alguém”, descreve Rieder.

Os cientistas selecionaram um grupo de 61 pessoas diagnosticadas com a doença neurológica e o dividiram em dois. Enquanto metade deles receberia duas doses de 100mg de cafeína todos os dias, a outra seria tratada apenas com placebo.

Depois de três semanas, eles aumentaram as doses de cafeína para 200mg cada. Ao término das seis semanas do experimento, foi observada melhora considerável nos movimentos dos voluntários que tomaram a substância. Os pacientes subiram cinco pontos na escala que mede a gravidade do Parkinson sobre a coordenação motora. Já os voluntários que tomaram placebo não apresentaram alterações.

A ingestão de cafeína não corrigiu o sintoma da sonolência nos pacientes, mas os canadenses notaram que a substância melhorou o efeito do tratamento com a levodopa, um remédio que estimula a produção de dopamina.

O desfecho secundário amenizou a rigidez muscular dos voluntários, um dos sinais mais graves da doença. “Esse foi um efeito modesto, o suficiente para alguns pacientes se sentirem melhor, mas não todos”, descreve Ronald Postuma, principal autor da pesquisa. O grupo que tomou o café mostrou também uma melhora de três pontos na avaliação que mede a velocidade e a liberdade de movimentos dos pacientes. “Certamente, o uso não parece ser prejudicial, mas não sabemos, no entanto, se o efeito persiste. Então é muito cedo para recomendar aos pacientes que tomem cafeína”, ressaltou o pesquisador em neurociência.

Efeito incerto
Ainda não se sabe ao certo a relação direta da cafeína com o mal de Parkinson. Ao longo dos anos, pesquisadores levantaram a hipótese de que o psicoestimulante bloqueia os receptores de adenosina no cérebro, amenizando a deficiência de dopamina de que sofrem os pacientes.


Mesmo sem provas consistentes do processo, alguns médicos já orientam seus clientes a consumir a bebida diariamente. “É muito comum mesmo. Eu já recomendei, mas nem todos têm melhoras. Na minha observação pessoal, não vi muita diferença. Tem muito do efeito placebo também, a pessoa acredita e acaba acontecendo”, pondera o neurologista Hudson Mourão.

Se o efeito é perceptível ou mesmo real, ainda não é possível provar. A única certeza é de que antes de apostar na combinação de uma xícara de café com os remédios o paciente de Parkinson deve consultar um médico.

“É sabido que o café melhora o desemprenho motor, mas a cafeína também pode piorar alguns sintomas do Parkinson, como o tremor, a ansiedade e a insônia. Não tem problema ter o café como parte da alimentação, mas se a pessoa encara como medicação e começa a abusar, começa a ser perigoso”, alerta Mourão. De acordo com os autores do trabalho, a dose máxima recomendada de cafeína é de 600mg por dia.

Antioxidantes se mostram promissores
Uma pesquisa feita por cientistas da Escola Médica de Georgia, instituição da Georgia Health Sciences, descobriu uma classe de antioxidantes que conseguiu bloquear a falta de produção de dopamina, efeito comum no mal de Parkinson e que está ligado aos principais sintomas da doença. Bobby Thomas, principal autor do estudo, publicado no periódico científico Antioxidants & Redox Signalling, avalia que esse grupo de antioxidantes, chamados de triterpenoides sintéticos, é capaz de bloquear a doença em ratos, ao manter a produção da proteína. “Em pacientes com Parkinson, pode-se ver uma sobrecarga do estresse oxidativo, e é por isso que escolhemos esse alvo terapêutico”, explica Thomas.

Os cientistas testaram diferentes drogas para ativar seletivamente o Nrf2, principal regulador do estresse oxidativo e da inflamação, e identificaram que os triterpenoides sintéticos eram os mais eficazes. Para que esses agentes permeassem a barreira de proteção entre o sangue e o cérebro, Michael Sporn, coautor do estudo, modificou quimicamente a proteína.

No estudo foram usados ratos nos quais os sintomas da doença foram provocados por uma neurotoxina chamada MPTP. Testes e tratamentos em humanos usando essa abordagem devem demorar. Como um próximo passo, os pesquisadores observam o impacto de triterpenoides sintéticos em um animal geneticamente modificado para adquirir a doença de uma forma mais lenta, como ocorre em humanos.

Limpeza

O neurologista Hudson Mesquita explica que o estresse oxidativo ocorre em toda doença degenerativa, incluindo o mal de Alzheimer, que aumenta a produção de radicais livres: “No processo da morte neuronal, os radicais livres participam matando células. Existem substâncias que ajudam a fazer essa limpeza de radicais livres, para, assim, diminuir a morte de neurônios.” Há substâncias, já conhecidas, que impedem a atuação desses radicais livres, como a vitamina E, a coenzima Q10 e a selegilina.

Robson Vital, neurologista, opina que as pesquisas com antioxidantes são válidas, pois, teoricamente podem render novos conhecimentos e acrescentar novos fatores ao entendimento da doença, “mas estão ainda distantes da prática clínica, já que necessitam ainda ser replicáveis e depois passarem para experimentos com humanos e os resultados podem não ser os mesmos”.

“As substâncias ditas oxidantes, que levam secundariamente a processo inflamatório nas células e por conseguinte a alteração no seu metabolismo, levando à morte celular, podem ser combatidas com os antioxidantes (encontrados em alimentos ou sintetizados)”, explica Marco Aurélio Macedo, neurologista do laboratório Exame. “A utilização de antioxidantes, não apenas no mal de Parkinson, como também em outras patologias degenerativas, tem sua indicação ao menos como protetores celulares, dificultando, diminuindo ou até mesmo impedindo a degeneração e morte celular”, completa.

 


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