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Estado de Minas

Pesquisador Scott Cleland lança no Brasil livro que põe o dedo no Google

O lado B do Google -


postado em 26/07/2012 10:42 / atualizado em 26/07/2012 13:18

(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)

 

Poucas empresas no setor de tecnologia são tão benquistas quanto o Google, tanto por seus serviços –, buscas, navegadores, sistemas para celular, entre outros – quanto pela posição da empresa, conhecida por seu slogan: “não seja mau”. Entretanto, a gigante tem seus críticos, e poucos são tão contundentes quanto o norte-americano Scott Cleland, especialista antitruste que já testemunhou três vezes no Congresso norte-americano sobre privacidade e práticas anticoncorrenciais na internet.  Nascido em Michigan e defensor de direitos de privacidade e propriedade, Cleland visitou o Brasil – e Brasília – pela primeira vez, no início do mês, como parte do lançamento de seu livro Busque e destrua – por que você não pode confiar no Google Inc. (Matrix Editora, 348 páginas), em que ele destaca práticas da gigante de buscas que afetam a privacidade de usuários, desrespeitam leis e governos – e como eles conseguem esconder isso do público.

Existem várias empresas envolvidas em questões antiéticas no setor de tecnologia. Por que o senhor prioriza o Google?

Há algumas razões. A primeira: o Google é único. Não há outra empresa com a missão de organizar toda a informação do mundo e torná-la acessível e útil. Não dá para ser mais ambicioso do que isso. Essa missão os coloca em tudo: o monopólio da Microsoft, por exemplo, foi apenas em softwares para PC. Isso não afetou a Apple ou a Oracle. O Google permite que eles estejam em qualquer mercado que seja on-line – e eles estão. A outra razão é: me pediram para testemunhar no Senado norte-americano, na época em que o Google queria comprar a DoubleClick (a transação foi concluída em 2007, por US$ 3 bilhões). Essa era a única empresa no mundo que tinha o mesmo alcance em publicidade on-line que o Google. Quando me opus à aquisição, eu era o único analista que via um problema nisso. Eu os avisei: se a compra fosse concluída, o governo daria a eles um monopólio. Juntas, as duas teriam uma fatia de mercado maior que a de todos os concorrentes. No mundo dos negócios, o mais difícil é conseguir clientes. Você não sabe como é difícil: é preciso cortejá-los, negociar. O Google simplesmente os comprou.

Qual a diferença entre o Google e as outras empresas?


Quando testemunhei, eles me perguntaram sobre outras empresas, como Microsoft, Yahoo! e Facebook. O Bing, serviço de buscas da MS, é só parte do negócio deles. A pesquisa também nunca foi o principal negócio do Yahoo! – eles saíram, voltaram e se tornaram uma empresa de mídia. Naquela época, o Facebook nem era tão conhecido. O Google prevaleceu sobre todos os concorrentes quando descobriu que a publicidade em buscas e em anúncios era o mesmo negócio. São os mesmos usuários, os mesmos clientes e o mesmo conteúdo. Quando aprovaram a compra, sabia que o Google seria um grande problema. Nunca tivemos um monopólio que fosse global e em todos os mercados. Eu sabia das ambições deles, e sabia que eles eram antiéticos. Conhecia o modo como eles se comportavam havia cinco, seis anos e que eles continuariam assim.



A atitude da empresa motivou o senhor a escrever o livro?

Sim. O livro é parte de quatro anos de pesquisa. Eu era uma das poucas pessoas que sabiam que isso era um problema e estava vendo-o se desenvolver. Eu sabia que ninguém escreveria esse livro e assim descobri que tinha algo único a oferecer. Claro, já havia lido todos os livros escritos sobre o Google, e eles são excelentes, mas em todos os autores cooperaram com a empresa e contaram a história deles. Não estou tentando diminuir o que o Google conseguiu, mas sim colocar isso em perspectiva com todo o contexto. Um bom exemplo é o caso do Google Livros. Quando foram acusados de roubar vários livros, eles alegaram que estavam criando uma biblioteca global. É assim que o Google pensa: eles acham que suas boas ações são uma licença para fazer o que querem.

Qual a visão pessoal do senhor em relação ao Google?

Acredito em privacidade e em direitos de propriedade. O Google não. Meu ponto de vista é: se você não tiver segurança e privacidade on-line, alguém pode ser seu dono. Eu discordo do Google. Acho que o que eles fazem é errado.


Por que o senhor acha que o Google tenta esconder tanto esse outro lado da empresa?

Eles sabem que a maioria das pessoas acha que a privacidade é importante, propriedade é importante, mas também não há ninguém melhor do que eles em relações públicas. Quem acompanha o setor de tecnologia sabe que o Google anuncia seus produtos muito antes de eles chegarem ao mercado, com grande alarde, e todo mundo cobre, porque é uma empresa legal e inovadora. Eles vieram do nada para se tornar a marca número um do mundo em 11 anos sem gastar um centavo em publicidade, e isso é incrível. E eles sabiam o que estavam fazendo. Eles queriam que todos confiassem neles. Tudo que peço a eles é que sejam honestos e tão éticos quanto dizem para o mundo.

Como as práticas do Google são vistas pela Justiça norte-americana?
Eles estão começando a ter uma visão clara sobre isso. No último ano e meio, muitas coisas aconteceram, principalmente em 2011, quando houve um acordo judicial em que o Google foi obrigado a pagar US$ 500 milhões, porque eles estavam promovendo propaganda de drogas ilegais nos Estados Unidos, como esteroides e analgésicos proibidos. O governo norte-americano armou um esquema em que uma pessoa fez um site que vendia esses produtos e o Google os ajudou com informações sobre como burlar as regras. Esse vendedor tinha uma escuta, e os agentes ouviram tudo. Além disso, eles descobriram que Larry Page sabia disso.


Como o Google trata seus usuários?
O Google diz que somos consumidores, mas a verdade é que os usuários são o produto que eles vendem como propaganda. Isso não é um problema, se o Google disser que esse é o negócio deles. Por que me preocupo tanto com a mentira e a enganação? Se o usuário acha que pode confiar na empresa, ele baixa a guarda. A primeira linha de defesa, para nos proteger do perigo, é ter um ceticismo saudável. O Google diz para não nos preocuparmos, que eles não farão nada para nos causar mal – mas eles têm feito.

Qual a visão do senhor sobre o Facebook? A rede não tem feito o mesmo que o Google?
Sim e não. O Facebook tem grandes problemas de privacidade, mas sua missão é diferente. Eles querem conectar o mundo, serem sociais. Isso é apenas um pedaço da torta. O Google quer a torta inteira. Apesar de seus problemas com privacidade, o Facebook não rouba propriedade intelectual. Não os estou defendendo, mas acho que em cinco anos eles serão como o Yahoo! ou o MySpace. Não como o próximo Google. Quando observo os dois, vejo que o Google é um jato e o Facebook é um avião com hélice. Ele é bom, fará sucesso, mas não há comparação.

E o Google+? É uma ameaça ao Facebook?
Todo mundo diz que o Google+ é uma cidade fantasma, mas 250 milhões de pessoas o usam atualmente. O Facebook levou cinco anos para chegar a esse número, talvez mais. O Facebook não é uma ameaça ao Google, e sim o contrário. Eles não competem diretamente, mas o Google pegou seus cerca de 500 produtos e serviços e os integrou a um único perfil social. O efeito de rede (a tendência de um produto de alta tecnologia aumentar seu valor à medida que ele é mais utilizado) do Google é muito maior que o do Facebook.

Como o senhor vê o futuro se o Google continuar a não obedecer às leis?
É um futuro muito ruim. O que engenheiros fazem? Programar. Um programa é um plano. Quando você é engenheiro, sabe qual será o resultado dos algoritmos e das equações, com um propósito em mente. Há um plano, um objetivo. Ao escrever o capítulo do livro sobre recomendações e previsões, vi que o Google tem um plano e toda vez que eles fazem isso têm um propósito em mente. Além disso, ninguém nunca coletou toda a informação do mundo em um lugar só. A mensagem do livro é: nós conhecemos a natureza humana. Poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente – é uma frase famosa de (barão inglês) Lord Acton. Sabemos que a natureza humana não pode ser confiada se você tem poder demais. O Google monopolizou o mundo virtual e não tende a reconhecer fronteiras virtuais. Isso é um problema.

Isso se traduziria, por exemplo, na posição do Google em não bloquear sites e resultados de buscas a pedido do governo chinês?
Não vou defender a China, mas quando o Google se colocou contra o governo chinês, o que eles queriam é que todos olhassem para a empresa e vissem: “Nós estamos nos colocando contra a China, somos ótimos”. Mas a empresa não diz que foi hackeada fortemente pelos chineses. Eles se recusaram a bloquear as buscas, porque o governo chinês entrou no sistema deles e roubou todas as senhas. O Google disse a parte boa, mas não a parte ruim – que os hackers chineses entraram no Google.

O senhor usa algum produto do Google?
Eu uso Bing (ferramenta de buscas da Microsoft) na maior parte do tempo. Se não consigo achar, e não ligo para que o Google saiba, eu uso a busca do Google. Sei que tipo de informação eu estou disposto a dar a eles. Mas acho que produtos como o Chrome são um erro. Tudo que passa por lá é “fotografado” pelo Google. Eles veem tudo. Tudo que você faz no Chrome é visto por eles. E, como é o mais rápido, é o mais usado. Além disso, o Google paga a Mozilla (dona do Firefox) cerca de US$ 900 milhões para que eles coloquem o Google como opção padrão de busca. Quando você junta os dois, você tem mais de 50% do mercado.

Como o Google é visto no Vale do Silício?
O Google é faminto por atenção. Eles são como a Paris Hilton do mundo da tecnologia. Eles também coletam inimigos. Steve Jobs era o mentor de Larry Page e Sergey Brin. Antes de o Google contratar Eric Schmidt como CEO, eles queriam Jobs. Ele recusou o convite, deu um tapinha nas costas de ambos e os colocou sob sua proteção. O Google mordeu a mão que os alimentou.


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