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Estado de Minas

Técnica corrige mutação causadora da doença de Huntington

Experimento feito com células-tronco consertou a alteração no DNA que provoca o mal neurodegenerativo


postado em 24/07/2012 09:06 / atualizado em 24/07/2012 09:55

 

Cientistas norte-americanos conseguiram corrigir a mutação genética que causa a doença de Huntington em um experimento que envolveu células-tronco retiradas de um paciente. Por meio de manipulação genética, eles foram capazes de remover do DNA a sequência responsável pela degeneração dos neurônios e substituí-la por outra. Caso o experimento, realizado em um organismo de laboratório, tenha a mesma resposta positiva em um animal ou em um humano, ele pode apontar novos caminhos para tratar o distúrbio neurodegenerativo, até então sem cura.


A pesquisa, publicada no site da revista especializada em células-tronco Cell stem cell, foi realizada por cientistas do Instituto Buck de Pesquisas sobre Envelhecimento, nos Estados Unidos. Os cientistas retiraram um pedaço de pele de um paciente que sofre da doença de Huntington e a submeteram a um processo que a transformou em células-tronco pluripotente induzida (iPSC, na sigla em inglês). Essa célula, embora originada em um organismo adulto, poderia se transformar em diversos outros tipos de organismos, assim como as células-tronco embrionárias.


O código genético dessas células foi retirado e submetido a um processo chamado recombinação homóloga. O objetivo era eliminar a repetição da sequência CAG. Quando esse trinucleotídeo se repete mais de 36 vezes em um código genético, ele produz uma versão ruim da proteína huntinina, que causa a degeneração dos neurônios, afetando a coordenação motora e o raciocínio. Reconstruindo o DNA, foi possível trocar essa sequência por outra e colocá-la dentro da célula. “Corrigimos o fenotipo das células. Isso foi surpreendente porque não tínhamos certeza se esse processo era reversível. Depois que ele estava na célula, selecionamos somente as que tinham a repetição normal do CAG e que não tinham mais a mutação do gene”, explicou Lisa Ellerby, responsável pela pesquisa.


Por enquanto, a técnica foi testada apenas em um modelo originado em ratos de laboratório. A equipe espera poder testar a hipótese em cobaias doentes para conferir se a criação de células geneticamente modificadas pode ao menos amenizar os sintomas da doença. “Esperamos que esse seja um tratamento que diminua os sintomas causados pela perda de neurônios. Com as células sem mutação funcionando normalmente, elas podem ajudar a compensar a disfunção das células doentes”, estima a pesquisadora.

Esperança

Células-tronco são a grande esperança na busca pela cura de doenças neurodegenerativas, como o Huntington, o Alzheimer e o Parkinson. O valor dado a essas matérias vivas versáteis é grande porque espera-se que elas sejam capazes de repor os neurônios perdidos durante o desenvolvimento desses distúrbios. “A tecnologia das iPSC pode ser usada para qualquer doença. Basta saber qual a mutação que tem de ser corrigida. Mas ainda é difícil saber quais tipos de células usar para o transplante. O cérebro também costuma estar muito afetado, o que pode requerer uma cirurgia. Mas há uma grande promessa nessa área”, resume a neurocientista Leslie Thompson, da Universidade da Califórnia.


Desde que a mutação que causa a doença de Huntington foi descoberta, em 1993, o distúrbio tornou-se muito mais claro para os cientistas.

Diversos caminhos foram sugeridos para a cura: alguns procurando amenizar os sintomas, outros com o objetivo de desacelerar o desenvolvimento da doença e outros, ainda, que tentam curar o distúrbio antes mesmo de ele se manifestar. “Já descobriram que é possível parar a produção da proteína em um rato, mesmo depois que ele já havia apresentado sintomas. Acho que os cientistas estão muito perto de uma cura”, avalia Thompson. “Mas essa pesquisa é a primeira a mostrar a correção dessa mutação em uma célula-tronco humana.”

No entanto, a neurologista Mônica Haddad, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, alerta que o sucesso do experimento norte-americano é apenas o início de uma série de pesquisas necessárias para a transferência do tratamento dos laboratórios para os hospitais.


“O fato de conseguirem fazer isso em um modelo animal mostra que é uma premissa verdadeira. Mas temos de lembrar que seres humanos são diferentes dos modelos animais, e que há custos e benefícios, como tumores a longo prazo e a vulnerabilidade. É impossível a gente prever. O desafio é fazer com que todas as células produzam a huntinina normal. Por isso é tão difícil”, destaca a médica.

Devastadora

A corrida por um tratamento eficiente é fundamental para os portadores da mutação genética hereditária que causa o Huntington. Depois que os sintomas da doença começam a se manifestar, a expectativa de vida do paciente cai para 20 anos, alguns dos quais passados em estado de invalidez e demência. Os primeiros sinais, geralmente a depressão e dificuldade de raciocínio, costumam aparecer entre os 35 anos e os 50 anos. Mesmo se a doença for descoberta precocemente por meio de um exame genético, a única opção dos portadores do distúrbio é esperar pelos sinais para tomar remédios paliativos.

Os pacientes se medicam para controlar a coreia, como são chamados os movimentos involuntários causados pelo Huntington. Para os danos cognitivos, no entanto, não há tratamento. “Os remédios de hoje melhoram a qualidade de vida, mas não impedem que a doença progrida. E a quantidade de medicamentos só vai aumentando”, esclarece Mônica Haddad.

“O paciente vai tendo disfunção motora progressiva, falta de equilíbrio, dificuldade para falar, andar e engolir. E, como toda doença neurodegenerativa, o mal evolui para uma completa incapacidade de viver sem a ajuda do outro”, enumera a especialista.

 

 


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