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Estado de Minas

Software identifica se uma pessoa fala a verdade pela análise do movimento ocular


postado em 20/06/2012 17:44 / atualizado em 20/06/2012 17:55

Clique e veja o que significa o movimento dos olhos de um indivíduo destro(foto: Arte D.A Press)
Clique e veja o que significa o movimento dos olhos de um indivíduo destro (foto: Arte D.A Press)
 

Com uma varinha mágica, a Fada Azul conseguiu realizar o sonho de muita gente: detectar uma mentira. Bastava o boneco Pinóquio escorregar em sua promessa de dizer apenas a verdade para que o nariz, feito de pinho, crescesse a ponto de abrigar um ninho de pássaros. Na vida real, ninguém conseguiu, até hoje, repetir o feito da personagem de Carlo Collodi. Uma equipe de cientistas da Universidade de Buffalo, em Nova York, porém, chegou perto disso. No lugar da varinha, entra um sistema de computador, capaz de identificar, não no nariz, mas nos olhos, o sinal da falsidade.

A inspiração dos pesquisadores veio de uma série de televisão americana, Lie to me. No programa, dois personagens caçam mentirosos a partir da análise de expressões faciais e corporais tão sutis que poderiam, facilmente, passar despercebidas por quem não é especialista no assunto. O enredo, por sua vez, é baseado na experiência real de Paul Ekman, psicólogo que investiga, desde a década de 1950, as emoções não verbais. Considerado um pop star, ele roda o país fazendo palestras sobre o assunto.

“A verdade está toda escrita em nossos rostos”, diz o lema de Lie to me. A equipe da Universidade de Buffalo concentrou-se em uma das partes da face consideradas mais expressivas por quem entende do assunto. “Para a análise facial, Ekman recomenda fixar nos olhos e na metade superior da face para detectar mentiras. Nós, porém, estamos mais acostumados a observar a metade inferior, provavelmente porque esse é o lugar onde está a nossa boca, e é de onde vem nossa fala”, observa Ifeoma Nwogu, professora assistente do Centro de Biométrica Unificada e Sensores da instituição de ensino.

Por meio do movimento dos olhos, o novo software conseguiu, com 82,5% de acertos, dizer quem mentia e quem falava a verdade. “É uma taxa de acuidade maior que a obtida durante interrogatórios policiais e judiciais. Pesquisas mostram que nesses casos o índice fica, em média, perto de 65%”, diz Nwogu, que ajudou a desenhar o sistema.

O detector foi moldado para identificar os padrões do movimento ocular em situações diferentes: quando a pessoa está conversando naturalmente e quando responde a uma pergunta de forma mentirosa. “Pessoas cujo padrão de movimento mudou entre o primeiro e o segundo cenário foram consideradas mentirosas. Já as que foram coerentes diziam a verdade”, conta Venu Govindaraju, cientista que participou do desenvolvimento da tecnologia.

Experimento

Os testes começaram com 132 voluntários que tinham uma característica em comum: identificavam-se firmemente com um partido político, uma facção ou uma causa específica. Os cientistas disseram que o experimento estava relacionado a fraudes e decepções e informaram que haviam assinado um cheque destinado ao grupo cuja ideologia era oposta à de cada participante. Assim, um democrata ferrenho acreditava que havia uma quantidade de dinheiro esperando pelo participante republicano, e uma pessoa contra o aborto ficava sabendo que o voluntário favorável à interrupção da gestação receberia a soma, por exemplo. Os cientistas, porém, ofereceram uma opção para que as pessoas de opiniões completamente opostas não fossem recompensadas: o indivíduo poderia roubar o cheque, se quisesse. Depois, eles tinham de dizer se tinham sumido com o dinheiro.

Os voluntários foram informados de que seriam interrogados por agentes federais aposentados, que tentariam descobrir se eles mentiram sobre o roubo dos cheques. Durante os interrogatórios, os participantes tinham de responder a dois tipos de questão: perguntas que não tinham nada a ver com o cheque e aquelas relacionadas ao dinheiro. Por fim, eles respondiam um questionário escrito, em que eram obrigados a dizer a verdade. Dessa forma, os cientistas ficavam sabendo quem mentiu.

Cada entrevista gravada em vídeo foi analisada pelos pesquisadores, que se debruçaram sobre o movimento dos olhos dos participantes durante os interrogatórios. Com técnicas de raios X, eles marcavam a região da pupila, para destacar o padrão de deslocamento quando os indivíduos falavam a verdade ou mentiam. Quadro a quadro, as informações foram sintetizadas e enviadas ao sistema detector de mentiras. Foi a hora de o software ser testado. Os cientistas inseriram 40 dos 132 interrogatórios no sistema para verificar se o computador conseguia captar os sinais relacionados a uma afirmação falsa. “Ele passou no teste, e como passou”, anima-se Ifeoma Nwogu.

Com mais de 80% dos mentirosos detectados, o software mostrou que máquinas são capazes de aprender, com humanos, a encontrar fraudes. “A amostra foi pequena, mas os resultados, muito empolgantes”, concorda Venu Govindaraju. “Como toda tecnologia, porém, essa não é infalível. Alguns mentirosos foram tão convincentes que nem os policiais nem a máquina conseguiram identificar desvios no padrão de movimento ocular”, alerta.

Instrumento auxiliar

Agente federal por 26 anos, o delegado aposentado Mark McClish é autor do livro I know you are lying (Eu sei que você está mentindo, sem edição no Brasil) e, como Paul Ekman, um badalado conferencista que gosta de mostrar às plateias como se detecta um fraudador. Ele desenvolveu uma técnica na qual o investigador é capaz, mesmo a distância, de dizer se alguém está mentindo ou dizendo a verdade, algo que pode ser usado, por exemplo, para rever casos já arquivados.

“A fraude está não apenas no que as pessoas dizem, mas naquilo que elas evitam falar”, ensina McClish. “Acredito que quanto mais tecnologias desenvolvermos, mais próximos estaremos de detectar mentiras sem que, necessariamente, a pessoa o confesse. Nada, porém, substitui uma boa investigação. Nenhuma máquina ou análise de linguagem vai desempenhar o papel de agentes comprometidos com a verdade. Esses são apenas instrumentos que podem nos ajudar.”

 


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