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Estado de Minas

Consumo de refrigerante pode aumentar problemas do coração

Pesquisa relaciona o consumo diário de refrigerantes diet e light ao aumento do risco de problemas vasculares. Os adoçantes usados nessas bebidas também podem estar vinculados à obesidade e à hipertensão


postado em 24/04/2012 10:39

Há muito tempo o sal tem sido associado, por meio de pesquisas, ao desenvolvimento da hipertensão arterial em adultos. Um dos principais estudos a analisar esse fato, o clássico Intersalt, de 1988, estimou a relação entre a excreção urinária de 24 horas de eletrólitos – termo científico utilizado para definir os sais, principalmente os íons – e a pressão arterial de 10.079 homens e mulheres entre 20 e 59 anos e moradores de 52 locais espalhados pelo mundo. À época, chegou-se à conclusão de que populações isoladas e ingestoras de pouco sal tinham ausência de aumento da pressão arterial, que está associada a falhas do coração e a aneurismas nos vasos sanguíneos.

Um estudo publicado, no mês passado, no periódico médico Journal of General Internal Medicine reafirmou essa tese e a trouxe para os dias atuais. A pesquisa mostra que o consumo de refrigerantes diet e light, que têm o nível de sódio elevado se comparado às bebidas padrão, pode ter uma associação com o aumento do risco de problemas vasculares. O artigo também ressalta a relação entre os adoçantes sintéticos presentes nesse tipo de bebida e a obesidade, a sensibilidade à insulina e a hipertensão.

Os pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Miami e do Centro Médico da Universidade de Columbia examinaram os hábitos alimentares de 2.564 pessoas e avaliaram a incidência de derrame, os fatores de riscos da doença e o prognóstico em uma população urbana multiétnica. Os participantes que ingeriam refrigerantes diet ou light todos os dias eram em média 44% mais propícios a sofrer um ataque cardíaco ou derrame do que aqueles que não consumiam a bebida com tanta regularidade.

Os doutores ainda não têm provas biológicas e químicas para explicar a relação da bebida com os problemas de saúde. Mas sugerem que os consumidores mais vorazes de refrigerante diet ou light costumam não fazer exercícios físicos, são mais gordos, tomam mais bebidas alcoólicas ou têm outros fatores de risco, como pressão alta. “É normal ter dúvidas, já que nosso estudo é preliminar. Porém, essas bebidas podem não ser os melhores substitutos para os refrigerantes açucarados”, argumenta Hannah Gardner, principal autora do artigo.

Para Hannah, uma das forças do estudo está na prospectiva do método ao usar a população multiétnica, vinculada ao acompanhamento trimestral dos participantes. “Apesar do uso de um questionário válido e confiável para calcular a ingestão dos refrigerantes, precisamos em outra pesquisa avaliar outros fatores, como os hábitos dos consumidores” pondera ela, ressaltando que “é possível que as variantes das marcas das bebidas, o tipo de adoçante sintético usado e até mesmo a cor dele sejam considerados em estudos posteriores”.

Atenção
O cardiologista José Carlos Quináglia lembra que, desde a época em que a obesidade passou a ser uma pandemia e um problema de saúde pública no Brasil, as pessoas começaram a optar pelos alimentos mais saudáveis, incluindo os refrigerantes diet e light. “Devemos prestar atenção na concentração de sódio desse tipo de refrigerante, que é 10 vezes maior que a de uma bebida comum. Esse fator gera pressão alta, que, por sua vez, é uma das principais causas de derrame e de doenças cardiovasculares.”

Segundo ele, a importância do estudo publicado na revista Nature é funcionar como um alerta para a população consumidora dessas bebidas: “Quem tem alguém na família com pressão alta não deve ingerir bebidas diets, que têm alta concentração de sódio e adoçantes sintéticos. É fundamental dar preferência aos sucos naturais”, considera Quináglia.

Marco Aurélio, neurologista da clínica Dasa, de Brasília (DF), acredita que um dos principais problemas da pesquisa foi a escolha dos participantes. “A quantidade e as altas doses de refrigerantes diet e light não têm relação com os problemas cardiovasculares. Embora seja um trabalho grande, ficaria mais definido se eles tivessem escolhidos pacientes da mesma faixa etária, sem risco cardiovascular, patologia cardíaca ou predisposição genética”, critica.

O neurologista, no entanto, alerta que outros estudos recentes sugerem que o consumo de adoçantes sintéticos pode trazer prejuízos ao organismo, principalmente nos casos dos portadores de diabetes tipo 2 com síndrome metabólica – termo usado para definir o conjunto de fatores de risco que podem desencadear, devido à dificuldade de ação da insulina, o aumento da possibilidade de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

A nutricionista Elisa Goulart, reitera que o artigo da Escola de Medicina da Universidade de Miami e do Centro Médico da Universidade de Columbia não é conclusivo. “Alguns estudos sugerem que em ratos o adoçante sintético pode causar má-formação de embriões e elevação da pressão arterial.” Ela, no entanto, alerta que a alta concentração de sódio no organismo não deve ser ligada apenas ao refrigerantes diet e light, mas “a todos os alimentos enlatados e em conserva.”

Menor em índios

Publicado em 1988, o Intersalt já mostrava resultados significativos para a relação entre a ingestão de sódio e a pressão sanguínea sistólica. No Brasil, os índios ianomâmis participaram da pesquisa. Eles apresentaram excreção urinária de sódio muito reduzida – os níveis eram extremamente baixos – e não foi constatado nenhum aumento da pressão arterial com o envelhecimento das pessoas.

A amostra do grupo indígena apresentou o menor índice de excreção de sódio até hoje relatado na literatura médica, especificamente em populações adultas.

De caráter epidemiológico, a pesquisa também traçou a relação da pressão arterial com outros fatores de risco, como o peso, o índice de massa corporal (IMC) e a ingestão de álcool. Os resultados mostraram que a elevação da pressão arterial com a idade não é inevitável, assim como a alta prevalência de hipertensão.

Um dos coordenadores da pesquisa afirmou que, a partir do estudo, estimou-se que o consumo reduzido de sódio, a atenuação do IMC, o aumento da ingestão de potássio e a eliminação do consumo excessivo de álcool resultariam em uma pressão arterial mais baixa.

 


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