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Estado de Minas

Botox pode ser usado para tratar dor de cabeça


postado em 18/04/2012 07:49

Foram 15 anos sofrendo com uma dor insuportável na cabeça que começou quando a administradora de empresas Daniela Paula Bueno, de 36 anos, tinha 21 anos. No início ela sentia o incômodo de duas a três vezes por semana. Aos 26 anos, ela se tornou insuportável, doendo diariamente. Para se livrar do tormento da enxaqueca crônica, eram necessários 12 analgésicos por dia. A busca por tratamento adequado com homeopatas, acupunturistas, cerca de 20 visitas a diferentes neurologistas e duas internações em São Paulo lhe rendeu um gasto de mais de R$ 40 mil. A solução foi encontrada há 45 dias, quando o neurologista Henrique Carneiro, secretário da Sociedade Mineira de Cefaleia, apresentou à paciente a toxina botulínica, mais conhecida comercialmente como botox. “Estou bem confiante, são poucos dias de tratamento e consegui ficar uma semana sem analgésico”, comenta Daniela.

O botox, que no Brasil é conhecido especialmente para os tratamentos estéticos, foi liberado para o uso em enxaquecas crônicas, que são as dores que se mantêm por mais de 15 dias por mês, em um período maior que 90 dias, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Carneiro, especialista em cefaleia, aplicou o botox na administradora mineira apenas uma vez. São 31 pontos na cabeça próximos às terminações nervosas em cinco áreas diferentes: têmporas, testa, nuca, pescoço e ombros. O médico explica que no local onde a toxina é aplicada há um efeito de paralisia, um bloqueio entre o nervo e o músculo, chamado bloqueio neuromuscular. Porém, não é essa paralisação que causa o efeito do botox e sim a inibição de várias substâncias, inclusive as inflamatórias, que causam a sensação de alívio. Já que a enxaqueca é uma inflamação, ela é inibida pelo uso do medicamento, evitando que cause a crise de enxaqueca.

De acordo com o neurologista, os pacientes que estão fazendo a prevenção com botox devem aplicá-lo a cada 12 semanas, porém, cada caso é avaliado individualmente. As contra-indicações são para grávidas e os pacientes que têm doença neuromuscular que causam fraqueza muscular, por exemplo a Miastenia gravis, caracterizada por fraqueza que melhora com o repouso e piora com exercícios físicos. “Dá um pouco de medo porque é na sua cabeça, mas a agulha é bem fininha. A dor é suportável, principalmente em relação à dor que eu sentia”, conta Daniela. O efeito colateral ao medicamento surgiu nos dias seguintes. “Fiquei dois dias de cama depois da aplicação, com muita dor de cabeça, sentindo ela pesada. No terceiro dia, o incômodo foi embora e a dor não apareceu mais.” A enxaqueca crônica integra os mais de 150 tipos de cefaleias existentes. Essas dores são dividas em primárias e secundárias. De acordo com Henrique Carneiro, “as primárias são aquelas em que a dor de cabeça já é a doença como consequência de alguma falha no funcionamento do sistema nervoso”. As secundárias são decorrentes de outras doenças, onde as dores são sintomas de tumores cerebrais, traumatismos cranianos e meningites, por exemplo. “Essas, muitas vezes, têm cura com o tratamento do fator causal. Entre as primárias dizemos que para a maioria há controle adequado e satisfatório. Ninguém é obrigado a conviver com a dor”, afirma o especialista.

As dores mais comuns são as primárias, das quais a principal é a cefaleia do tipo tensional (CTT), que atinge até 75% da população, segundo alguns estudos. A que ocupa o segundo lugar no ranking é a enxaqueca, marcada por dores mais fortes, com sintomas associados a náuseas, vômitos, aversão à luz e ao som. “O terceiro grande grupo é chamado cefaleias trigêmino-disautonômicas, representado principalmente pela cefaleia em salvas, que é menos frequente. Ela é a mais forte já descrita, chegando a se manifestar em até oito crises de duas horas de duração por dia”, explica o médico.

O tratamento e a prevenção são feitos baseados nos graus de dor do paciente. O importante é diagnosticar cada caso e não apenas o médico, mas também o paciente, entenderem o motivo da dor no organismo. “Na maioria das vezes usamos vários tipos de medicações, como antidepressivos, anti-hipertensivos, remédios para tonteira, anticonvulsivos e até suplemento vitamínico”, acrescenta o neurologista. O uso de analgésicos também é um fator que causa a dor de cabeça, devido ao chamado efeito rebote. O cérebro produz uma substância chamada endorfina que é responsável por aliviar a dor de cabeça e produzir uma sensação de bem-estar. O estimulo produzido pela dor libera essas substâncias. Quando existe uso abusivo dos analgésicos, eles inibem a produção de endorfinas, causando a dependência ao medicamento e assim a dor pode se tornar crônica. “Hoje existe um uso abusivo de analgésicos. Ele será bom para a dor naquele momento. Se o paciente usar mais de duas vezes por semana, essa medicação diminui a taxa de endorfina e causa uma cefaleia”. Além dos medicamentos, exercícios físicos são fundamentais. O Ideal é evitar os excessos, como os alimentares e o de trabalho, além de controlar o lado psíquico e emocional.

As dores inusitadas

Entre as dores de cabeças mais inusitadas estão a cefaleia causada por alimentos gelados, que gera uma dor aguda e em pontada quando a pessoa ingere alimentos como o sorvete; a dor por comida chinesa ou japonesa, devido à alta concentração de glutamato de monossódico, que pode desencadear as crises em pessoas predispostas; a cefaleia do rabo de cavalo, pela tração mantida do cabelo preso por um longo período; e a cefaleia da altitude, que acomete indivíduos que não estão acostumados a viajar para locais cuja altitude é maior que 2.500 metros. Porém, nenhuma é mais intrigante que a chamada cefaleia orgástica. O nome lembra a palavra orgasmo. Mas o que ela tem a ver com a cefaleia orgástica?

É simples: há dois tipos – a primeira é chamada cefaleia pré-orgástica; a outra cefaleia orgástica. A do tipo um ocorre no início do ato sexual e causa uma dor que pode se tornar intensa durante o orgasmo se o paciente insistir no ato. A tipo dois é mais comum, com início pouco antes ou no momento do orgasmo, marcada por dor latejante e intensa. Pode durar minutos ou horas e é semelhante a uma crise de enxaqueca. “A evolução clínica é imprevisível. Alguns pacientes podem ter apenas um episódio, apenas um surto de vários episódios ou a cefaleia pode persistir em todas as relações sexuais”, completa o neurologista.

Quando ocorrer o primeiro episódio, o ideal é que o paciente faça uma investigação neurológica. A maior parte das cefaleias relacionadas ao ato sexual é benigna, porém as do tipo dois podem estar associadas a sangramentos por ruptura de aneurisma cerebral ou má formação arteriovenosa. “Geralmente 5% dos portadores de cefaleia orgásmica revelam alguma lesão craniana ou processos expansivos, como tumores. Por este motivo, a avaliação deve ser criteriosa”, pontua Carneiro. O tratamento é à base de medicamentos de uso contínuo ou tomado 30 minutos antes da relação sexual.

Curiosidades

A cefaleia orgástica prevalece no sexo masculino em uma proporção de 4/1, mas é possível que a mulher tenha maior resistência em procurar auxílio, o que gera uma estatística predominantemente masculina.A enxaqueca acomete cerca de 6 % dos homens e 18% das mulheres.

90% da população vai sofrer com dor de cabeça ao menos uma vez no ano

3% da população sofre com a cefaleia crônica diária

Uma pessoa com enxaqueca não tratada perde de 9 a 12 dias de trabalho anualmente, e perde 20% do rendimento quando trabalhando

As dores fixas que ocorrem sempre e somente em uma localização do crânio devem ser cuidadosamente abordadas e investigadas para que se afastem causas secundárias

Alguns alimentos podem desencadear crises de dor de cabeça. São eles: bebida alcoólica, vinho tinto, queijos amarelos, presunto, salaminho, presunto parma, fruta ácida, chocolate, amendoim, molho shoyo, adoçantes sintéticos, aspartames, comida chinesa e japonesa

Crianças com enxaqueca podem apresentar tonteiras periódicas, enjôo em viagens e brinquedos de rodar e crises de dor na barriga e nas pernas, que muitas vezes confundidas com vermes ou dores de crescimento.


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