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Estado de Minas

Super scanner vai alavancar pesquisas na UFMG

UFMG inaugura hoje Centro de Tecnologia e Pesquisa em Magneto-Ressonância, com um dos aparelhos mais potentes da América Latina voltado para investigações em diversas áreas do conhecimento


postado em 02/03/2012 07:37 / atualizado em 02/03/2012 07:55

Imagens de ressonância magnética feitas durante estudo na Universidade de Milão, na Itália: áreas acesas são os pontos de resposta no cérebro quando a pessoa lê um texto emoutro idioma que não o seu nativo(foto: ALICE MADO PROVEBRIO/MILANO-BICOCCA UNIVERSITY/AP PHOTO)
Imagens de ressonância magnética feitas durante estudo na Universidade de Milão, na Itália: áreas acesas são os pontos de resposta no cérebro quando a pessoa lê um texto emoutro idioma que não o seu nativo (foto: ALICE MADO PROVEBRIO/MILANO-BICOCCA UNIVERSITY/AP PHOTO)

Imagine quanta coisa interessante não pode ser pesquisada a partir da visualização de áreas do cérebro que são acessadas nas mais diversas situações. Quando uma pessoa beija, recebe um beliscão no braço ou precisa mentir sobre sua idade são acionados pontos distintos por lá e já é possível ver como cada mensagem chega ao cérebro. Pois aumentar e melhorar essa forma de enxergar as coisas – não, a técnica não está limitada somente ao cérebro –, como mapear lesões nos músculos, estudar minuciosamente o fígado, quantificar a porosidade e decaimento em estruturas de concreto, estudar a aderência do petróleo em rochas, enfim, um vasto mundo de possibilidades, é um dos principais objetivos do Centro de Tecnologia e Pesquisa em Magneto-Ressonância (CTPMAG), que será inaugurado hoje na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, o primeiro do Brasil a ter um scanner de magneto-ressonância de 4,7 teslas (iMR4,7), medida usada para calcular a intensidade de um campo magnético. O aparelho é um dos mais potentes equipamentos de magneto ressonância para pequenos animais em funcionamento na América Latina.

“O fato de o aparelho não estar restrito por contratos de manutenção ou garantia significa uma grande flexibilidade para modificar, manipular e testar essa nova tecnologia para as diversas áreas do conhecimento (medicina, biologia, geologia, engenharia, física, química etc.). Dessa forma, o centro poderá promover parcerias com cientistas, prestadores de serviço, setor privado e demais interessados em imagem não invasiva, e quem tem curiosidade pelo fenômeno de ressonância nuclear”, explica o professor Márcio Flávio Dutra Moraes, doutor em fisiologia humana pela Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e coordenador do Núcleo de Neurociências do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB/UFMG).

O objetivo do CTPMAG é criar tecnologia e desenvolver pesquisas diversas. Usada na medicina desde a década de 1980, a ressonância magnética mapeia minuciosamente as áreas do corpo quando o objetivo é investigar uma doença. Conforme Moraes, para dar uma ideia da magnitude do equipamento do CTPMAG, o campo magnético do planeta Terra (uma espécie de imã, de norte a sul do globo) é estimado em 50 microteslas. O campo dos equipamentos hospitalares é de 1,5 teslas, e o do aparelho da UFMG, de 4,7 teslas.

Professor Márcio Moraes: o espaço poderá ser usado por pesquisadores e até por empresas privadas
Professor Márcio Moraes: o espaço poderá ser usado por pesquisadores e até por empresas privadas

“Isso significa a medida de intensidade do campo magnético, a capacidade de atração do grande imã. Se você estiver com uma corrente no pescoço a 1m de distância do nosso scanner, a corrente ficará esticada, em direção a ele. Se tiver uma chave de fenda na mão, será puxado com muita força. Quanto maior o imã, melhor o alinhamento dos milhares de átomos que compõem o objeto imerso no campo magnético”, esclarece.

Existem outros equipamentos hospitalares de imagem não invasiva que servem para diagnóstico de pacientes na investigação clínica. Boa parte deles, contudo, precisa ainda de um contraste (aplicado no paciente), para fazer a imagem. “A imagem de uma ressonância nos permite ver todo o cérebro. Já a ressonância funcional gerada pelo iMR4,7 pode nos mostrar áreas cerebrais onde há maior ou menor consumo de oxigênio, nesse grau de especificidade. Se te dou um tapa na mão, consigo ver a região cerebral que recebeu essa mensagem”, acrescenta Moraes.

Um outro ramo da ciência que tem usado a ressonância magnética funcional é o neuromarketing. Para escolher entre duas embalagens que ‘vestirão’ um produto, pode-se mostrá-las para uma pessoa e analisar, a partir das imagens geradas pela ressonância, qual ponto do cérebro acendeu a emoção. “Daí, é possível optar pela embalagem que ativou mais fortemente áreas cerebrais associadas à emoção naquele possível comprador, qual foi a mais atraente”, diz o cientista.

Segundo o professor, nesse scanner não há necessidade nenhuma de contraste. “Ele enxerga tudo, sem ser invasivo. Isso tem várias vantagens: para o paciente, que não usa o contraste; e pelo fato de não haver radiação no processo. Pelo contrário. O que é usado é o fenômeno de ressonância nuclear, utilizando do tecido do próprio organismo para produzir a imagem que queremos. Por exemplo, em um paciente com epilepsia de lobo temporal, podemos avaliar o grau de esclerose nessa área do cérebro. Até mesmo mulheres grávidas podem ser submetidas a exames com esse aparelho. Não há riscos biológicos conhecidos para quem é exposto a campos magnéticos usados na medicina hoje em dia.” No caso, o equipamento da UFMG é para objetos e animais pequenos, não comporta uma pessoa lá dentro.
Pesquisadores Patrícia Alves, Gustavo Rezende e Luciana Drumond, manipulam o equipamento doado(foto: RENATO WEIL/EM/D.A PRESS)
Pesquisadores Patrícia Alves, Gustavo Rezende e Luciana Drumond, manipulam o equipamento doado (foto: RENATO WEIL/EM/D.A PRESS)

Parceria
A criação do CTPMAG é fruto da parceria entre pesquisadores da UFMG e do Neuroimaging Research Group, do King’s College London, que doou o aparelho à universidade. Além disso, a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) custeou as obras de infraestrutura necessárias para aparelhar o centro e o transporte dos equipamentos de oito toneladas entre a Inglaterra e Belo Horizonte.
Um equipamento como esse custa em torno de US$ 3 milhões (cerca de R$ 5 milhões). O centro reúne pesquisadores de diversos departamentos acadêmicos da UFMG e, mediante contrato para desenvolvimento de projetos, o CTPMAG poderá ser usado por alunos e pesquisadores vinculados à UFMG, a instituições de ensino e de pesquisa de todo o Brasil, ou por profissionais e pesquisadores de empresas públicas e privadas.

 


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