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Estado de Minas

Flora que existia há 400 milhões de anos é reconstruída

Estudo traz importantes pistas de como ocorreu a evolução dos vegetais


postado em 01/03/2012 08:34 / atualizado em 01/03/2012 09:05

Ilustraçãomostra a aparência das espécies vegetais encontradas no sítio de Gilboa: ambiente diversificado(foto: FRANK MANNOLINI/DIVULGAÇÃO)
Ilustraçãomostra a aparência das espécies vegetais encontradas no sítio de Gilboa: ambiente diversificado (foto: FRANK MANNOLINI/DIVULGAÇÃO)
Há 398 milhões de anos, no período geológico Devoniano, a flora sofreu uma revolução que teria fortes implicações para o futuro do planeta. As primeiras plantas começaram a ganhar corpo e transformaram-se em densas florestas que se alastraram pelos protocontinentes. Na falta de animais herbívoros, nada as ameaçava: as árvores eram as soberanas da Terra. À medida que sequestravam o carbono da atmosfera e lançavam grandes quantidades de oxigênio, modificavam o clima para sempre, abrindo caminho para o surgimento de formas de vida mais complexas.

Pouco se sabe, porém, sobre as primeiras florestas da Terra e como elas influenciaram o ecossistema do planeta. Um estudo publicado na edição de hoje da revista Nature reconstitui esses ambientes ancestrais, a partir da retomada de escavações do fim do século 19 em Gilboa, no estado norte-americano de Nova York. Lá, encontra-se o mais antigo conjunto de fósseis vegetais já descobertos, formado por centenas de árvores da extinta espécie Eospermatopteris eriana, da qual fazem parte as gigantes cladoxylopsidas.

A equipe de William E. Stein, biólogo da Universidade de Binghampton e que há mais de 15 anos investiga a origem da flora terrestre, voltou à floresta petrificada de Gilboa e descobriu uma área de 1,2 mil metros quadrados. Foram identificados três tipos de plantas que podem solucionar os mistérios da ecologia ancestral. “A floresta de Gilboa é um ícone desde que os primeiros fósseis vegetais foram encontrados por baixo de densas camadas de arenito”, conta Anne-Laure Decombeix, bióloga francesa da Universidade de Montpellier, convidada pela Nature para escrever um artigo sobre o trabalho de Stein.

Ela lembra que, em meados da década de 1990, o pesquisador já havia descoberto o tronco e a copa das cladoxylopsidas, que têm um parentesco com as atuais samambaias. O trabalho de Stein revelou que essas árvores enormes tinham um tronco esguio, com mais ou menos 6m de altura, coberto por uma coroa de folhas e troncos curtos, que se renovavam à medida que a planta crescia. “Acreditava-se que essa era a única árvore que compunha as primeiras florestas do planeta, mas agora se sabe que o ambiente era mais diversificado”, observa a francesa no artigo.

Stein conta que, quando sua equipe descobriu em 2010, uma nova área ainda não escavada em Gilboa, os biólogos e paleontólogos viram que estavam diante de um tesouro. “Os fósseis estavam muito bem preservados, sob uma superfície de sedimentos. O mais interessante é que as árvores se encontravam no mesmo lugar onde nasceram e cresceram, então foi possível reconstituir a floresta como ela era há mais de 300 milhões de anos”, afirma ao Estado de Minas.

Segundo o pesquisador, ao contrário do que muitos botânicos acreditam, os fósseis revelaram que as florestas ancestrais não eram simples, mas ecossistemas complexos, com plantas interagindo umas com as outras. Além das já conhecidas cladoxylopsidas, há registros em Gilboa de outras duas plantas, com diferentes padrões de crescimento, distribuição e histórico evolutivo. Uma delas pertence ao extinto grupo Aneurophytalean progymno­sperms. Eram plantas rizomatosas, com caules subterrâneos, constituindo uma vegetação rasteira. “A terceira era uma árvore menor, com cerca de 1m de altura, mas os fósseis estavam muito fragmentados, então não conseguimos encaixá-la em nenhuma espécie. Ela se assemelha ao grupo das lycopsidas, que habitaram campos carboníferos no passado, mas não temos como afirmar isso com certeza”, explica.

“A descoberta de que a floresta de Gilboa não consistia somente de árvores cladoxylopsidas é memorável. Estudos paleoecológicos de outros sítios do Devoniano descrevem a flora ancestral como uma paisagem muito simples, com árvores bastante parecidas, crescendo lado a lado, com características morfológicas idênticas e adaptadas às mesmas condições ambientais”, comenta Anne-Laure Decombeix. Segundo ela, a estrutura da paisagem devoniana tornou-se praticamente um dogma nesse campo de estudo. “O trabalho da equipe de Stein, contudo, fornece a primeira evidência direta de que algumas florestas ancestrais continham grupos bastante diversos de plantas.”

Outras surpresas

Além da variedade da vegetação, o estudo de Stein mostra que as condições ambientais ao redor da maior floresta petrificada de que se tem notícia não eram tão tranquilas como se imaginava. Até agora, pensava-se que a vegetação, situada perto da costa de uma ilha, era, no passado, um pântano sereno. A pesquisa dos sedimentos onde foram encontrados os fósseis, porém, sugere que periodicamente a floresta era afetada por episódios brutais de aumento do nível do mar que provavelmente mataram muitas plantas. “Esses distúrbios podem ter resultado em seleção evolutiva, pois a vegetação precisava criar mecanismos de adaptação para sobreviver. Geralmente, as plantas que melhor se adaptam são aquelas de tamanho pequeno, mas, dados os nossos achados, o que ocorreu em Gilboa vai contra esse padrão, o que nos desafia a encontrar uma nova explicação evolutiva”, diz William Stein.

De acordo com James S. Boyler Jr., pesquisador da Universidade de John Carroll, nos Estados Unidos, e estudioso da fauna do Devoniano, o entendimento da biodiversidade desse período é fundamental para compreender a vegetação atual. “Muitas das características morfológicas e anatômicas que prevalecem na flora contemporânea fizeram suas primeiras aparições nesse período. O tamanho e a diversidade dos fósseis de Gilboa são significativos, e não consigo imaginar um local melhor para pesquisas que buscam solucionar o mistério da evolução das plantas na Terra”, diz. O biólogo acredita que, sob os sedimentos do local, muitas outras surpresas devem se revelar.

“Quando se fala em fósseis, as pessoas imaginam dinossauros, mamutes, preguiças-gigantes, mas a vegetação fossilizada é tão importante quanto a fauna para compreendermos a história da Terra”, acrescenta Carroll. “O aparecimento de densas florestas implicam modelos climáticos completamente novos. Menos carbono na atmosfera, mais oxigênio liberado, aumento das precipitações, tudo isso foi fundamental para que a vida complexa saísse dos oceanos e começasse a se aventurar por um ambiente até então pouco favorável, mas que dá os primeiros passos para abrigar novas espécies e preparar o terreno para a aparição, dali a milhões de anos, do Homo sapiens”, recorda.

(foto: D.HUANG/DIVULGAÇÃO)
(foto: D.HUANG/DIVULGAÇÃO)
Pulgas gigantes


As pulgas que habitavam a China durante os períodos Jurássico Médio e Cretáceo Inferior, mais de 150 milhões de anos atrás, eram gigantescas, se comparadas às que existem hoje. Segundo um artigo publicado hoje na revista Nature, um grupo de pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências encontrou fósseis desses parasitas, que, no passado, tinham asas e eram maiores que as atuais, com comprimentos variando de 14mm a 20,6mm (fêmeas) e 8mm a 14,7mm (machos). Hoje, o máximo que uma pulga alcança são 5mm. Ainda assim, elas já apresentavam características encontradas nos espécimes modernos, como as patas traseiras adaptadas ao salto. Com um sifão longo e serrilhado, elas eram aptas a perfurar a pele e sugar o sangue dos hospedeiros, algo que as fêmeas faziam com mais frequência. Se hoje humanos e cachorros são os principais alvos dos parasitas, no passado as pulgas gigantes se alimentavam de espécies peludas e dos répteis que tinham penas, animais que, mais tarde, dariam origem às aves e aos mamíferos.

 


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