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Estado de Minas

Entre o lápis e o PC

Palestrantes mostram na Campus Party que educação e tecnologia estão cada vez mais interligadas. Voluntários dão dicas e ensinam os novatos a usar o computador pessoal


postado em 16/02/2012 12:08

Campuseiros e participantes fizeram questão de pôr a mão na massa e entender como funcionam certas tecnologias. Para especialistas, presença de equipamentos eletrônicos em salas de aula não precisa ser coibida(foto: Flávia Quadros/Divulgação )
Campuseiros e participantes fizeram questão de pôr a mão na massa e entender como funcionam certas tecnologias. Para especialistas, presença de equipamentos eletrônicos em salas de aula não precisa ser coibida (foto: Flávia Quadros/Divulgação )
São Paulo – Cerca de 250 educadores estiveram em São Paulo e participaram de atividades desenvolvidas especialmente para eles na quinta edição da Campus Party Brasil. Professores de todo o país, alunos de pedagogia, especialistas e gestores públicos puderam integrar o tema da educação ao da cultura digital.

A primeira atividade teve início com o professor de tecnologia educacional Sugata Mitra (veja entrevista), que explicou como a tecnologia e a educação podem caminhar juntas sem que para isso seja necessário proibir o uso de equipamentos eletrônicos na sala de aula. Palestras com os temas "A inclusão digital e a transformação socioeconômica", "Lan houses como espaços de educação" e "Participação na era digital" fizeram com que campuseiros e visitantes compreendessem melhor de que forma a educação tecnológica influencia na educação e como isso pode mudar a visão cartesiana sobre o tema.

Para Lynn Alves, professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o espaço educacional tem dificuldade em se relacionar com diversas tecnologias. Ela cita o exemplo dos games. "A relação com os jogos eletrônicos tem um potencial de interatividade, de criar diferentes formas de aprendizagem. Os games podem abrir novos caminhos", explicou.

"Em lugares onde não existam muitos computadores, ou onde o acesso a internet seja remoto, as lan houses têm toda a importância. Elas fazem a ligação entre o aprendizado livre e a tecnologia", disse Jader Gama, fundador do Coletivo Puraqué em Santarém (PA), que atua ideologicamente em relação à cultura digital e ao desenvolvimento tecnológico sustentável da Amazônia. No estado do educador, a rede de computadores chegou aos poucos e os alunos estão recebendo bem a novidade.

Ainda na área de games, Luciano Meira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), falou sobre a forma como os desenvolvedores de jogos educacionais trabalham. "Os novos jogos têm uma ideia de cenário, aventura, personagens e um propósito. São mais divertidos." Segundo o educador, são gastas no mundo, diariamente, 64 milhões de horas jogando, e apenas 2% dos games nos Estados Unidos são educacionais.

Ética
O uso responsável da web também foi debatido pelos educadores. E, claro, o projeto Sopa e outras leis que pretendem censurar a rede. Para Carolina Quatter Pinheiro, dinamizadora do projeto Aula Telefônica, em São Paulo, a solução para o uso responsável deve ser implantada desde cedo. "Se as nossas crianças souberem como usar corretamente a internet, de forma coerente e segura, no futuro teremos internautas éticos e corretos", explicou.

Os campuseiros tiveram ainda a chance de participar de oficinas ministradas por voluntários estudantes da área de tecnologia da informação. O projeto Batismo Digital chamou a atenção daqueles que queriam conhecer e manusear um computador pessoal.

Além disso, os voluntários orientaram os iniciantes sobre ferramentas de informática e internet, como construção de blogs e participação nas redes sociais. "Recursos educacionais abertos – Como usar, criar e compatilhar" ganhou como a oficina mais concorrida. Cada turma era composta por 56 alunos que tiveram aula teórica e prática sobre os temas.


(foto: Flávia Quadros/Divulgação)
(foto: Flávia Quadros/Divulgação)
Aprendizado via interação digital - Entrevista: Sugata Mitra, Professor e especialista em tecnologia educacional


O pesquisador e professor de tecnologia educacional da Newcastle University, da Inglaterra, e professor visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT) é um dos maiores estudiosos na área de tecnologia educacional. Em 1999, realizou um experimento conhecido como Hole in the Wall, que consistiu na colocação de um computador com acesso à internet em um muro de uma favela em Nova Délhi, na Índia. Câmeras mostraram crianças que brincavam no local e iniciaram um processo de aprendizagem e depois ensinavam amigos a navegar. Ele repetiu a experiência em outras localidades, comprovando ser possível aprender interagindo com telas digitais sem uma orientação formal e presencial.

Como a metodologia tecnológica pode ser inserida na educação?
Comecei o trabalho há 15 anos, não havia modelos e por isso vieram as experiências. Nesses experimentos, se as crianças estiverem expostas ao computador em local público, onde não haja escolas, elas rapidamente desenvolvem uma compreensão dos computadores. Isso fez com que melhorasse a capacidade de ler e aprender e de responder a perguntas. Um computador pode atender até 300 crianças. É muito barato e fácil, só precisamos um PC e conexão de banda larga, uma tela grande e um local público. Um exemplo: trigonometria, uma palavra que apavora todo mundo. Na China, perguntei: “Como um iPad sabe sua localização?” Elas disseram: “Não sabemos”. Então, falei: “Estão aqui os computadores, tentem achar as respostas usando o Google, Wikipedia, como quiserem.” Trinta minutos depois, eles vieram com as respostas. Uma boa pergunta incentiva a estudar. É preciso fazer questões interessantes a elas em uma escola onde tenham computadores.

De onde surgiu a ideia para o projeto?
Minhas perguntas vieram da observação. Eu via as crianças na rua e perguntei por que elas não podem se tornar programadores: porque não têm professores. E começou a experiência.

De que forma a tecnologia pode impactar o mercado de trabalho?
As pessoas na Índia conseguem ler uma página, mas não conseguem entender exigências e requisitos que não têm nenhuma relação com o que é ensinado hoje nas escolas. Precisamos redefinir o currículo e ele precisa ser interessante.

Como os professores podem se preparar para não ficar para trás no processo da evolução da tecnologia?
Os professores devem assumir que não sabem, e hoje eles têm dificuldade de fazer isso. Um grupo de 20 crianças pode atualmente desenvolver um aplicativo Android em duas horas. O professor deve descobrir com os alunos.

O celular é visto como um vilão na sala de aula. É possível fazer desse aparelho um colaborador?
O telefone móvel condensa muitas tecnologias. Quando era jovem, havia um dispositivo grande chamado vitrola. Isso tudo desapareceu com o Walkman da Sony, que, por sua vez, sumiu com o MP3 e que deu lugar ao celular. A tevê e o computador também foram para dentro do smartphone. Além disso, esse dispositivo está cada vez melhor, mais fino, leve e barato. Se tivesse que fazer uma projeção para cinco anos, diria que o celular vai desaparecer. Há 20 anos, ninguém imaginaria o telefone móvel. A questão é o que vai acontecer com a educação quando tivermos com o Google instalado na nossa cabeça. Como ficam as provas e exames quando isso não pode ser separado de você?

É preciso adicionar ao currículo a matéria tecnologia?
Não precisamos de uma grade para tecnologia, não precisamos de um currículo. Tecnologia se aprende fazendo. Precisamos de pontos importantes no ensino básico: compreensão é o primeiro. Ser capaz de compreender aquilo que lemos e ouvimos. O outro ponto é: no mundo em que somos bombardeados pela mídia, como distinguir o certo do errado? Em quem acreditar? Se encontrarmos um modo para as crianças fazerem isso daqui a algum tempo, elas vão saber fazer tudo direitinho.

O que o senhor acha da licitação para a compra de tablets para professores no Brasil?
Tablets são os formatos mais baratos e existem casos de escolas em que os tablets são destinados para os professores e não para os alunos. A Índia esta tentando fabricar um tablet que vai custar US$ 35. A grande mudança será para o material didático. A imagem das crianças carregando mochilas desaparecerá. Elas carregarão apenas uma prancheta eletrônica. O tablet se encaixa bem no futuro da educação.

(foto: Flávia Quadros/Divulgação )
(foto: Flávia Quadros/Divulgação )
Astronauta brasileiro

No Palco Astronomia e Espaço, os campuseiros puderam assistir a uma palestra com o engenheiro aeronáutico Marcos Pontes (o primeiro astronauta brasileiro) e discutiram as implicações que o término dos voos do ônibus espacial da Nasa trará para a astronomia e para a ciência. Além disso, Marcos discutiu novos caminhos e perspectivas para os profissionais da área e revelou que quer formar o próximo astronauta do Brasil. "Nos próximos cinco anos, haverá quatro cursos públicos de engenharia aeroespacial no país. A formação do segundo brasileiro com experiência de voo orbital deve estar nesse curso e espero que seja meu aluno", contou.


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