Sofrer as consequências de vícios posturais não é exclusividade de adultos. No primeiro ano de vida, bebês que passam muito tempo na mesma posição podem desenvolver uma deformidade no crânio conhecida como plagiocefalia. Estima-se que pelo menos 350 mil crianças nascidas no país tenham a doença. O que ocorre, normalmente, é o achatamento da região acima da nuca, onde o bebê se apoia quando está deitado de barriga para cima. O problema pode ser resolvido com correção de postura. Caso isso não seja suficiente, os pais têm hoje a opção de tratar o filho com uma técnica importada dos Estados Unidos, que ainda gera polêmica entre médicos brasileiros.
A plagiocefalia é a assimetria de crânio mais comum em crianças. Há casos em que a posição intrauterina faz com que o bebê já saia da barriga da mãe com a deformidade, principalmente em gravidez de gêmeos. O que mais se vê, no entanto, é a doença surgir depois do nascimento. A principal causa é o vício de postura, como explica o cirurgião vascular paulistano Gerd Schreen, que se especializou em assimetria craniana. “A mãe deixa o filho no bebê-conforto enquanto arruma a casa. Vai passear e o coloca na cadeirinha do carro. Depois, passa a criança para o carrinho, então ela fica quase o dia inteiro com a região posterior da cabeça apoiada.” Essa rotina é capaz de provocar o achatamento, porque o cérebro não encontra espaço para crescer na área em que está sempre apoiado.
A deformidade pode se agravar quando associada ao torcicolo congênito. Como o bebê nasce com um dos músculos do pescoço mais curto, o médico esclarece que o movimento de rotação fica limitado e a tendência é a cabeça ficar sempre apoiada em um único lado.
Schreen foi quem trouxe o tratamento norte-americano para o Brasil, há três anos. Ele nunca tinha ouvido falar em plagiocefalia quando sua filha, na época com cinco meses, recebeu o diagnóstico. Ao ouvir de cinco médicos que a cabeça da menina ia ficar torta, pois não havia tratamento, o cirurgião vascular mudou-se com a família por seis meses para os Estados Unidos, onde os bebês usavam órtese craniana para corrigir a falha. “Um tratamento relativamente simples me custou um apartamento”, conta.
Satisfeito com o resultado, Schreen estudou a plagiocefalia para oferecer o tratamento em São Paulo. No lugar do molde de gesso, o médico usa o escaneamento tridimensional a laser, exame que avalia a deformidade e gera uma imagem computadorizada. Isso permite produzir a órtese sob medida nos Estados Unidos, com prazo de 14 a 17 dias para chegar ao Brasil. “O capacete é feito de material plástico, rígido na parte externa e com espuma densa no interior que proporciona contato com as áreas proeminentes e deixa espaço onde o cérebro precisa crescer”, esclarece. “Em nenhum momento ele empurra a região proeminente para dentro, pois isso significaria dor e incômodo.”
Os pais são orientados a deixar a criança com a órtese por 23 horas por dia e tirá-la apenas para o banho. A cada 15 dias, o bebê volta ao consultório para o médico ajustar o capacete de acordo com o crescimento da cabeça. Em geral, o tratamento dura de três a quatro meses e o resultado é definitivo. No entanto, seu custo ainda é alto para grande parte da nossa população: algo em torno de R$ 10 mil.
A Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) não reconhece a órtese craniana como solução para tratar a plagiocefalia. “O assunto é controverso. Há equipes nos Estados Unidos que usam o capacete, mas não é uma conduta unânime. Ainda faltam trabalhos científicos comprovando sua real eficácia”, pontua a neuropediatra Marli Marra de Andrade, presidente do Comitê de Neurologia Infantil da SMP.
A médica defende que a mudança de postura já é suficiente para resolver o problema. “O recém-nascido dorme muito e passa a maior parte do tempo deitado. Como não está na fase de rolar sozinho, fica sempre na posição em que a mãe o coloca. Com seis meses, a criança começa a se movimentar na cama e o achatamento vai melhorar”, afirma. No tratamento convencional, avalia-se a deformidade com exame de neuroimagem, tomografia computadorizada ou raio-X, e com controle mensal para medir o crânio com uma fita métrica. Quando a plagiocefalia está associada ao torcicolo congênito, é indicada a fisioterapia.
Para Schreen, o tratamento com a órtese craniana deve ser iniciado o quanto antes, depois de completados três meses de vida. “Ou você trata no primeiro ano de vida, período em que o crescimento da cabeça é maior, ou não trata mais”, observa. O médico paulistano explica porém, que tenta primeiro o reposicionamento, orientando os pais a colocarem a criança para fazer as atividades sem apoiar a região achatada, antes de recomendar o capacete. A exceção ocorre quando o bebê tem mais de seis meses e apresenta assimetria severa. Gerd Schreen ele alega que nesse caso não há prazo suficiente para corrigir a deformidade. Já a neuropediatra defende que a plagiocefalia se resolve com o tempo, mesmo quando detectada depois do primeiro ano de vida.
Independentemente do tratamento escolhido, a detecção precoce é importante para descartar o diagnóstico de cranioestenose, doença mais grave só solucionada com intervenção cirúrgica urgente. Isso porque as placas ósseas do crânio, que nascem separadas, fecham-se antes da hora e o cérebro fica sem espaço para crescer. “Além do achatamento do crânio, a doença pode ter consequências graves. A criança pode apresentar deformidade na face e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor”, explica a neuropediatra mineira. Marli diz que o ideal é operar a criança com craniostenose preferencialmente até os seis meses de idade, não podendo passar de um ano.
Posições alternadas
Em 1992, a Academia Americana de Pediatria recomendou que os bebês deveriam dormir sempre com a barriga para cima. Isso ajudou a reduzir o número de mortes súbitas, mas influenciou diretamente na incidência da plagiocefalia, o que não significa que a criança tenha que mudar a posição na hora de dormir. Especialistas dizem que a recomendação dos norte-americanos deve ser mantida, mas os pais devem aproveitar o momento em que o bebê estiver acordado para deixá-lo de barriga para baixo, evitando que fique muito tempo com a região da nuca apoiada. Além de evitar o achatamento do crânio, a posição ajuda a desenvolver os músculos que a criança precisa para rolar, sentar e engatinhar e melhora a atividade motora. Abaixo, as dicas dos médicos brasileiros para evitar a plagiocefalia:
>> Alterne sua posição no momento de trocar a fralda. Coloque-se
ligeiramente de lado para estimular o bebê a mover a cabeça para o lado que você desejar e converse com ele de lados alternados;
>> Alterne o braço que você usa para amamentar a criança e a posição que a segura no colo;
>> Mude a posição do berço, do carrinho, da banheira e do assento de automóvel, fazendo com que os estímulos que interessem ao bebê cheguem preferencialmente do lado que precisa ser mais usado;
>> Posicione os brinquedos e outros estímulos visuais no lado do berço para o qual a criança tem dificuldade de girar a cabeça. Isso vai favorecer a rotação do pescoço;
>> Evite deixar o bebê por tempo exagerado em berços e cadeirinhas de automóveis, exceto, é claro, quando estiver no carro, condição em que o uso é obrigatório por questões de segurança.
A plagiocefalia é a assimetria de crânio mais comum em crianças. Há casos em que a posição intrauterina faz com que o bebê já saia da barriga da mãe com a deformidade, principalmente em gravidez de gêmeos. O que mais se vê, no entanto, é a doença surgir depois do nascimento. A principal causa é o vício de postura, como explica o cirurgião vascular paulistano Gerd Schreen, que se especializou em assimetria craniana. “A mãe deixa o filho no bebê-conforto enquanto arruma a casa. Vai passear e o coloca na cadeirinha do carro. Depois, passa a criança para o carrinho, então ela fica quase o dia inteiro com a região posterior da cabeça apoiada.” Essa rotina é capaz de provocar o achatamento, porque o cérebro não encontra espaço para crescer na área em que está sempre apoiado.
A deformidade pode se agravar quando associada ao torcicolo congênito. Como o bebê nasce com um dos músculos do pescoço mais curto, o médico esclarece que o movimento de rotação fica limitado e a tendência é a cabeça ficar sempre apoiada em um único lado.
Schreen foi quem trouxe o tratamento norte-americano para o Brasil, há três anos. Ele nunca tinha ouvido falar em plagiocefalia quando sua filha, na época com cinco meses, recebeu o diagnóstico. Ao ouvir de cinco médicos que a cabeça da menina ia ficar torta, pois não havia tratamento, o cirurgião vascular mudou-se com a família por seis meses para os Estados Unidos, onde os bebês usavam órtese craniana para corrigir a falha. “Um tratamento relativamente simples me custou um apartamento”, conta.
Satisfeito com o resultado, Schreen estudou a plagiocefalia para oferecer o tratamento em São Paulo. No lugar do molde de gesso, o médico usa o escaneamento tridimensional a laser, exame que avalia a deformidade e gera uma imagem computadorizada. Isso permite produzir a órtese sob medida nos Estados Unidos, com prazo de 14 a 17 dias para chegar ao Brasil. “O capacete é feito de material plástico, rígido na parte externa e com espuma densa no interior que proporciona contato com as áreas proeminentes e deixa espaço onde o cérebro precisa crescer”, esclarece. “Em nenhum momento ele empurra a região proeminente para dentro, pois isso significaria dor e incômodo.”
Os pais são orientados a deixar a criança com a órtese por 23 horas por dia e tirá-la apenas para o banho. A cada 15 dias, o bebê volta ao consultório para o médico ajustar o capacete de acordo com o crescimento da cabeça. Em geral, o tratamento dura de três a quatro meses e o resultado é definitivo. No entanto, seu custo ainda é alto para grande parte da nossa população: algo em torno de R$ 10 mil.
A Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) não reconhece a órtese craniana como solução para tratar a plagiocefalia. “O assunto é controverso. Há equipes nos Estados Unidos que usam o capacete, mas não é uma conduta unânime. Ainda faltam trabalhos científicos comprovando sua real eficácia”, pontua a neuropediatra Marli Marra de Andrade, presidente do Comitê de Neurologia Infantil da SMP.
A médica defende que a mudança de postura já é suficiente para resolver o problema. “O recém-nascido dorme muito e passa a maior parte do tempo deitado. Como não está na fase de rolar sozinho, fica sempre na posição em que a mãe o coloca. Com seis meses, a criança começa a se movimentar na cama e o achatamento vai melhorar”, afirma. No tratamento convencional, avalia-se a deformidade com exame de neuroimagem, tomografia computadorizada ou raio-X, e com controle mensal para medir o crânio com uma fita métrica. Quando a plagiocefalia está associada ao torcicolo congênito, é indicada a fisioterapia.
Para Schreen, o tratamento com a órtese craniana deve ser iniciado o quanto antes, depois de completados três meses de vida. “Ou você trata no primeiro ano de vida, período em que o crescimento da cabeça é maior, ou não trata mais”, observa. O médico paulistano explica porém, que tenta primeiro o reposicionamento, orientando os pais a colocarem a criança para fazer as atividades sem apoiar a região achatada, antes de recomendar o capacete. A exceção ocorre quando o bebê tem mais de seis meses e apresenta assimetria severa. Gerd Schreen ele alega que nesse caso não há prazo suficiente para corrigir a deformidade. Já a neuropediatra defende que a plagiocefalia se resolve com o tempo, mesmo quando detectada depois do primeiro ano de vida.
Independentemente do tratamento escolhido, a detecção precoce é importante para descartar o diagnóstico de cranioestenose, doença mais grave só solucionada com intervenção cirúrgica urgente. Isso porque as placas ósseas do crânio, que nascem separadas, fecham-se antes da hora e o cérebro fica sem espaço para crescer. “Além do achatamento do crânio, a doença pode ter consequências graves. A criança pode apresentar deformidade na face e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor”, explica a neuropediatra mineira. Marli diz que o ideal é operar a criança com craniostenose preferencialmente até os seis meses de idade, não podendo passar de um ano.
Posições alternadas
Em 1992, a Academia Americana de Pediatria recomendou que os bebês deveriam dormir sempre com a barriga para cima. Isso ajudou a reduzir o número de mortes súbitas, mas influenciou diretamente na incidência da plagiocefalia, o que não significa que a criança tenha que mudar a posição na hora de dormir. Especialistas dizem que a recomendação dos norte-americanos deve ser mantida, mas os pais devem aproveitar o momento em que o bebê estiver acordado para deixá-lo de barriga para baixo, evitando que fique muito tempo com a região da nuca apoiada. Além de evitar o achatamento do crânio, a posição ajuda a desenvolver os músculos que a criança precisa para rolar, sentar e engatinhar e melhora a atividade motora. Abaixo, as dicas dos médicos brasileiros para evitar a plagiocefalia:
>> Alterne sua posição no momento de trocar a fralda. Coloque-se
ligeiramente de lado para estimular o bebê a mover a cabeça para o lado que você desejar e converse com ele de lados alternados;
>> Alterne o braço que você usa para amamentar a criança e a posição que a segura no colo;
>> Mude a posição do berço, do carrinho, da banheira e do assento de automóvel, fazendo com que os estímulos que interessem ao bebê cheguem preferencialmente do lado que precisa ser mais usado;
>> Posicione os brinquedos e outros estímulos visuais no lado do berço para o qual a criança tem dificuldade de girar a cabeça. Isso vai favorecer a rotação do pescoço;
>> Evite deixar o bebê por tempo exagerado em berços e cadeirinhas de automóveis, exceto, é claro, quando estiver no carro, condição em que o uso é obrigatório por questões de segurança.