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Estado de Minas

Má postura do bebê pode causar deformidade do crânio

Deformidade no crânio que surge nos primeiros meses de vida, plagiocefalia acomete ao menos 350 mil brasileirinhos. Há opção de tratá-la com técnica norte-americana ou estimular naturalmente a criança


postado em 15/02/2012 09:57 / atualizado em 15/02/2012 13:15

(foto: CRANIAL CARE/DIVULGAÇÃO)
(foto: CRANIAL CARE/DIVULGAÇÃO)
Sofrer as consequências de vícios posturais não é exclusividade de adultos. No primeiro ano de vida, bebês que passam muito tempo na mesma posição podem desenvolver uma deformidade no crânio conhecida como plagiocefalia. Estima-se que pelo menos 350 mil crianças nascidas no país tenham a doença. O que ocorre, normalmente, é o achatamento da região acima da nuca, onde o bebê se apoia quando está deitado de barriga para cima. O problema pode ser resolvido com correção de postura. Caso isso não seja suficiente, os pais têm hoje a opção de tratar o filho com uma técnica importada dos Estados Unidos, que ainda gera polêmica entre médicos brasileiros.

A plagiocefalia é a assimetria de crânio mais comum em crianças. Há casos em que a posição intrauterina faz com que o bebê já saia da barriga da mãe com a deformidade, principalmente em gravidez de gêmeos. O que mais se vê, no entanto, é a doença surgir depois do nascimento. A principal causa é o vício de postura, como explica o cirurgião vascular paulistano Gerd Schreen, que se especializou em assimetria craniana. “A mãe deixa o filho no bebê-conforto enquanto arruma a casa. Vai passear e o coloca na cadeirinha do carro. Depois, passa a criança para o carrinho, então ela fica quase o dia inteiro com a região posterior da cabeça apoiada.” Essa rotina é capaz de provocar o achatamento, porque o cérebro não encontra espaço para crescer na área em que está sempre apoiado.

A deformidade pode se agravar quando associada ao torcicolo congênito. Como o bebê nasce com um dos músculos do pescoço mais curto, o médico esclarece que o movimento de rotação fica limitado e a tendência é a cabeça ficar sempre apoiada em um único lado.

Schreen foi quem trouxe o tratamento norte-americano para o Brasil, há três anos. Ele nunca tinha ouvido falar em plagiocefalia quando sua filha, na época com cinco meses, recebeu o diagnóstico. Ao ouvir de cinco médicos que a cabeça da menina ia ficar torta, pois não havia tratamento, o cirurgião vascular mudou-se com a família por seis meses para os Estados Unidos, onde os bebês usavam órtese craniana para corrigir a falha. “Um tratamento relativamente simples me custou um apartamento”, conta.
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Satisfeito com o resultado, Schreen estudou a plagiocefalia para oferecer o tratamento em São Paulo. No lugar do molde de gesso, o médico usa o escaneamento tridimensional a laser, exame que avalia a deformidade e gera uma imagem computadorizada. Isso permite produzir a órtese sob medida nos Estados Unidos, com prazo de 14 a 17 dias para chegar ao Brasil. “O capacete é feito de material plástico, rígido na parte externa e com espuma densa no interior que proporciona contato com as áreas proeminentes e deixa espaço onde o cérebro precisa crescer”, esclarece. “Em nenhum momento ele empurra a região proeminente para dentro, pois isso significaria dor e incômodo.”

Os pais são orientados a deixar a criança com a órtese por 23 horas por dia e tirá-la apenas para o banho. A cada 15 dias, o bebê volta ao consultório para o médico ajustar o capacete de acordo com o crescimento da cabeça. Em geral, o tratamento dura de três a quatro meses e o resultado é definitivo. No entanto, seu custo ainda é alto para grande parte da nossa população: algo em torno de R$ 10 mil.

A Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) não reconhece a órtese craniana como solução para tratar a plagiocefalia. “O assunto é controverso. Há equipes nos Estados Unidos que usam o capacete, mas não é uma conduta unânime. Ainda faltam trabalhos científicos comprovando sua real eficácia”, pontua a neuropediatra Marli Marra de Andrade, presidente do Comitê de Neurologia Infantil da SMP.

A médica defende que a mudança de postura já é suficiente para resolver o problema. “O recém-nascido dorme muito e passa a maior parte do tempo deitado. Como não está na fase de rolar sozinho, fica sempre na posição em que a mãe o coloca. Com seis meses, a criança começa a se movimentar na cama e o achatamento vai melhorar”, afirma. No tratamento convencional, avalia-se a deformidade com exame de neuroimagem, tomografia computadorizada ou raio-X, e com controle mensal para medir o crânio com uma fita métrica. Quando a plagiocefalia está associada ao torcicolo congênito, é indicada a fisioterapia.

Para Schreen, o tratamento com a órtese craniana deve ser iniciado o quanto antes, depois de completados três meses de vida. “Ou você trata no primeiro ano de vida, período em que o crescimento da cabeça é maior, ou não trata mais”, observa. O médico paulistano explica porém, que tenta primeiro o reposicionamento, orientando os pais a colocarem a criança para fazer as atividades sem apoiar a região achatada, antes de recomendar o capacete. A exceção ocorre quando o bebê tem mais de seis meses e apresenta assimetria severa. Gerd Schreen ele alega que nesse caso não há prazo suficiente para corrigir a deformidade. Já a neuropediatra defende que a plagiocefalia se resolve com o tempo, mesmo quando detectada depois do primeiro ano de vida.

Independentemente do tratamento escolhido, a detecção precoce é importante para descartar o diagnóstico de cranioestenose, doença mais grave só solucionada com intervenção cirúrgica urgente. Isso porque as placas ósseas do crânio, que nascem separadas, fecham-se antes da hora e o cérebro fica sem espaço para crescer. “Além do achatamento do crânio, a doença pode ter consequências graves. A criança pode apresentar deformidade na face e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor”, explica a neuropediatra mineira. Marli diz que o ideal é operar a criança com craniostenose preferencialmente até os seis meses de idade, não podendo passar de um ano.

Posições alternadas
Em 1992, a Academia Americana de Pediatria recomendou que os bebês deveriam dormir sempre com a barriga para cima. Isso ajudou a reduzir o número de mortes súbitas, mas influenciou diretamente na incidência da plagiocefalia, o que não significa que a criança tenha que mudar a posição na hora de dormir. Especialistas dizem que a recomendação dos norte-americanos deve ser mantida, mas os pais devem aproveitar o momento em que o bebê estiver acordado para deixá-lo de barriga para baixo, evitando que fique muito tempo com a região da nuca apoiada. Além de evitar o achatamento do crânio, a posição ajuda a desenvolver os músculos que a criança precisa para rolar, sentar e engatinhar e melhora a atividade motora. Abaixo, as dicas dos médicos brasileiros para evitar a plagiocefalia:

>> Alterne sua posição no momento de trocar a fralda. Coloque-se
ligeiramente de lado para estimular o bebê a mover a cabeça para o lado que você desejar e converse com ele de lados alternados;

>> Alterne o braço que você usa para amamentar a criança e a posição que a segura no colo;

>> Mude a posição do berço, do carrinho, da banheira e do assento de automóvel, fazendo com que os estímulos que interessem ao bebê cheguem preferencialmente do lado que precisa ser mais usado;

>> Posicione os brinquedos e outros estímulos visuais no lado do berço para o qual a criança tem dificuldade de girar a cabeça. Isso vai favorecer a rotação do pescoço;

>> Evite deixar o bebê por tempo exagerado em berços e cadeirinhas de automóveis, exceto, é claro, quando estiver no carro, condição em que o uso é obrigatório por questões de segurança.

 


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