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Estado de Minas

Antibióticos para rebanhos têm que ter uso controlado

Agência norte-americana que regula alimentos e medicamentos, FDA anuncia que certos remédios devem ter uso restrito em animais. Alegação é de que eles podem gerar resistência a bactérias no ser humano


postado em 13/02/2012 08:00

West Lafayette (EUA) – Uma polêmica antiga, datada pelo menos da década de 1960, volta à tona nos Estados Unidos e reacende discussões sobre o uso de antibióticos em rebanhos, prática amplamente disseminada e que coloca em risco a saúde humana. Em 2 de janeiro, a Food and Drug Administration (FDA), agência governamental norte-americana que regula alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, anunciou que certos antibióticos só devem ser usados em animais de corte em circunstâncias bem delimitadas, porque parecem contribuir para a resistência a medicamentos similares nos seres humanos.

O grupo de remédios sob a mira da agência é o das cefalosporinas, muito usadas no tratamento de pneumonias, amigdalites e cistites humanas. As cefalosporinas não são tão usadas na pecuária quanto a penicilina, pois requerem receita de médico-veterinário, mas são costumeiramente injetadas nos ovos de galinha a serem chocados, para evitar doenças na futura ave, bem como são a droga de escolha no tratamento de várias doenças de diversos animais.

Em novembro, a FDA negou pedido de duas velhas petições sugerindo a limitação da costumeira e abusiva dispensa de antibióticos para os rebanhos. Em 2009, a mesma FDA havia proibido a injeção de antibióticos nos ovos, alegando que a prática era uma ameaça à saúde, apenas para voltar atrás depois que as grandes indústrias do ramo protestaram.

A regulamentação muda muito, notavelmente devido à pressão das indústrias de produtos para pecuária e a farmacêutica, diretamente afetadas pelas normas. Em 2008, a agência norte-americana propôs restrições ao uso das cefalosporinas, mas sofreu forte oposição por parte de veterinários, fazendeiros e da indústria farmacêutica e acabou cancelando a regulamentação antes mesmo que ela entrasse em vigor. A regulamentação de 2012 ainda admite que os médicos-veterinários as receitem, mas pede comedimento no tratamento de criações de menor escala, como as codornas e coelhos, bem como proíbe as injeções rotineiras nos ovos de galinhas e a administração de grandes doses ou seu emprego por tempo prolongado nos rebanhos bovino e suíno.

Estima-se que 80% dos antibióticos comercializados nos Estados Unidos sejam dispensados aos rebanhos, pois eles aceleram o crescimento dos animais e, claro, dos lucros. São conhecidos como APC, ou seja, antibióticos promotores do crescimento. Fazendeiros têm ministrado antibióticos a animais de corte desde que descobriram, há décadas, que pequenas doses diárias os levam a ganhar até 3% extras na balança. Numa indústria em que centavos por cabeça contam muito, a tentação é grande.

Não se sabe muito bem por que, mas doses subterapêuticas de certos antibióticos, como a tetraciclina, fazem com que o animal ganhe peso. Parece que matam a flora que normalmente prolifera no intestino dos animais, consumindo parte de sua ração alimentar. Extinguindo-a, deixa-se de alimentar a flora e os nutrientes ingeridos revertem totalmente para o hospedeiro, resultando em ganho de peso.

Contaminação

O grande problema disso tudo é que o uso excessivo e indiscriminado aumenta a possibilidade de surgimento de patógenos resistentes aos antibióticos – e facilita o aparecimento de novas doenças, que podem vir a contaminar os seres humanos. Vários estudos, incluindo alguns da médica Margaret Hamburg, recentemente nomeada para o FDA pelo presidente Barack Obama, chamaram a atenção para os riscos do uso indiscriminado de antibióticos em animais de corte. A Organização Mundial de Saúde escolheu a resistência antimicrobiana como tema de 2011.

A polêmica é antiga: em 1968 os ministérios da Saúde e da Agricultura da Inglaterra encomendaram o Relatório Swann, divulgado em novembro de 1969 pela Comissão Mista sobre o Uso de Antibióticos na Criação Animal e Medicina Veterinária, presidida pelo professor M. M. Swann. O documento concluiu que a administração de antibióticos em animais de criação, particularmente em níveis subterapêuticos, representava riscos para a saúde tanto humana quanto animal, tendo levado bactérias entéricas de origem animal à resistência a certos antibióticos. Muito importante notar que essa resistência é transmissível para outras bactérias, bem como a bactéria entérica pode ser transferida dos animais para os seres humanos. Desde a década de 1960, o assunto já preocupava, no entanto, tão pouco foi feito desde então.

Estima-se que anualmente sejam usados milhões de quilos de antibióticos em doses subterapêuticas nos Estados Unidos. Não há qualquer dúvida quanto à necessidade de usar antibióticos em caso de doença dos animais. A controvérsia surge por dois motivos: quando antibióticos usados no tratamento de seres humanos são administrados para os animais de corte e/ou quando eles são administrados rotineiramente em doses subterapêuticas.

O uso de certos antibióticos, com o tempo, torna as bactérias dos animais resistentes a eles. O temor dos microbiologistas é que, se a pessoa que ingerir bactérias resistentes a antibióticos presentes na carne animal adoecer, pode não responder a um tratamento com medicamentos fortes.

A preocupação com as bactérias resistentes levou à proibição da administração de doses subterapêuticas a animais de corte em países da União Europeia e no Canadá. Nos Estados Unidos, esse uso ainda é legal, mas sem regulamentação e fiscalização os excessos vão continuar. A indústria agropecuária pouco ou nada divulga sobre a prática. Informações precisas sobre o assunto são quase impossíveis de obter. A legislação brasileira é bem-intencionada, mas necessitaria de muita fiscalização para surtir efeito. A Organização Mundial de Saúde já demonstrou estar preocupada com o risco de resistência aos antibióticos, sugerindo controle do uso nos animais destinados ao consumo humano.

A despeito de todas as suspeitas, os interessados na manutenção da prática alegam que ainda não há suficiente evidência de que o uso desses medicamentos nos animais de corte leve ao aumento de bactérias resistentes a eles que possam também adoecer seres humanos.

Daqui para o futuro

Produtos naturais podem favorecer o Brasil
Em todo o mundo, cresce a tendência à substituição dos antibióticos usados para promover o crescimento dos animais de corte por produtos naturais alternativos. Há muita expectativa em relação à incorporação, na ração animal, de probióticos e prebióticos produzidos a partir do fungo Saccharomyces cerevisiae, que não deixariam resíduos na carne. Uma das cepas desse fungo é usada como fermento de padaria. Esse parece que será o caminho para o desenvolvimento de produtos animais mais saudáveis. O consumo de proteínas terá um crescimento significativo no futuro e o mercado internacional será muito favorável aos produtos brasileiros, contanto que eles mantenham excelente nível de qualidade e que os produtores fiquem atentos e sigam as normas internacionais de segurança alimentar. Melhor seria que se adiantassem à tendência de proibição de práticas notoriamente danosas à saúde humana, oferecendo um produto seguro, de altíssimo padrão. Nossa extensão territorial e a qualidade técnica de muitas empresas do ramo têm tudo para permitir que o Brasil se torne um ícone de modernidade no comércio internacional de produtos pecuários e lácteos.

 


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