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Estado de Minas

Inovação a favor da sustentabilidade

Produtos mais amigáveis e reais políticas públicas ambientais podem amenizar o problema


postado em 09/02/2012 11:50

Novos modelos são lançados em espaços de tempo cada vez mais curtos. Linhas de celulares são renovadas a cada seis meses, criando uma verdadeira neurose por produtos inovadores - Eduardo Romeiro Filho, professor Departamento de Engenharia de Produção da UFMG
Novos modelos são lançados em espaços de tempo cada vez mais curtos. Linhas de celulares são renovadas a cada seis meses, criando uma verdadeira neurose por produtos inovadores - Eduardo Romeiro Filho, professor Departamento de Engenharia de Produção da UFMG
O acesso ao consumo e utilização de produtos tem sido tradicionalmente associado a uma forma eficiente de inclusão social. No Brasil, a oferta de novos produtos se acelerou a partir dos anos 2000, com o aumento da renda, crescimento do mercado interno e a entrada de inúmeros produtos estrangeiros. “Entretanto, essas novas configurações, que normalmente apresentam inovações tecnológicas em níveis diversos, nem sempre significam uma vantagem para os usuários”, afirma Eduardo Romeiro Filho, professor do Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, ao salientar que muitas vezes o resultado é o oposto. Ou seja, a nova configuração ou tecnologia normalmente incorpora uma nova interface, novas funções e formas de uso, que podem representar um verdadeiro labirinto para o consumidor, inibindo a adequada utilização do produto e, em última análise, a incorporação dos benefícios oferecidos por ele.

Às empresas, segundo ele, cabe a concepção de objetos e de interfaces mais adequadas. Criar um artigo amigável é hoje um dos maiores desafios do design na criação de produtos que sejam acessíveis e fáceis de usar, dentro de conceitos de usabilidade. “Dificuldades de compreensão de funções e de uso de recursos disponíveis e problemas observados junto a usuários de sistemas eletrônicos, como celulares, computadores, tablets, iPads e iPods, chamam a atenção para um aspecto cruel das novas tecnologias, em especial se associadas ao atual padrão de sociedade, no qual as pessoas são levadas cada vez mais a antenarem-se e manterem-se na crista da onda”, afirma.

Pesadelo
Nesse ponto, para ele, reside outro problema importante: os novos modelos são lançados em espaços de tempo cada vez mais curtos. Linhas de celulares são renovadas a cada seis meses, criando uma verdadeira neurose por produtos inovadores. “Esses equipamentos apresentam vantagens que nem sempre significam ganho real para os consumidores, como, por exemplo, a capacidade de armazenar milhares de músicas. Em quanto tempo alguém poderá ouvir todas as músicas arquivadas em seu celular?”, questiona.

Tais aspectos trazem problemas adicionais, pensando-se em termos de sustentabilidade. Quanto mais produtos descartados, quanto mais rápido ocorre esse descarte, mais problemas ambientais. “Mesmo se descartados de forma adequada (o que raramente ocorre), produtos eletrônicos apresentam problemas para desmontagem e reciclagem por usarem um grande número de materiais que são de difícil separação e reaproveitamento. A redução da vida útil dos produtos de consumo só complica o problema ambiental.”

Completando, ele ressalta que estamos diante de uma oportunidade única na história da tecnologia, quando a liberdade nos é oferecida para que possamos criar verdadeiros objetos de sonho. “Cabe aos envolvidos na concepção desses objetos, entretanto, cuidar para que essa perspectiva não se transforme em uma realidade de pesadelo, onde estejamos em um mundo que nos é cada vez mais complicado, repleto de problemas ambientais e, muitas vezes, ameaçador.”

Onde descartar seu eletrônico
Associação Municipal de Assistência Social (Amas)
» Aceita qualquer material eletrônico.
» Rua Resende Costa, 212, Bonfim. Aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
» (31) 3277-8069
» www.amas.org.br/

Centro Mineiro de
Referência em Resíduos
» Não recebe resíduos, só equipamentos de informática que estejam em condições de recondicionamento. É preciso ligar e marcar com antecedência. Assina-se um termo de doação, se o material for aprovado para a coleta.
» Avenida Belém, nº 40, bairro Esplanada – Belo Horizonte
» (31) 3465-1204
» www.cmrr.mg.gov.br

Centro de Recondicionamento
de Computadores (CRC)
» Recebe qualquer equipamento eletrônico, mas recupera somente o que é de informática.
» Rua José Clemente Pereira, nº 440, bairro Ipiranga – Belo Horizonte
» ( 31) 3277-6259

ONG Comitê para Democratização em Resíduos (CDI) Minas
» Aceita equipamentos de informática e periféricos, inclusive que não estejam funcionando, salvo monitores queimados. É preciso entrar em contato antes da doação.
» (31) 3280-3313/ 8403-9956
» www.cdimg.org.br

Empresa Mineira de Lixo Eletroeletrônico (Emile)
» Coleta eletrônicos e eletrodomésticos. É só ligar e agendar que a empresa busca o material na sua casa. Há também pontos de doação em shopping de Nova Lima, escolas e universidades de Belo Horizonte.
» Rua Maria das Mercês Lima, nº 256, bairro Betim Industrial – Betim
» (31) 3044-5280
» www.emile.net.br

Roberto Francisco de Souza, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, critica a falta de programas efetivos de defesa do meio ambiente
Roberto Francisco de Souza, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, critica a falta de programas efetivos de defesa do meio ambiente
Muito lixo, poucas ações

O resultado de tanta obsolescência no planeta é o lixo, que no caso de produtos eletrônicos é ainda mais perigoso por gerar resíduos tóxicos. E o pior, segundo explica Roberto Francisco de Souza, vice-presidente de Sustentabilidade da Sucesu-MG, é que os atuais equipamentos apresentam novas características que criam lixo com muito mais facilidade. “Imagine um desktop tradicional. Qualquer pessoa sem nenhum conhecimento técnico conseguiria desmontar um equipamento assim. Agora, pense num smartphone ou num tablet e responda como você o desmontaria. Não há como, pois a gente não consegue nem abri-los, a não ser quebrando-os”, revela. O desktop era feito basicamente de metal, já os novos aparelhos têm muito plástico e circuitos internos. E não há como tratar o plástico usado nesses produtos porque ele sempre conta com compostos antichamas, que inviabilizam a sua utilização na fabricação de outros produtos.

O responsável por muito disso é, para Roberto de Souza, a obsolescência, que ele divide em duas categorias: imposta e psicológica. No primeiro caso estão os produtos criados para durar pouco. “Na China, por exemplo, um desenvolvedor, ao fazer uma encomenda ao fabricante, é logo perguntado sobre o nível de qualidade que deseja. Ou seja, é possível fazer aparelhos similares com diferentes qualidades. É claro que o de menor preço, feito com componentes de baixo custo, vai estragar com mais facilidade e, consequentemente, gerar lixo mais rapidamente”, afirma. Já a absolescência psicológica, de acordo com ele, é aquela nascida do apelo consumista. “É o caso do tablet, que é um equipamento de ótimo hardware, de muita mobilidade etc., mas que ainda não está pronto para várias aplicações. Entretanto, muita gente o compra assim mesmo e, para atender as necessidades, acaba tendo de usar outros aparelhos em conjunto, como notebooks e smartphones. Para piorar, como são constantemente atualizados, a existência de produtos obsoletos no mercado cresce a todo instante, criando sempre novas necessidades de descartes”, completa.

Paradoxo
A obsolescência, para ele, é um paradoxo da economia, pois são as políticas econômicas que incentivam e aumentam o consumo. Porém, os governos que criam tais políticas não estão prontos para lidar com esse lixo que eles mesmo deram forma. “O conceito de descarte do lixo eletrônico por parte dos governos é o mesmo de outros materiais, quando teria de ser visto de forma totalmente diferente. Sem políticas públicas reais, nada se resolverá”, afirma ele, ressaltando que o que ocorre hoje no geral é uma transferência de responsabilidade. “Uma empresa que utiliza muitos equipamentos eletrônicos e os vê ficar obsoletos, ao doá-los a alguém ou a alguma instituição quer é ficar livre do problema, pois caberá a quem os recebeu mais tarde descartá-los, o que certamente ocorrerá de forma errada. O correto seria ela ser responsável pelos aparelhos até o fim”, opina.

Outros aspecto levantado por ele é a vinda de grandes empresas recicladoras para o Brasil, que, entretanto, estão chegando como quem está prestando um favor, quando na realidade trata-se de um negócio muito lucrativo. “Todo lixo eletrônico conta com muitos componentes, que podem ser transformados. As empresas querem receber esse lixo, que foi recolhido por alguém, sem pagar nada, deixando de obedecer a uma escala de valores. E quem trabalha precisa receber pelo que faz.”

Obsolescência vista na prática

Técnico em eletrônica há 16 anos, Marco Aurélio Pinto de Faria, de 34, conserta televisões, forno de micro-ondas, aparelhos de DVD e Blu-ray, entre outros. Ele atesta que hoje os aparelhos têm muita tecnologia e pouca durabilidade. Como exemplo, ele explica que a maioria dos equipamentos eletrônicos tem circuitos integrados e chips de memória feitos de silício. Só que atualmente é usado um "silício pobre", menos puro e misturado a outros metais, como estanho, chumbo, óxido de ferro. O resultado disso aparece na pouca durabilidade do componente, que fica com menor sensibilidade a temperaturas e baixa tolerância a variações de tensão. Da mesma forma, os gabinetes (a parte de fora dos equipamentos) eram feitos de um plástico mais resistente. "A vida útil de uma TV fabricada nas décadas de 80 e 90 era de 20 a 30 anos. Hoje é de cinco em média", ressalta Marco Aurélio. Lançamentos constantes de modelos que, segundo o fabricante, suplantam os anteriores e, por outro lado, formas de pagamento mais acessíveis, fazem com que o brasileiro tenha uma mentalidade mais consumista, preferindo trocar logo um equipamento que deu defeito a consertá-lo. “Essa troca acaba criando impacto ambiental muito grande, pois componentes feitos de metais poluentes, como chumbo, magnésio, óxido de ferro e cobre são, muitas vezes, descartados de forma incorreta”, afirma o técnico, que recomenda encaminhar aparelhos que não serão mais usados para centros de recolhimento de resíduos.


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