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Estado de Minas

Novo modelo facilita o estudo do Alzheimer

Edição de hoje da Nature apresenta pesquisa na qual, pela primeira vez, cientistas conseguiram 'fabricar' neurônios a partir de células-tronco


postado em 26/01/2012 09:24 / atualizado em 26/01/2012 09:36

Uma das dificuldades para estudar o mal de Alzheimer e, consequentemente, desenvolver terapias efetivas contra o mal é a impossibilidade de observar como a doença se manifesta no cérebro dos pacientes. Dos primeiros estágios às fases em que há maior comprometimento funcional, o diagnóstico é apenas clínico. Ao contrário de um tumor, que pode ser retirado e passar por biópsia, é impossível investigar a evolução dos fatores por trás da doença, simplesmente porque as células afetadas são os neurônios. As células-tronco, porém, mostram-se uma ferramenta poderosa para os pesquisadores, ao oferecerem pistas que podem ajudar a interromper ou mesmo reverter o processo neurodegenerativo.

Em artigo publicado na edição desta quinta da revista Nature, um grupo internacional de cientistas, liderados por Lawrence S. B. Goldstein, da Universidade da Califórnia em San Diego, deu um importante passo para o avanço de terapias contra o Alzheimer. Eles conseguiram transformar células da pele em neurônios doentes, observando os padrões de desenvolvimento da doença em estruturas vivas. Segundo Goldstein, até agora, os estudos sobre o mal só eram feitos em cérebros de cadáveres, e esta é a primeira vez em que foram criadas células vivas em laboratório.

(foto: Clique para entender melhor a pesquisa)
(foto: Clique para entender melhor a pesquisa)
Os pesquisadores usaram fibroblastos, manipulados para se transformar em células-troncos aquelas estruturas sem diferenciação, que podem virar qualquer tipo de tecido. As amostras foram retiradas de três grupos de voluntários: pessoas sem problemas neurológicos, pacientes com Alzheimer familiar (adquirido hereditariamente) e portadores da doença em sua forma mais comum. Os cientistas, então, lançaram mão de técnicas já existentes para fazer com que as células-tronco se transformassem em neurônios.

O procedimento deu certo. Os testes mostraram que, de fato, as estruturas se comportavam como neurônios, fazendo conexões entre elas, as sinapses, e exibindo atividade elétrica. As células criadas a partir de amostras de pessoas saudáveis não sofreram alterações. Os neurônios fabricados a partir de fibroblastos de pacientes com Alzheimer, porém, possuíam níveis maiores de beta-amiloide, um peptídeo associado ao desenvolvimento da doença (veja infografia acima).

Respostas
“Essa pesquisa nos forneceu respostas para várias questões importantes rumo a uma melhor compreensão do Alzheimer. Uma dessas respostas é que é possível criar neurônios e estudá-los vivos”, observa Howard Hughes, diretor do Programa de Células-Tronco da Universidade da Califórnia e um dos cientistas envolvidos no estudo. “Os padrões da doença já foram pesquisados em cérebros humanos dissecados e em animais, mas sabemos que esses não são os melhores modelos.”

Além de fornecer evidências de que células-tronco podem ser usadas na fabricação de neurônios, a experiência trouxe importantes implicações clínicas. “Há uma série de mudanças bioquímicas que ocorrem nas células do cérebro humano, conhecidas por serem importantes para o Alzheimer. O que se debate é se o fragmento beta-amiloide é o único responsável por essas mudanças”, diz Lawrence S. B. Goldstein. “Mas, no nosso trabalho, fornecemos evidências de que quem provoca as alterações nos neurônios é uma grande proteína, chamada proteína precursora de amiloide”, explica.

De acordo com o médico e pesquisador, a ciência ainda não compreende completamente os processos bioquímicos e celulares que fazem com que os neurônios do paciente de Alzheimer funcionem mal. “Essa falta de conhecimento dificulta muito o desenvolvimento de drogas efetivas. Aqui, nós conseguimos sondar, em neurônios humanos e vivos, quais os mecanismos que prejudicam a doença e que tipo de droga pode melhorar esses defeitos”, afirma.

Do ponto de vista clínico, Goldstein acredita que a pesquisa trouxe um avanço muito importante para futuras terapias que combatam o principal agente da doença de Alzheimer. “Também é possível que nosso trabalho ajude a desenvolver novos métodos de diagnóstico, que poderiam ser usados para checar o risco de alguém sofrer de Alzheimer, e melhorar a forma como são feitos hoje os testes clínicos, incluindo pacientes que tenham maior propensão de responder bem a certos tipos de drogas”, acredita. “Nossos próximos objetivos são testar alguns medicamentos, investigar anomalias bioquímicas e celulares adicionais, fazer um grande estudo com pacientes para ver se podemos usar esse método para diagnóstico e tentar gerar outros tipos de células cerebrais, a partir de células-tronco, para checar suas interações com os neurônios envolvidos no mal de Alzheimer”, conta.

Novo exame
Para Pedro Carmona, pesquisador espanhol do Instituto de Estrutura da Matéria de Madri, a ciência está, cada vez mais, aproximando-se de desvendar a doença. Ontem, ele publicou na edição on-line do jornal científico Analytical & Bioanalytical Chemistry os resultados de uma pesquisa mostrando que um exame de sangue poderá diagnosticar o Alzheimer. Atualmente, é possível checar os níveis de fragmentos beta-amiloide por meio da punção de líquido da medula espinhal. O método, porém, além de invasivo, é caro.

“Acredita-se que os pacientes de Alzheimer tenham concentrações desse peptídeo também nas células brancas do organismo, aquelas usadas para fazer a defesa”, diz Carmona. O método que ele divulgou consiste em medir a quantidade de beta-amiloide absorvida pelos leucócitos. Para tanto, os cientistas usaram um método de radiação infravermelha.


Os autores encontraram diferenças na emissão das ondas quando compararam voluntários saudáveis, portadores da doença em estágio inicial e vítimas do Alzheimer já avançado. “Cada um mostrou um padrão diferente, o que nos leva a acreditar que será possível dizer, inclusive, em que nível se encontra o problema”, explica Carmona.


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