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Estado de Minas

Composto de nitroglicerina pode evitar infarto grave

Molécula descoberta em pesquisa da Universidade de Stanford, com participação de brasileiro, evita a rejeição à nitroglicerina no controle de anginas e infartos.


postado em 23/01/2012 07:49 / atualizado em 23/01/2012 07:58

Entenda como ocorre um infarto(foto: Arte D.A Press)
Entenda como ocorre um infarto (foto: Arte D.A Press)
 

Pesquisa realizada no Departamento de Química e Biologia de Sistemas da Escola de Medicina da Universidade Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos, identificou uma molécula que, administrada com a nitroglicerina, pode evitar infartos mais graves decorrentes da tolerância ao composto. Projeto de doutorado do chinês Lihan Sun, o estudo foi realizado em parceria com o brasileiro Júlio César Batista Ferreira, também pós-doutorando na instituição.

A nitroglicerina é usada na medicina como vasodilatador no tratamento de dores no peito, conhecidas como angina. O tratamento também é utilizado nas salas de emergência de hospitais, quando pacientes chegam com sinais de infarto agudo de miocárdio. Entretanto, os benefícios para o coração estão limitados pelo desenvolvimento da tolerância ao composto. "Nesse estudo, descobrimos que a intolerância à nitroglicerina não se deve somente à perda do efeito vasodilatador do medicamento. Na verdade, quando precedido do infarto do miocárdio, o uso de nitroglicerina pode causar efeitos devastadores ao coração", explica Ferreira.

De acordo com o pesquisador brasileiro, a intolerância à nitroglicerina é resultado da inativação da aldeído-desidrogenase 2 (ALDH2), uma enzima essencial para a proteção cardíaca em humanos e animais vítimas de infarto. "O estudo verificou que a molécula Alda-1, também descoberta pelo nosso grupo em Stanford, é capaz de manter o funcionamento de ALDH2 e evitar efeitos nocivos decorrentes da tolerância à nitroglicerina durante o ataque cardíaco", diz o cientista.

A pesquisa, que durou os últimos três anos e foi publicada recentemente pela revista Science Translational Medicine, foi realizada em animais de experimentação. O estudo foi coordenado pela professora Daria Mochly-Rosen. "Depois da administração da nitroglicerina por 16 horas, induzimos infarto do miocárdio nos animais e observamos que o grupo que recebeu apresentou disfunção cardíaca maior do que os demais ao longo de três semanas após o infarto. Porém, quando administramos a nitroglicerina combinada à Alda-1, os efeitos nocivos da tolerância ao medicamento não se manifestaram", acrescenta Ferreira.

O próximo passo será avaliar os benefícios da Alda-1 em humanos. Até a molécula estar disponível para uso clínico, um estudo como esse dura cerca de 10 anos. O custo é de US$ 10 milhões (o equivalente a R$ 17,8 milhões). Para tentar viabilizar a iniciativa, o grupo de pesquisadores de Stanford criou a empresa Aldea para arrecadar fundos para a realização dos testes em humanos.

Dinamite

O uso da nitroglicerina pela medicina foi bastante posterior a sua descoberta. Foi o químico italiano Ascanio Sobrero que a criou, em 1847, e a batizou piroglicerina. Vinte anos mais tarde, outro químico, o sueco Alfred Nobel, a utilizaria na criação da dinamite. Sobrero chegou a observar que a substância provocava dores de cabeça, causadas pela dilatação dos vasos. Mas o mecanismo do efeito da nitroglicerina nos doentes cardíacos foi descoberto por três cientistas norte-americanos: Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad. Quase todos os medicamentos atualmente usados para dilatar as coronárias são derivados da nitroglicerina.

"O grande problema é a intolerância decorrente do uso sustentado do medicamento. Os efeitos devastadores resultam da inativação da ALDH2, uma enzima mitocondrial cujas funções são essenciais no sistema cardiovascular, entre as quais catalisar a conversão da nitroglicerina em vasodilatador óxido nítrico e remover aldeídos tóxicos produzidos durante o infarto do miocárdio. Com a inibição dessa enzima pelo excesso de nitroglicerina, esses aldeídos se acumulam no coração e passam a se ligar a proteínas, lipídios e ao DNA, resultando na morte celular durante o infarto do miocárdio. Com a ALDH2 ativada, é possível remover com mais facilidade esses aldeídos, minimizando os danos ao coração", conclui Júlio César Ferreira, formado em educação física pela Universidade de São Paulo e ph.D em química e sistemas biológicos e também em biodinâmica humana.

Prevenção ainda é o melhor remédio
Setenta por cento das mortes no Brasil são decorrentes de doenças não transmissíveis: câncer, diabetes, doenças respiratórias crônicas e doenças cardiovasculares. Dessa porcentagem, quase 40% dos óbitos provêm das doenças cardiovasculares: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca. Dados mais recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, referentes a 2009, dão conta de 74 mil mortes nesse ano em decorrência de infarto. E 50% das pessoas que sofrem infarto não chegam ao hospital com vida.

Diante de dados alarmantes, o que fazer? "Prevenção e detecção precoce", afirma Maria da Consolação Vieira, presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia. "E ela deveria começar ainda na pediatria, já que cada vez mais as doenças cardiovasculares acometem pessoas mais jovens." As causas são várias: obesidade, sedentarismo, hipertensão, diabetes, cigarro, colesterol elevado... A mudança do estilo de vida da sociedade moderna, com a consequente exposição precoce a um ou vários fatores de risco, vem acelerando o processo, de acordo com a cardiologista. Segundo a médica, a pessoa que sentir dor forte no peito deve procurar a urgência de um hospital para ser avaliada por uma equipe preparada para lidar com a situação.

Como ocorre o infarto
Quando parte do músculo cardiaco sofre redução ou interrupção total do fluxo de sangue ocorre o o infarto. Uma das causas mais frequentes é a obstrução parcial ou total de uma artéria coronária. Outra causa comum é a contração severa da artéria, que dificulta ou impede a oferta de sangue na área atingida. Sem irrigação, o coração sofre danos irreversíveis e pode parar de funcionar.

 


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