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Estado de Minas

Ecossistemas secos como o semiárido nordestino têm papel mais importante do que se pensava


postado em 20/01/2012 10:38 / atualizado em 20/01/2012 10:53

Clique e conheça detalhes de algumas das principais regiões de terras secas do mundo(foto: University of Wisconsin - Stevens Point - IUNC e Science)
Clique e conheça detalhes de algumas das principais regiões de terras secas do mundo (foto: University of Wisconsin - Stevens Point - IUNC e Science)

Brasília – À primeira vista, eles podem ser vistos como ambientes inóspitos à vida, desertos em formação ou regiões sem importância para o meio ambiente. No entanto, as áreas de terras secas – que incluem alguns tipos de savanas, estepes e semiáridos – estão longe de ser irrelevantes. Além de compreender 41% da superfície terrestre e abrigar 38% dos seres humanos, esse tipo de formação representa uma verdadeira joia natural, cumprindo um papel fundamental na luta contra as mudanças climáticas. A conclusão é do maior estudo já feito no mundo sobre esses ecossistemas, publicado na revista especializada Science e elaborado com a participação da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia.


Classificação climática de Köppen e os diversos tipos de climas(foto: University of Wisconsin - Stevens Point - IUNC e Science)
Classificação climática de Köppen e os diversos tipos de climas (foto: University of Wisconsin - Stevens Point - IUNC e Science)
A pesquisa avaliou 224 sistemas de terras secas em 16 países: Brasil, Espanha, Estados Unidos, México, Equador, Venezuela, Peru, Irã, Israel, Austrália, Marrocos, Tunísia, Quênia, Argentina, Chile e China. Segundo os cientistas envolvidos, esse tipo de formação contém 20% dos principais centros de biodiversidade vegetal em todo o mundo, além de ser o lar de 30% das aves endêmicas.

“Existem numerosos estudos sobre diversos aspectos das terras áridas. Contudo, sabemos muito menos sobre o tema do que sobre zonas tropicais e temperadas e zonas aquáticas”, conta ao Estado de Minas o líder do estudo, Fernando Maestre, pesquisador da Universidade Rei Juan Carlos, na Espanha.

De acordo com ele, apenas 3% dos estudos sobre relações ecológicas foram feitos em zonas áridas. “Poucos pesquisadores têm se interessado em explorar essas questões em zonas áridas, talvez porque sempre pensem que nesses ambientes o funcionamento do ecossistema é governado principalmente por fatores abióticos, como pluviosidade e temperatura”, diz o espanhol, segundo quem essa noção foi posta em xeque pelo novo levantamento. “Nosso estudo mostra que a biodiversidade é um determinante importante do funcionamento dos ecossistemas áridos, e pode ser ainda mais importante para explicar a variação em termos de funcionalidade em escala global do que fatores como a precipitação média anual”, aponta.

Serviços

Depois de inúmeras pesquisas de campo e análises de laboratório, os pesquisadores perceberam que os sistemas secos têm uma dinâmica muito mais complexa do que se imaginava. Apesar de desempenharem um papel menos intenso na reciclagem do carbono, principal causador do efeito estufa, eles têm um papel ainda assim importante nesse e em outros processos, como a purificação da água e o controle do clima, os chamados serviços ecológicos. E mais: sua participação nesses serviços está diretamente ligada à biodiversidade. Quanto mais diversa uma área, mais importante para o controle global ela é.

Classificação climática de Köppen e os diversos tipos de climas(foto: University of Wisconsin - Stevens Point - IUNC e Science)
Classificação climática de Köppen e os diversos tipos de climas (foto: University of Wisconsin - Stevens Point - IUNC e Science)
Os resultados indicam, contudo, um problema. “O aquecimento global do planeta está diminuindo a funcionalidade do árido, com um impacto negativo na sua capacidade de produzir serviços essenciais para a manutenção da vida na Terra”, conta Maestre. Isso ocorre porque o aumento na temperatura média das regiões secas inviabiliza a existência das espécies mais delicadas, diminuindo a biodiversidade, questão que se descobriu agora ser essencial para a participação efetiva das formações vegetais nos serviços ecológicos. “Hoje, podemos não chegar a um acordo sobre limitar as emissões de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global, mas podemos ajudar a minimizar as consequências de sua emissão ao restaurar a biodiversidade vegetal”, completa.

Coautor do estudo, o pesquisador David Eldridge, da Universidade de New South Wales, na Austrália, explica que a descoberta valoriza ainda mais a importância da biodiversidade, anteriormente vista com atenção especial apenas em outros biomas. “Nossas descobertas sugerem que a riqueza de espécies de plantas pode ser particularmente importante para a manutenção de funções do ecossistema ligadas ao ciclo de carbono e nitrogênio, que sustenta o sequestro de carbono e a fertilidade do solo”, diz. “Como a degradação da terra é muitas vezes acompanhada pela perda de fertilidade do solo, a riqueza de espécies de plantas também pode promover a resistência de ecossistemas à desertificação”, acrescenta.

 


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