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Estado de Minas

Cientistas têm chance única de compreender melhor os buracos negros

Eles acompanham a viagem de uma nuvem gasosa em direção a um buraco negro no Centro da Via Láctea


postado em 19/12/2011 10:04

Brasília – Os astrofísicos já começaram a fazer contagem regressiva. Em meados de 2013, eles serão testemunhas de uma morte anunciada: uma nuvem gasosa cairá nas garras de um buraco negro supermassivo, localizado no Centro da Via Láctea. Quando se aproximar desse verdadeiro paradoxo dos céus – ao mesmo tempo que minúsculo, o objeto engolidor de matéria é inclemente –, a nuvem começará a girar. A dança agonizante terminará no horizonte de eventos, a última fronteira entre o universo conhecido e um mundo totalmente obscuro. Em instantes, não sobrará mais nada.

Mas antes que a nuvem de gás seja atraída totalmente, ela poderá ejetar partículas de matéria. Além disso, os arredores do buraco negro brilham, uma consequência da gravidade comprimindo o objeto a ser sugado – raios X e ultravioleta são emitidos e, dessa maneira, os telescópios espaciais conseguem detectá-los. Eventos como esse já ocorreram diversas vezes e ajudaram na elaboração da teoria dos buracos negros, mas essa é a primeira vez que os astrofísicos conseguem acompanhar a trajetória de um objeto celeste na Via Láctea rumo ao misterioso interior desse remanescente do universo primordial.

“Com uma massa 4 milhões de vezes maior à do Sol, o Sagittarius A* (nome do buraco negro) é único porque é o ‘monstrengo’ do tipo mais próximo de nós. Somente fenômenos que ocorrerem com ele nos possibilitarão enxergar o que acontece com a matéria que orbita seu horizonte de eventos”, comenta Frederick K. Baganoff, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Em 2008, ele foi um dos astrônomos que anunciaram a aceleração da velocidade da nuvem em direção ao buraco negro.

Diferentemente dos buracos negros estelares, que são originados das supernovas, os supermassivos, que ocupam o centro das galáxias, são formados de matéria muito antiga, de quando os céus ainda tomavam forma. Como, no início, todas as estrelas eram jovens e, portanto, estavam longe de explodir, esses objetos com massa muito superior à do Sol não poderiam ser consequência de uma supernova. Por isso os buracos negros atraem tanto a atenção dos cientistas: eles guardam mistérios da origem de tudo. Se a localização deles é a Via Láctea, maior ainda a satisfação dos astrofísicos. Devido à proximidade do evento, será possível confirmar um modelo que, embora bastante provável, é ainda teórico.

“Os raios emitidos quando uma estrela ou uma nuvem se aproximam de um buraco negro são detectáveis, por isso supomos esse modelo. Mas, até hoje, não fomos capazes de vê-lo acontecendo. Essa é uma chance única”, comemora Eliot Quataert, astrofísico da Universidade da Califórnia em Berkeley e um dos cientistas que identificaram a aproximação da nuvem. Ele diz que, daqui até junho de 2013 os astrônomos não conseguirão tirar o olho do céu. “Muitas coisas interessantes vão acontecer”, afirma. A descoberta de Quataert foi publicada na edição on-line de quinta-feira da revista científica Nature e será detalhada na publicação de 5 de janeiro.

Segundo o artigo, desde 2008 os astrônomos observaram uma aceleração na trajetória da nuvem de gás, que tem massa três vezes maior que a Terra, à medida que ela se aproxima do campo gravitacional do buraco negro. A viagem acontece a inimagináveis 8 milhões de quilômetros por hora, velocidade duas vezes maior que a de sete anos atrás. Em meados de 2013, a nuvem estará a 40 bilhões de quilômetros do horizonte de eventos do buraco negro — uma distância muito curta quando se fala de universo, e que corresponde, aproximadamente, a 260 vezes o caminho entre a Terra e o Sol.

“Ela não vai sobreviver à experiência”, disse o principal autor do texto, Stefan Gillessen, em um comunicado. Por meio de um detector de infravermelho construído especialmente para o projeto no Very Large Telescope, do Observatório Europeu do Sul, ele consegue acompanhar o trajeto da nuvem ao centro da galáxia, que fica a 27 mil anos-luz da Terra.

A nuvem, segundo os cientistas, é muito mais quente que as estrelas próximas a ela, com temperatura estimada em 280 graus, e pode ter sido formada a partir de gases e poeira provenientes da colisão de duas estrelas que orbitavam próximas. Os cientistas observaram que sua principal composição é hidrogênio e hélio.


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