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Estado de Minas

Música estimula os prematuros

Professora de educação musical de Minas desenvolve pesquisa em que mostra o efeito positivo das melodias sobre atraso motor e cognitivo de bebês que nascem antes do tempo


postado em 03/12/2011 08:00 / atualizado em 03/12/2011 08:08

Se a música alegra a alma, uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tenta provar que as canções também aceleram o desenvolvimento de recém-nascidos muito prematuramente. À frente do estudo inédito no país, a professora de educação musical Maria Betânia Parizzi identificou que o estímulo com melodias é capaz de reverter o atraso motor e as deficiências cognitivas dos bebês que podem ser causados pelo parto prematuro, incentivando ainda a sociabilização da criança. O projeto existe desde maio de 2010 e acompanha 30 bebês nascidos no Hospital das Clínicas com menos de 34 semanas de vida e que pesavam até 1,5 quilo. Os resultados preliminares foram recentemente apresentados em um congresso sobre a saúde do bebê em Paris, na França.

O trabalho divide os recém-nascidos em dois grupos: experimental, quando os bebês frequentam aulas de educação musical semanalmente, durante seis meses, e de controle, quando a criança faz apenas duas aulas nesse mesmo espaço de tempo. O critério para a distribuição nos grupos é a disponibilidade da mãe para acompanhar o neném. Com doutorado na área pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Betânia quer investigar se os bebês prematuros que crescem cercados de musicalidade podem evoluir mais rapidamente do que aqueles que não têm esse tipo de estímulo a sua capacidade de comunicação.

"Esses bebês têm um início de vida muito complicado. Normalmente ficam no CTI, usam sondas e remédios fortes. Têm problemas de respiração, infecção e são inseguros emocionalmente. Eles não têm deficiências do sistema nervoso, mas atraso no desenvolvimento em decorrência da prematuridade. Já recebi um bebê com 27 semanas, que nasceu depois de seis meses de gestação e pesava 515 gramas. Se não tiverem um estímulo, essas crianças poderão chegar aos sete meses sem se sentar, sem abrir a mão e poderão ter até deficiência cognitiva na escola. Os resultados preliminares indicam que o bebê que recebe educação musical tem um desenvolvimento incrivelmente maior", afirma a professora.

COMPETÊNCIA
Ela diz que todo bebê nasce com competência inata para se comunicar, o que desenvolve ao longo do tempo dependendo do contexto em que vive e dos estímulos que recebe. De acordo com a professora, as sinapses cerebrais se reproduzem mais rapidamente na infância, período onde se aprende mais facilmente, e a música enfatiza a ampliação dessa competência. No caso de um bebê prematuro, essa capacidade fica comprometida. Segundo Maria Betânia, a criança normalmente fica mais irritada, não interage, chora muito e se assusta facilmente. Situação que se transforma com a música.

"Uma criança que só é cuidada e alimentada vai ter déficit cognitivo no futuro. Ela precisa de interação com o meio e estímulos afetivo, motor e cognitivo. A fala da mãe é o principal estímulo para o bebê, não importa o conteúdo da frase. Os adultos normalmente falam o ‘manhês’, com mais agudos e palavras que se repetem com musicalidade", explica a professora. "Essa característica absorve tons musicais, a variação do tempo, intensidade. Por isso, sempre nos dirigimos assim aos bebês".

O acompanhamento começa quando o neném atendido no Ambulatório de Criança de Risco (Acriar) do Hospital das Clínicas chega aos três meses de idade corrigida, isso é, considerando que ele tenha nascido no tempo certo. A previsão é de que a pesquisa seja concluída no final do ano que vem, com o estudo do comportamento de 52 prematuros. Segundo Maria Betânia, as crianças têm uma experiência musical ao vivo e variada, com canções folclóricas e músicas eruditas, populares e infantis com arranjo e contraste de ritmo, intensidade e andamento.

"O bebê prematuro tem tudo pronto para isso funcionar e a música provoca esse estímulo. As aulas são expressões musicais. Nós cantamos, tocamos, movimentamos o bebê e estimulamos sua percepção integrada. Músicas gravadas em CDs pouco ajudam. Levamos músicas diversificadas e de qualidade, que tragam desafio ao ouvinte. A crianças percebe o som e vê sua expressão e gesto ao cantar e tocar. Nós interrompemos a música para incentivar sua reação. Muitas vezes, eles balançam as perninhas, fazem ‘hã’, sacodem o instrumento que têm nas mãos, tentam se levantar ou se mover", conta a professora.

REAÇÃO
O trabalho é tratado como promoção da saúde e não musicoterapia, cujo objetivo é tratar alguma deficiência. Maria Betânia explica que o estudo parte da competência da criança, embora, claro, a educação musical também tenha desdobramentos terapêuticos.

"As crianças passam a sorrir mais, a ser mais solícitas às atividades, interagem mais, a ponto de balbuciar. Elas reagem quando a música para, querem mais. Ficam loucas com o pandeiro. Muitas ainda estão com as mãos fechadas, mas querem pegar e bater", diz ela. "Se o estado geral da criança melhora, observamos informalmente que ela ganha peso porque tem mais apetite e dorme melhor. Mas, de fato, o desenvolvimento motor é acelerado."

Todas as aulas são filmadas, independentemente do grupo. Depois, dois pediatras e um fisioterapeuta assistem a duas gravações – a primeira e a última –, sem saber se o bebê integra o grupo de controle ou o experimental. Dessa forma, ele avaliam em um protocolo a diferença entre as aulas e o desenvolvimento das capacidades motora, cognitiva e de interlocução da criança, por exemplo. "Temos tido 100% de acerto. É fácil perceber quando o bebê tem aulas de educação musical", garante a professora. "Se a pesquisa for comprovada cientificamente, vamos instituir o trabalho permanentemente no Ambulatório de Criança de Risco do Hospital das Clínicas."

 


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