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Estado de Minas O "AMIGO DA ODEBRECHT"

Delações de executivos mostram estreitas relações de Lula com a cúpula da Odebrecht

Acusações podem inviabilizar pretensão do petista de ser candidato à Presidência


postado em 16/04/2017 08:00 / atualizado em 16/04/2017 08:31

(foto: Arte: Janey Costa)
(foto: Arte: Janey Costa)

A megadelação premiada de executivos da Odebrecht revela que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era muito mais que um “amigo” da empresa.

Documentos e gravações que embasam o pedido de seis investigações criminais contra Lula ordenadas pelo ministro do STF Edson Fachin mostram a estreita ligação do petista com a cúpula da construtora – especialmente o patriarca Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da empreiteira.

São acusações que podem inclusive inviabilizar a pretensão de Lula de se candidatar à Presidência da República no ano que vem.

As petições contra o petista foram encaminhadas por Fachin à primeira instância da Justiça, no caso, o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, pois Lula não tem foro privilegiado.

São relatos de supostos crimes feitos pelos delatores da Odebrecht nas obras do sítio de Atibaia (SP), que seria patrimônio oculto do ex-presidente, em tratativas para aprovação de uma medida provisória que excluiria o Ministério Público Federal de acordo de leniência (espécie de delação para empresas), acerto de uma mesa para seu irmão Frei Chico, em negócios em Angola, entre outros.

Os vídeos divulgados por Fachin mostram como eram as relações do ex-presidente com a Odebrecht. Com Emílio, os contatos eram diretos e inclusive nas planilhas da empreiteira aparecem as referências “Amigo” (Lula) e “Amigo do pai” (Emílio, pai de Marcelo Odebrecht). Já os contatos com Marcelo eram feito por “intermediários” de Lula, como os ex-ministros Antônio Palocci, Guido Mantega e Paulo Bernardo.

As acusações dos executivos envolvem familiares de Lula (filho e irmão); obras no sítio de Atibaia, em São Paulo; aprovação de medidas provisórias de interesse da Odebrecht; compra de terreno para construção de sede do Instituto Lula em São Paulo; e liberação de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para contrato com Angola, na África.

Delatores disseram ainda que a empresa teria custeado despesas pessoais de Lula e palestras feitas pelo petista.

Em seu depoimento, Emílio Odebrecht comentou sobre o relacionamento próximo que mantinha com Lula, anterior à sua chegada ao Palácio do Planalto, e doações para campanhas do PT. “Lembro de, em uma dessas ocasiões, ter dito ao então presidente que o pessoal dele estava com a goela muito aberta. Estavam passando de jacaré para crocodilo”.

A estratégia deles era designar um representante de cada lado para negociar valores e definir detalhes. “Lembro de, algumas vezes, ter dito a ele algo como: Presidente, seu pessoal quer receber o máximo possível, e meu pessoal quer pagar o mínimo necessário. Já instruí meu pessoal para chegar ao melhor acordo, e peço também ao senhor para conversar com seu pessoal para aliviar a pressão”, revelou Emílio.

As tratativas entre eles incluíram o programa de parcelamento de créditos tributários, conhecido como “Refis da Crise”. O assunto interessava à Braskem, petroquímica do Grupo Odebrecht.

O patriarca da empreiteira se queixou de dificuldades impostas pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega. “Fui ao Lula e incluí este item na minha agenda pedindo a ele que procurasse verificar porque o Guido estava colocando dificuldade para resolver o assunto. Se estava precisando coragem ou se estava precisando de alguma coisa que ou nós pudéssemos suprir ou o próprio governo”, contou Emílio. “Vou falar com o Guido para verificar e qualquer coisa eu lhe falo”, respondeu Lula, segundo o executivo.

Atendendo a uma solicitação de Emílio, Lula ainda teria se comprometido a “melhorar” a convivência “turbulenta” da então presidente Dilma Rousseff (PT) com a empreiteira, problema diagnosticado também por ele. “Eu disse ‘chefe’, o senhor não iria toda hora estar me fazendo essas reclamações se o senhor também não tivesse convencimento, concordando, usando o nome dela (Dilma) para reclamar, então vamos fazer um acordo”, relatou Emílio.

Em contrapartida, o filho Luis Cláudio Lula da Silva receberia apoio da Odebrecht no projeto Touchdown, associado à criação de liga de futebol americano no Brasil.

Outro familiar beneficiado foi o irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o Frei Chico. Ele recebia uma “mesada” de R$ 5 mil para intermediar conversas com sindicatos, segundo delatores.

O “prestígio” de Lula e a certeza de sua influência no PT eram tão grandes que mesmo depois de terminado seu mandato de presidente da República, ele tinha à sua disposição, dos cofres da Odebrecht, algo em torno de R$ 35 milhões.

A ideia partiu de Marcelo Odebrecht, e a conta seria gerenciada por Antônio Palocci, ex-ministro do governo Lula. Segundo Marcelo, o valor raramente era movimentado, pois Emílio se esquecia de avisar sobre pedidos do petista. Mas parte do dinheiro custeou um terreno que seria doado ao Instituto Lula, num plano que acabou abortado. O terreno foi revendido e o saldo transferido para o “Amigo”.

 

‘Canalhas' e 'mentirosos'

 

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com veemência às acusações reveladas pelos vídeos dos depoimentos dos delatores da Odebrecht.

Em entrevista a uma rádio baiana, ele classificou de “inverossímil e irreal” a delação.

O petista também disse que não iria “rir, nem chorar” e que seus advogados exigiram provas de tudo que foi dito. Em entrevista a outra rádio, do Piauí, ele chamou de “canalhas” os autores de vazamentos “mentirosos” contra ele.

Em sua página no Facebook, o petista disse também que o povo está com “saudades” dele na Presidência e que “quanto mais é provocado, mais tem vontade” de voltar a concorrer ao Palácio do Planalto nas eleições do ano que vem.

Sobre o sítio em Atibaia, o advogado de Lula, Roberto Teixeira, afirmou que jamais combinou com qualquer pessoa “forjar” notas fiscais, ao rebater acusação do ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar. “Delação não é meio de prova e muito menos pode ser utilizada por jornalistas ou veículos de imprensa para construir suas próprias versões”, disse, por meio de nota.

Quanto ao sítio em Atibaia, a assessoria de Luiz Inácio Lula da Silva disse, em nota, que o imóvel não é do ex-presidente. Segundo o comunicado, os proprietários provaram com documentos tanto a propriedade quanto a origem lícita dos recursos utilizados na compra do imóvel. "Não comentaremos delações feitas para a obtenção de benefícios judiciais”, disse a assessoria.


Isenção


Em nota publicada na página do Facebook do Lula, o advogado Cristiano Zanin Martins afirmou que as delações são “versões unilaterais de réus que buscam sair da prisão ou obter benefícios pessoais”.

O texto diz ainda que as informações prestadas devem ser investigadas com “isenção e imparcialidade” em relação a todos os citados. “Lula sempre atuou para promover o Brasil no exterior, e não para promover determinadas empresas ou empresários", diz a nota.

Também em nota divulgada à imprensa, o Instituto Lula desmentiu as acusações, incluindo a conta de R$ 35 milhões e a planilha na qual Lula era denominado “Amigo”, e afirmou que o ex-presidente “sempre agiu dentro da lei”. “Seus familiares tiveram seus sigilos fiscais e telefônicos quebrados, sua residência e de seus familiares sofreram busca e apreensão há mais de um ano, mais de 100 testemunhas foram ouvidas em processos e não foi encontrado nenhum recurso indevido ou ilegalidade cometida pelo ex-presidente”, diz a nota.


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