No domingo, Miranda, que atuava em blogs e sites, foi morto em sua casa no bairro Morada Nobre por quatro homens armados que, após uma rápida abordagem, dispararam 22 tiros - pelo menos sete atingiram o jornalista. Miranda usava as redes sociais e sites para criticar políticos, traficantes de drogas e matadores de aluguel na cidade a 50 quilômetros de Brasília.
"A gente trabalha com a possibilidade de o homicídio ter como motivação a atividade profissional dele", afirmou o delegado regional de Águas Lindas de Goiás, Fernando Augusto Luiz da Gama. "Tudo esbarra no trabalho de João Miranda, que tinha por alvo a criminalidade comum e o meio político", completou. "Ainda é muito incipiente falar sobre o exato motivo do crime."
Reações
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) cobrou "agilidade" nas investigações. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pediu que os criminosos sejam levados à Justiça. "A impunidade de crimes contra jornalistas restringe a capacidade dos profissionais de mídia de realizarem seu trabalho e promoverem o acesso do público a fontes de informação diversas e independentes", afirmou em nota Irina Bokova, diretora-geral da Unesco.
"É uma questão de honra saber quem cometeu essa maldade contra o João e a liberdade de imprensa", disse Fernando Oliveira, dono do Folha da Copaíba, site de notícias que publicava textos de Miranda. "Perdi o artilheiro do time."
Miranda mantinha o site SAD Sem Censura e atuava em um canal de animações com críticas a políticos no YouTube. "Isso incomodava muito", disse o jornalista Jonas Batista Teodoro, um dos colegas de trabalho.
O jornalista, filiado ao PCdoB, pretendia concorrer a um cargo de vereador nas eleições de outubro. Segundo seus amigos, Miranda estava apreensivo após ter publicado histórias sobre tráfico de drogas e denúncias contra o prefeito Itamar Lemes Prado (PDT). "Eu mesmo aconselhava o João a não ser tão corajoso, a não afrontar pessoas tão perigosas", afirmou o vereador Geraldo Lacerda (PSD), de oposição ao prefeito.
'Uso político'
Por meio de sua defesa, o prefeito alegou que os opositores fazem uso "político" e "irresponsável" do crime. A advogada Eliane Laurindo Amaral disse que, desde o início do mandato, em 2010, Itamar recebe críticas de jornalistas, como Miranda, e sempre reagiu às reportagens "agressivas" no âmbito da Justiça.
"O senhor João Miranda fazia parte da oposição. Toda vez que ele publicava na Folha da Copaíba um texto mais ofensivo, o prefeito ajuizava uma ação", afirmou Eliane. "O prefeito repudia todas as campanhas de pessoas que estão aproveitando um crime para fazer política", completou.