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Estado de Minas

Mineiros pró e contra impeachment entram em batalha para conquistar votos na reta final

O foco principal são os parlamentares de pequenas legendas, de opinião volátil, que valorizam o próprio passe e negociam as condições de apoio com os dois lados


postado em 17/04/2016 06:00 / atualizado em 17/04/2016 09:58

Brasília – No teatro de operações da Câmara dos Deputados, de soldados a marechais, entra a noite e nasce o dia, o pluralismo das temáticas em pauta foi, ao longo da semana, gradativamente transformado em um ruído duotemático: favorável ao impeachment ou contrário ao golpe. Nas imediações da Casa e pelos halls pipocam manifestações favoráveis e contrárias ao governo e muitos gritos de “fora, Cunha”. Pela extensão de corredores e túneis quilométricos, muitas trombadas entre grupos de pressão e os deputados federais – eleitores do colégio que ao vivo e em cores irão expor ao país e ao mundo hoje, a partir das 14h, as entranhas e o clímax da mais profunda crise política enfrentada por um presidente eleito nos últimos 20 anos.

Ruas divididas, com o tom contra a presidente Dilma Rousseff (PT) mais alto e agressivo nas classes média e alta, em contraposição ao apoio ao governo que ressoa dos movimentos sociais e movimentos de intelectuais, a contagem informal dos votos oscilou bruscamente durante a semana, ao sabor da repercussão da manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendando ao Supremo Tribunal Federal (STF) o veto à posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Secretaria-Geral da Casa Civil, além de novos vazamentos de delações premiadas da Operação Lava-Jato.

Generais, coronéis e soldados incansáveis na agonia da batalha de cada dia, em busca de votos. O foco principal são os parlamentares de pequenas legendas, de opinião volátil, que valorizam o próprio passe e negociam as condições de apoio com os dois lados. Nas barganhas que se encetam neste cabo de guerra que divide o país, promessas de empresários para apoio, ministérios, cargos nos futuros governos. Meia centena de parlamentares que decidirão a disputa têm num cálculo volátil a expectativa de quem vencerá o seu principal ingrediente. Governadores favoráveis e contrários ao afastamento de Dilma baixaram sobre as respectivas bancadas. “Ministros-deputados” e “secretários de estado-deputados” deixaram as pastas na Esplanada e nos respectivos governos para se juntar à batalha campal. Em Minas, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), voltou à Casa. Substituiu Wadson Ribeiro (PCdoB), que já era voto governista. “Queria estar aqui neste momento, juntando forças para tentar impedir uma quebra nas regras democráticas do jogo”, afirma Patrus. “Quem banca esse processo são os mesmos atores do golpe de 64”, acrescenta.

Da coordenação da Frente Parlamentar pró-impeachment, o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG) afia os argumentos para contestar a acusação de golpe: “O PT foi favorável ao impeachment de Collor, Sarney, Fernando Henrique Cardoso. Esse é um instrumento de controle do exercício da Presidência. O STF definiu o rito. Não há golpe. Há crime de natureza eleitoral e fraude fiscal”. De forma complementar, o tucano Domingos Sávio arremata o argumento: “Quem não aderir ao impeachment não vai capitalizar nada politicamente e terá dificuldade para participar da construção do novo governo”. Em contato pessoal permanente com Temer, os deputados federais peemedebistas Leonardo Quintão e Newton Cardoso Júnior integraram uma movimentação frenética no Palácio do Jaburu, residência do vice. “Não dá para sustentar um governo desses. O Temer cumpre tudo o que promete. Este governo acabou”, anunciou Newton Cardoso Filho. Já Quintão carreou 22 parlamentares da bancada evangélica para as rodadas de negociação com o vice, em mais um entre as dezenas de leilões públicos banalizados lado a lado.

Em apoio ao governo, a deputada federal Jô Morais passou a semana divulgando manifestos de apoio a Dilma, como da União Brasileira de Mulheres, integrando eventos de solidariedade ao governo. “Um golpe de Eduardo Cunha, réu no STF, e do vice Michel Temer tenta destituir um governo eleito. Não passará”, argumentava. Da mesma forma, Reginaldo Lopes (PT), em corpo a corpo permanente, buscava segurar os indecisos da base governista da bancada mineira. “Não tem noite, não tem dia, vamos lutar por cada voto”, resume a semana.

TRÊS TELEFONES
Fiel ao governo, o novo líder do PR na Câmara, Aelton Freitas (MG), substituiu Maurício Quintella Lessa (AL), que formalizou dissidência na legenda. “Uma semana de muita pressão, muito assédio, prometem mundos e fundos, alguns não resistem”, assinala. Com a lista de apoios em sua bancada de 40 deputados e três telefones nas mãos, Freitas cumpria a missão de segurar votos contra o impeachment em sua bancada. E explicava: “José Alencar, quem me trouxe para a política, sempre insistiu: o mais importante é poder voltar. Lealdade em política é tudo. Estou em meu quarto mandato com o governo, num partido que tem o Ministério dos Transportes, não vou trair nem pular do barco numa hora destas”. Na tensão da véspera da votação, circulou muito na Câmara a história do ex-deputado federal Lael Varella, que, base de Collor de Mello, anunciou o seu voto de apoio ao presidente. Na hora derradeira, contudo, mudou de posição. Para um lado ou para outro, hoje, o imponderável espreita. E o maior problema será o dia seguinte.


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