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Estado de Minas

Investigação da Lava-Jato se aproxima de Lula

Prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, buscas no BNDES e reforço de depoimento de Marcos Valério levam foco da investigação da Operação Lava-Jato para ex-presidente, mas não há prova


postado em 25/11/2015 06:00 / atualizado em 25/11/2015 07:39

José Carlos Bumlai foi detido em Brasília e levado para Curitiba (foto: Evaristo Sá/AFP)
José Carlos Bumlai foi detido em Brasília e levado para Curitiba (foto: Evaristo Sá/AFP)

Brasília - A Polícia Federal e o Ministério Público se aproximaram mais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 21ª fase da Operação Lava-Jato, a Passo Livre, deflagrada ontem. Segundo o lobista Fernando Baiano e o empresário Salim Schahin, o pecuarista José Carlos Bumlai — amigo de Lula preso ontem — e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto diziam que Lula tinha conhecimento de um esquema para forjar empréstimo de R$ 12 milhões no banco do grupo Schain e depois obter um contrato bilionário com a Petrobras para pagar dívida do PT. A versão bateria com a narrativa do publicitário Marcos Valério, que, na iminência de ser preso pela condenação no mensalão, afirmou em 2012 que o esquema envolvia até as empresas de ônibus de Ronan Maria Pinto, que culminaram na morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT).

Além de ressuscitar dois “fantasmas” para o partido e para Lula, a ação de ontem ainda atingiu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Vedete do governo petista, o órgão já estava sob fogo cruzado quando financiamentos no exterior passaram a ser questionados por beneficiarem a Odebrecht, patrocinadora de viagens do ex-presidente. Com as buscas no BNDES, os policiais procuravam provas de empréstimos irregulares para empresas de Bumlai, que hoje deve mais de R$ 1 bilhão a credores, incluindo R$ 300 milhões à instituição financeira estatal.

O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, em seu despacho, foi cauteloso ao afirmar que o nome de Lula pode ter sido usado “indevidamente” nas negociações. Segundo ele, não existem provas contra o ex-presidente. O Instituto Lula não comentou as afirmações dos delatores.

“Eu não temo ser preso porque  duvido que tenha alguém neste país, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário, pequeno ou grande, que diga que um dia teve uma conversa ilícia comigo”, disse Lula em entrevista ao SBT, no dia 5. Em nota, o BNDES afirmou que as operações de crédito foram regulares e que está tomando as medidas para reaver os prejuízos. O advogado de Bumlai, Arnaldo Malheiros Filho, afirmou à reportagem que não poderia comentar nada neste momento. A defesa encontrou o pecuarista “sereno e tranquilo” na carceragem da PF em Curitiba, para onde ele foi levado após ser preso em um hotel em Brasília, onde prestaria depoimento na CPI do BNDES se não tivesse sido detido antes.

BÊNÇÃO Em 2004, Bumlai tomou R$ 12 milhões emprestados no banco Sachin e não pagou. Segundo o empresário Salim Schahin — que assinou acordo de colaboração premiada com os investigadores, assim como Fernando Baiano e o ex-gerente da petroleira Eduardo Musa —, a dívida foi contraída em nome do PT. Em 2009, o valor era de R$ 21 milhões. Para quitar, foi contratada a empreiteira Schain para operar a sonda Vitória 10.000 da Petrobras, um negócio que renderia mais de R$ 1 bilhão ao grupo. O empresário disse que, segundo Bumlai e Vaccari, Lula sabia da contratação da sonda. “Bumlai chegou a dizer a Fernando [Schahin] que o negócio estava ‘abençoado’ pelo presidente Lula”, afirmou Salim Schahin.

“O depoente e seu irmão Milton também receberam de Vaccari a informação de que o presidente estava ao (sic) par do negócio.” No lugar do débito, foram dados descontos por “pontualidade” e a entrega de embriões de bois para o banco. Mas, segundo o Ministério Público, tudo não passou de uma fraude. “Com essa remissão de perdão de R$ 6 milhões de pontualidade inexistente, houve total perdão dos juros e o crédito voltou para 12 milhões”, disse o procurador Diogo Castor de Mattos.

O MPF ainda desconfia de créditos obtidos por Bumlai no BNDES. Em fevereiro de 2005, quatro meses depois de Bumlai conseguir dinheiro no Schain, uma das empresas dele, a usina São Fernando Açúcar e Álcool, conseguiu um crédito na instituição estatal de R$ 64 milhões. “Na época, a empresa estava inativa, sem empregados”, desconfia Mattos. Em 2008, outro empréstimo de R$ 350 milhões. A São Fernando Energia, que tinha apenas sete funcionários e elevou seu capital social de R$ 10 mil para R$ 30 milhões, conseguiu mais R$ 104 milhões do BNDES. As dívidas não foram pagas. No ano passado, o BNDES pediu a falência da usina. “O MPF e a Receita investigam a legalidade dessas operações”, alerta Mattos. Bumlai fez 35 saques em espécie que somaram R$ 4,98 milhões em dinheiro vivo entre setembro e 2010 e maio de 2013. Até um policial militar de São Paulo fez um saque de R$ 100 mil nas contas do pecuarista. Pagamentos no exterior ainda são apurados para se identificar o destinatário final dos recursos.


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