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Estado de Minas

Duplicação do trecho mais perigoso da BR-381 é adiada

Licitação do trecho mais movimentado da Rodovia da Morte ficará para 2016. Vizinhos da BR criticam desinformação


postado em 27/07/2015 06:00 / atualizado em 27/07/2015 12:31

Desapropriações nas margens da via são o maior entrave para a ampliação. Para o Dnit, as obras podem 'sofrer reflexos' da crise econômica (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A PRESS )
Desapropriações nas margens da via são o maior entrave para a ampliação. Para o Dnit, as obras podem 'sofrer reflexos' da crise econômica (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A PRESS )

Programados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para serem lançados até julho, os editais para a duplicação do trecho mais perigoso da BR-381, entre Belo Horizonte e o trevo de Caeté, vão ficar para o ano que vem. A parte mais movimentada da rodovia se tornou uma dor de cabeça para o órgão federal, que estuda a melhor forma de licitar os lotes mais próximos da capital mineira e os valores a serem gastos com desapropriações de imóveis nas margens da via. Para os moradores vizinhos da BR, que ganhou o apelido de Rodovia da Morte pelo alto número de acidentes fatais (107 mortos entre 2013 e 2014), as indefinições do governo federal sobre a data para lançar os primeiros passos da obra no trecho da Grande BH significam transtornos, adiamentos de sonhos e frustrações.

Moradora há mais de 40 anos do Bairro Bom Destino, no limite de Santa Luzia com Sabará, a comerciante Valdirene Cristina Gomes já recebeu por três vezes avisos de que seriam feitas vistorias em sua casa por técnicos do Dnit para avaliar o valor do imóvel. Em nenhuma das vezes a visita ocorreu. “Recebi a primeira notificação avisando da visita em 2007. Daquela vez, houve uma grande confusão porque trataram moradores e invasores da mesma maneira. E quem comprou o lote com o dinheiro suado passaria por invasor. Mas a vistoria acabou nunca acontecendo. Em 2010, veio uma nova carta, mas novamente não apareceu ninguém. Há alguns meses fomos avisados da obra e que alguns bairros serão deslocados, mas ainda não veio ninguém explicar nada”, comenta Valdirene.

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A comerciante não acredita que a duplicação ocorrerá próximo a Belo Horizonte tão cedo, uma vez que são muitos bairros vizinhos à rodovia e o custo seria alto. O receio de Valdirene é confirmado pelo Dnit que informou que “não só as obras da BR-381, assim como todas as demais obras em andamento pelo Brasil podem sofrer reflexos provenientes do período de recessão do mercado financeiro”. Empresários que acompanham o andamento da obra estão pessimistas sobre o início da duplicação no trecho mais perigoso da 381 e afirmam que, nos bastidores, o Dnit já trabalha com o lançamento dos editais só no início de 2016.

O órgão descumpriu os prazos para o lançamento do edital duas vezes após a licitação em 2014. Ao declarar fracassado o processo para a duplicação do trecho entre BH e Caeté, o órgão informou que a obra foi considerada de difícil execução na comparação entre os 11 lotes em que foi dividida. O motivo é o grande número de desapropriações necessárias para a execução de um novo traçado da via. Somente na junção com o Anel Rodoviário, na comunidade Vila da Luz, moram cerca de 1,5 mil famílias.

Desilusão

As indefinições sobre a duplicação fazem com que as populações de bairros vizinhos da Rodovia da Morte se tornem cada vez mais descrentes com a política brasileira. Após várias reuniões entre os moradores e encontros com autoridades para discutir as obras no trecho, poucas soluções saíram do papel. “A comunidade cobra uma decisão, quer saber o que vai acontecer nos próximos anos, mas ficamos sempre no escuro. Na última reunião, apareceram alguns engenheiros do Dnit, mas eles não deram certeza nenhuma. A obra começará este ano? Vamos ser realocados? Essas questões estão sendo colocadas desde 2013, mas, apenas em períodos eleitorais é que aparecem deputados ou vereadores e nos prometem que vão acompanhar a questão de perto. Já nem acreditamos mais”, critica a aposentada Leda Maria Teixeira, de 62 anos, do Bairro Bom Destino.

O presidente da Associação de Moradores dos Bairros Borges, Vila Amélia e São Rafael, Marcio Antônio Moreira, alerta que a definição sobre quais imóveis serão desapropriados é importante para que as pessoas possam planejar suas vidas. “Muitos querem fazer obras em suas casas, aumentar casas ou melhorar o que já está construído. Mas ninguém quer fazer isso e ter de sair logo depois. Seria desperdício de dinheiro”, comenta Marcio Antônio.

Ele lembra que, depois de audiência pública na Assembleia, no início do ano, em que foram prometidas reuniões com moradores para explicar detalhes da obra, o Dnit não deu retorno à população local. A falta de transparência tem criado uma descrença em relação aos meios possíveis para buscar informação. “Não houve mais contato com os moradores do bairro. Na próxima semana, vamos tentar novamente conversar com o Dnit”, diz Marcio.

'Há alguns meses fomos avisados da obra e que alguns bairros serão deslocados, mas ainda não veio ninguém explicar'' - Valdirene Cristina Gomes, comerciante e moradora do Bairro Bom Destino (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A PRESS )
'Há alguns meses fomos avisados da obra e que alguns bairros serão deslocados, mas ainda não veio ninguém explicar'' - Valdirene Cristina Gomes, comerciante e moradora do Bairro Bom Destino (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A PRESS )

Sonhos adiados ao lado da pista

Além dos moradores, as incertezas sobre a duplicação nos lotes próximos à capital afetam comerciantes e lojistas vizinhos da rodovia. Impedidos de aumentar lojas e supermercados, eles contam que a demora no lançamento dos novos editais significa adiamento de investimentos na expansão de suas atividades. Dono de uma venda no Bairro Bom Destino há 20 anos, o comerciante Salvador Dutra lamenta que nos últimos sete anos – período que sua loja passou a faturar mais com o aquecimento do comércio na região –, ele se viu impedido de aumentar seu estabelecimento. “A orientação que nos foi repassada é não fazer obras, porque é preciso avaliar os imóveis sem alterações”, explica.

Situação parecida é vivida pelo mecânico Daniel Cesar, que trabalha às margens da rodovia no Bairro Borges há dois anos e reclama da falta de informações divulgadas pelo Dnit. “No ano passado, um grupo de engenheiros esteve aqui. Nos passaram uma lista de documentos para juntarmos, mas não voltaram para recolher nenhum deles. Deste então, não voltamos a ouvir notícias sobre o que ocorrerá neste trecho. O que sabemos é que, em outros em que a obra já começou, o ritmo é bem lento por falta de dinheiro”, explica Daniel.

De acordo com o último relatório da gerência de projetos do Dnit, divulgado em junho, cinco dos 11 lotes da duplicação estão em obras. O lote 3.2, próximo ao município de Jaguaraçu, foi finalizado. No trecho de 825 metros, foram entregues os túneis que permitirão um novo traçado da rodovia. O segundo lote mais avançado é o 3.3, próximo ao município de Antônio Dias, com 66% das obras realizadas. Os outros três lotes com obras em andamento estão com menos de 20% das obras finalizadas, sendo que nos lotes 1 e 2, próximos a Governador Valadares, os empreiteiros reclamaram de atrasos nos pagamentos do Dnit e, na semana passada, chegaram a fechar a rodovia em protesto. Nos outros seis lotes, a obra ainda não começou.

 


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