Os brasileiros entram na semana do Natal com a pulga atrás da orelha. Já ganharam vários presentes indesejáveis e outros ainda virão por aí. No Congresso, por exemplo, passou a artimanha contábil de diminuir o superávit primário. Tradução simultânea: o governo gastou mais do que devia e fez uma maquiagem na contabilidade para fingir que não errou. Os nobres deputados e senadores aprovaram.
Para tentar compensar, incluíram a correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda. Os trabalhadores pagariam um pouco menos no ano que vem. Mas do Palácio do Planalto já vieram os sinais de que o pequeno presente tributário provavelmente será vetado. O que era doce “acabou-se”. O leão continua esfomeado.
Os malfeitos na Petrobras parecem um saco sem fundo. Muito mais ainda deve aparecer no decorrer da investigação da Polícia Federal. E apareceu a lista com dezenas de políticos de alto quilate como beneficiários do esquema. E ainda tem Cuba. O ex-presidente Lula fez vídeo comemorando o reatamento das relações do país com os Estados Unidos e fez questão de citar o porto de Mariel, onde o Brasil pôs uma fortuna. Quem sabe não valeria a pena mandar uma equipe da PF investigar a obra? Do jeito que as coisas andam, deve aparecer alguma coisa.
E o que mais? Farta distribuição de presentes de Natal. Foram aumentados os salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – que caem em cascata por toda a magistratura –, dos nobres deputados e senadores, que atingem também automaticamente uma coleção de assembleias legislativas e, como não poderia deixar de ser, o salário da presidente Dilma Rousseff (PT).
E ainda tem o fantasma da volta da CPMF, defendida por Lula. Os brasileiros deixam de receber no IR e passam a pagar o antigo imposto sobre o cheque. O saco de maldades de Mamãe Noel Rousseff e Papai Noel Lula parece não ter fundo.
O artista e o político
Tramita no Senado o Projeto de Lei 409/2014, que dá ao município mineiro de Três Pontas o título de “Capital Nacional do Café”. A iniciativa é do senador Antonio Aureliano (PSDB-MG). Ele argumenta que a cidade sedia, anualmente, a maior feira nacional de negócios relativos ao café, a Expocafé. E para tentar sensibilizar os colegas, o parlamentar mineiro fez questão de frisar da tribuna que Três Pontas é a terra natal de Milton Nascimento. E, é claro, não omitiu que também o vice-presidente Aureliano Chaves, seu saudoso pai, nasceu na cidade.
Quem ganha
Com a aprovação da execução impositiva das emendas orçamentárias dos deputados, quem se deu bem foi um terço da Câmara, que não conseguiu se reeleger, embora muitos dos novatos sejam parentes de veteranos parlamentares. É que eles irão receber as emendas que apresentaram este ano, mesmo não estando mais no Parlamento. E poderão fazer uma média com as bases eleitorais, já de olho na disputa de 2018 ou, no caso de serem candidatos a prefeito, em 2016. Os que entram agora ficam sem emendas. Pelo menos, por enquanto. Quem sabe o governo não dá uma mãozinha com as verbas dos ministérios?
Bolsa de apostas
Tem todo tipo de prognóstico para a eleição da presidência da Câmara dos Deputados no ano que vem. Hoje, quase todo mundo concorda, o favorito é Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas já tem gente apostando na candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP). Além de ter o apoio do Palácio do Planalto, embora ele jure independência do governo, Chinaglia é considerado um “candidato mais sério”, nas palavras de um de seus colegas. Talvez por isso, há quem aponte que esta seriedade acaba se transformando em antipatia, e pode fazer com que perca votos. A resposta sai em fevereiro.
Maratona socialista
Se tem alguma coisa faltando na vida do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) nos últimos anos é conseguir tirar férias. Ele próprio brinca com a história. Em 2013, Delgado passou o recesso parlamentar em campanha para a Presidência da Câmara dos Deputados, quando teve mais de 100 votos. Este ano, integrou a equipe que ficou por conta da organização da campanha de Eduardo Campos (PSB) à presidência da República, que culminou no trágico acidente aéreo. E agora, candidato de novo a presidir a Câmara, vai voltar a percorrer o país para tentar convencer os colegas a nele votar.
Verdes independentes
O deputado estadual Agostinho Patrus Filho (foto) (PV) alerta que não há nenhuma definição em torno da postura do partido em relação ao governo de Fernando Pimentel (PT). Está sendo criado na Assembleia Legislativa um bloco independente, que pretende ocupar espaços importantes na Casa, como comissões técnicas e relatorias de projetos. E independente, para os integrantes do PV e do bloco, é votar de acordo com os interesses dos cidadãos mineiros e em prol do desenvolvimento do estado. Sem radicalismo nem submissão.
Pingafogo
O quase ex-presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), vive mesmo uma temporada de inferno astral. Depois de perder a eleição para o governo do Rio Grande do Norte, agora corre o risco de não ser ministro.
E é sério risco mesmo. Depois de ter sido citado na lista de Paulo Roberto Costa, o delator dos malfeitos na Petrobras, Henrique Alves dificilmente será ministro da Previdência de Dilma. E olha que estava quase certo que seria.
E na Assembleia Legislativa, o tempo esquentou entre a oposição que vai assumir o governo e os governistas que vão virar oposição. Resultado, sem votar o Orçamento do ano que vem, a Casa não tem recesso em janeiro.
Melhor para suplentes que assumirem o mandato, com deputados estaduais que forem para o secretariado do governador Fernando Pimentel (PT). Dá para engordar o cofrinho com um mês só de pouco serviço.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi à Procuradoria-Geral da República reclamar da inclusão de seu nome na lista do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Bem, o choro é livre.
Lindbergh Farias (foto) alega ter sido citado por Paulo Roberto Costa sobre a campanha eleitoral deste ano. E que não há nada de corrupção na história. Pois é, diga-me com quem andas, e direi quem és.