(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Discurso laico dos candidatos à Presidência volta ao debate da CNBB

Marina tenta afastar pecha religiosa. Dilma critica vitimização. Aécio promete qualificação


postado em 15/09/2014 00:12 / atualizado em 15/09/2014 07:35

Denise Rothenburg, Júlia Chaib, Taís Paranhos e Alessandra Mello

Ronaldo Fenômeno e Aécio Neves ensaiaram um jogo de capoeira depois de o candidato anunciar programa de apoio a estudantes (foto: Agência O Dia/Estadão Conteúdo)
Ronaldo Fenômeno e Aécio Neves ensaiaram um jogo de capoeira depois de o candidato anunciar programa de apoio a estudantes (foto: Agência O Dia/Estadão Conteúdo)

Brasília –
Os temas religiosos que predominaram no segundo turno da eleição presidencial de 2010, caso do aborto e do casamento gay, voltam à baila esta semana com o debate dos candidatos a presidente da República promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) amanhã, em Aparecida do Norte (SP). Desta vez, entretanto, estão todos ressabiados e tentando se blindar para não deixar que esses temas ou o fato de professarem uma religião diferente atrapalhem a campanha. Nesse último caso, quem mais trabalha o discurso é Marina Silva (PSB), que tenta tirar a pecha de fundamentalista evangélica. Ontem, ela aproveitou o domingo para citar a questão religiosa. “Hoje, muitos vão à missa. Outros vão ao culto. Aqueles que não creem vão se divertir. Meu compromisso é com o estado laico. Conviver de maneira respeitosa na diferença. Precisamos criar uma cultura de paz e não de ódio”, disse, durante evento em Ceilândia.

Na Ceilândia, Marina pregou o convívio respeitoso na diferença de crenças e garantiu estar comprometida com o estado laico (foto: Uesei Marcelino/Reuters)
Na Ceilândia, Marina pregou o convívio respeitoso na diferença de crenças e garantiu estar comprometida com o estado laico (foto: Uesei Marcelino/Reuters)

Os demais presidenciáveis não têm sentido tanta necessidade de se firmar perante o eleitorado católico. Os tucanos, por exemplo, consideram que o candidato do PSDB, Aécio Neves, que sempre participa de cerimônias religiosas em Minas Gerais, não tem problemas dessa ordem na campanha. Tampouco a presidente Dilma considera ter diferenças a tirar com a Igreja, mesmo depois de ter sido vítima de ataques de segmentos ligados aos católicos na eleição de 2010. Naquela temporada, houve inclusive a distribuição de panfletos apócrifos nas proximidades da Basílica de Aparecida, no dia da Padroeira do Brasil, 12 de outubro. Até ontem, Dilma não havia preparado nada específico para anunciar no debate da CNBB, que será transmitido ao vivo, amanhã, a partir das 21h30 por oito emissoras, 230 rádios e uma infinidade de portais de inspiração católica.

Em traje informal, Dilma chega para entrevista no Palácio da Alvorada em que respondeu às críticas da adversária socialista (foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Em traje informal, Dilma chega para entrevista no Palácio da Alvorada em que respondeu às críticas da adversária socialista (foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

Assessores da campanha da presidente consideram que temas religiosos não dominarão o debate nesta reta final de primeiro turno, tampouco no segundo. Em conversas reservadas, eles têm dito que o que está em jogo é um projeto de país – o modelo que está aí e o que será proposto pelos demais. Portanto, os temas se referem mais aos programas sociais, à eficiência dos serviços públicos e à economia. Tudo isso, obviamente, entremeado com o chamado combate à corrupção, em que os adversários de Dilma tentam debitar da conta reeleitoral todo e qualquer escândalo que envolva o Poder Executivo federal.

Nesse domingo, por exemplo, no comício do PSB em Ceilândia, a crise na Petrobras se fez presente. Ao rebater os ataques que tem recebido do PT, Marina entremeou o discurso de oferecer “a outra face” com críticas diretas: “À corrupção da Petrobras, eu ofereço a face da honestidade”, disse ela, ao lado do candidato a governador Rodrigo Rollemberg (PSB), do candidato a senador na chapa, Antonio Reguffe (PDT), e do senador Cristovam Buarque (PDT), que não disputa cargo nesta eleição, mas tem trabalhado em favor dos colegas. “Temos que eleger a bancada da Marina, que não será comprada com mensalão nem recursos da Petrobras.”

“Indignação”

Dilma Rousseff, por sua vez, respondeu às críticas de Marina durante coletiva no Palácio da Alvorada. “Eu não ataco, eu divirjo. Isso faz parte da democracia”, disse a petista, para, em seguida responder à declaração de Marina sobre o “assalto” à Petrobras por 12 anos: “Tive um momento de indignação quando a candidata se referiu ao que foi feito pelo PT na Petrobras em 12 anos. Primeiro, porque ela foi do PT por 27 anos. Dos 12, ela esteve no ministério ou na bancada do partido em oito. (...) Houve um ataque que não acho que foi político. Não tenho nenhum problema em discutir o que está no programa da candidata. Não cabe à gente se vitimizar. Enquanto a discussão for política e não disser respeito à honra e a características pessoais de ninguém, que se dê o debate e falem de projetos, que é da democracia”, disse Dilma. Quanto às declarações de Marina de que os adversários só a atacam, Dilma respondeu que quem quer ser presidente tem que saber aguentar “críticas e pressão”. “Não tem coitadinho na Presidência. Quem se sente coitadinho não pode chegar lá”, afirmou.

A presidente havia convocado a coletiva para dizer que abrirá uma segunda fase do Ciências sem Fronteiras, com a oferta de mais 100 mil bolsas de estudos no exterior. Segundo ela, 86,1 mil pessoas já participaram do programa. E, no novo edital de seleção, aberto até o dia 29, já se inscreveram 60 mil pessoas para disputar 14,9 mil bolsas. Por isso, segundo ela, quem não participar agora terá nova chance com a segunda fase.

Programa tucano

O candidato do PSDB, Aécio Neves, que recebeu ontem o apoio explícito do ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno, também aproveitou o domingo para anunciar uma nova bolsa a estudantes durante visita à Central Única das Favelas (Cufa), em Madureira, Zona Norte do Rio. Acompanhado por Ronaldo, Aécio prometeu pagar um benefício no valor de um salário mínimo por mês para garantir a conclusão dos estudos a jovens brasileiros entre 18 e 29 anos que não completaram o ensino fundamental ou o médio, a exemplo do que ocorre por meio do Poupança Jovem, que desenvolveu durante seu governo em Minas Gerais. “Eu vou pagar uma bolsa de um salário mínimo para resgatar os 20 milhões de jovens que não concluíram esse ensino. Eles vão completar o fundamental. Os que quiserem vão concluir o ensino médio e a gente vai qualificá-los no curso técnico, que tem a ver com as oportunidades do mercado.”

Segundo o presidenciável, ao fim de cada ano de ensino, os alunos receberão o recurso da bolsa em uma conta pessoal, podendo retirá-lo no término do curso, desde que tenha tido assiduidade e bom comportamento. O candidato defendeu ainda a implantação de políticas de qualificação profissional e geração de renda nos aglomerados e favelas. “Nós temos que levar políticas de geração de renda e de qualificação para as pessoas onde elas moram. Existe um conjunto de ações que estamos propondo que, além da qualificação, permitirá a oferta de crédito, a construção de hospitais nos grandes aglomerados brasileiros e escolas de qualidade. Não adianta a gente criar uma expectativa para esses jovens se não dermos condições”, disse. “Esse discurso de que o Estado é que transformou a sua vida é uma grande enganação”, disparou. Em seguida, voltou sua artilharia contra Marina Silva reafirmando que sua candidatura não adquiriu condições de governabilidade.

Aécio e Ronaldo– presente pela primeira vez em um evento de campanha do tucano e que, mais tarde, postou no Instagram foto de sua família com o candidato – chegaram juntos a Madureira, onde participaram do lançamento do livro Um país chamado favela, de Celso Athayde, fundador da Cufa, e Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular. Juntos, ensaiaram um tímido jogo de capoeira e se arriscaram na “dança do passinho”.

Enquanto isso...

…Dólares repatriados


Depois de passar as duas últimas semanas prestando depoimentos para cumprir o acordo de delação premiada sobre o esquema de desvio de dinheiro na Petrobras, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa aceitou repatriar US$ 23 milhões que haviam sido depositados na Suíça. Isso pode fazer com que ele saia da cadeia ainda esta semana, como parte de um acordo firmado com o Ministério Público Federal no Paraná. Se for solto, ele deverá usar tornozeleira eletrônica. O acordo para pagar os US$ 23 milhões em conta no exterior foi revelado ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo. Os depoimentos de Costa apontaram o envolvimento de diversos políticos na esfera do Executivo e do Legislativo com o suposto pagamento de propina da estatal. E a Petrobras confirmou na tarde de ontem que o perfil de Paulo Roberto Costa na enciclopédia colaborativa Wikipedia foi alterado por meio de um computador com IP da estatal. O texto, que ficou no ar por cerca de seis minutos, dizia que Costa havia sido demitido pela presidente Dilma Rousseff por estar “muito soltinho


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)