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Estado de Minas

Ditadura matou a estilista Zuzu Angel, diz ex-agente do Dops

Ex-delegado afirma que acidente de carro que vitimou a estilista foi planejado pelo regime devido à mobilização feita por ela em busca do filho desaparecido, o militante Stuart Angel


postado em 24/07/2014 00:12 / atualizado em 24/07/2014 07:11

Cláudio Guerra afirmou também que os assassinatos de Paulo Malhães e Júlio Molina foram queima de arquivo (foto: José Cruz/ABR)
Cláudio Guerra afirmou também que os assassinatos de Paulo Malhães e Júlio Molina foram queima de arquivo (foto: José Cruz/ABR)

Brasília – Em seu segundo depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra afirmou ontem que a morte da estilista Zuzu Angel, em 1976, foi provocada pela ditadura militar. Ela morreu em um suposto acidente de carro, e, segundo ele, um coronel do Exército teria sido fotografado próximo ao local. “Ele (Freddie Perdigão) narrava para mim que tinha planejado, obedecendo a ordens, a simulação do acidente dela e que estava muito preocupado porque havia sido fotografado. Ele achava que era a perícia que o tinha fotografado sem querer”, afirmou Cláudio Guerra, em depoimento na tarde dessa quarta-feira.

O ex-agente da ditadura apresentou à comissão uma foto que seria de Perdigão no local. Porém, o material estava recortado só para a figura dele e distorcido, por ter sido ampliado, impedindo a identificação exata do cenário. Uma versão maior da imagem deve ser entregue posteriormente aos integrantes da CNV.

Hoje evangélico, Guerra lançou um livro em 2012 revelando suas ações sob ordem do regime militar. Ele se diz arrependido, e por isso tem colaborado com a Comissão da Verdade com informações. “Eu não sou dedo-duro, estou buscando trazer a verdade para uma parte negra da nossa história ser passada a limpo”, disse o ex-agente, que atuou também no Serviço Nacional de Informações (SNI).

O coordenador da Comissão da Verdade, Pedro Dallari, afirmou que as informações repassadas ontem serão acrescentadas a outros dados obtidos pelo órgão que indicam que o acidente da estilista foi planejado. “Temos outros elementos que nos permitem ir convergindo para essa conclusão do assassinato da Zuzu Angel. Você não forma convicção a partir de um único elemento, é um indício, mas há alguns outros elementos que estamos pesquisando. Vai nessa direção e faz todo o sentido”, disse Dallari.

Zuzu Angel era mãe de Stuart Angel, militante do grupo guerrilheiro MR-8 preso em 14 de maio de 1971 e até hoje desaparecido. Com seu desaparecimento, Zuzu Angel promoveu uma mobilização nacional e internacional em busca do filho, tornando-se uma figura incômoda ao regime militar. As Forças Armadas negam a teoria de assassinato.

O coronel Freddie Perdigão, morto em 1997, é apontado como torturador que atuava na Casa da Morte de Petrópolis. Segundo Guerra, Perdigão lhe entregava corpos para serem incinerados em uma usina em Campos dos Goytacazes, Zona Norte do Rio de Janeiro. No depoimento, Guerra relatou 13 casos de pessoas incineradas por ele, por ordens do regime militar. O ex-delegado disse ainda que, se ele fosse cumprir pena por tudo o que fez, nunca sairia da cadeia.

Queima de arquivo

Guerra afirmou também que os assassinatos do coronel Paulo Malhães em abril, pouco depois de assumir torturas à Comissão da Verdade, e do coronel Júlio Molina, em novembro de 2012, que também atuou na ditadura, foram queimas de arquivo. Ele disse, porém, não ter informações concretas que apontem isso. “Eu creio, não só a morte do Paulo Malhães como a do coronel Molina, que morreu no latrocínio no Rio Grande do Sul, foram execução, queima de arquivo. É o mesmo modus operandi que nós usávamos no passado: simular um assalto, simular um acidente”, afirmou Guerra.

No caso de Malhães, a Polícia Civil concluiu que o caso foi latrocínio – ele foi morto para roubo de suas armas, que seriam revendidas. Guerra relatou que há um mês viajaria ao Rio de Janeiro e um amigo lhe avisou para não ir, porque seria morto em uma simulação de bala perdida. Mas ele rejeitou oferta de proteção feita pela Comissão da Verdade. “Se hoje eu morrer, glória a Deus. Eu tirei tantas vidas, né?”

O ex-coordenador e membro da CNV José Carlos Dias disse ontem que a morte de Malhães “apavorou muita gente” entre os depoentes do grupo. Dias e outros integrantes da CNV se reuniram com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti. “A coincidência daquela morte foi estranha e serviu de estímulo para que muitos se recusassem a falar, a comparecer. É o medo. Isso é muito significativo. Mas conseguimos saber muitas coisas e, cruzando com documentos, vamos apresentar um relatório substancioso”, disse Dias, sobre documento final da comissão, que será apresentado em 10 de dezembro.

 

Juscelino

A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo vai usar um parecer assinado por Gilberto Bercovici, professor da Universidade de São Paulo (USP), para tentar sustentar a tese de que a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 22 de agosto de 1976, não foi fruto de um acidente e, sim, de um assassinato. Bercovici argumenta que, em caso de dúvida, deve prevalecer a interpretação de assassinato. No fim do ano passado, depois de ouvir dezenas de testemunhas e reunir 103 provas, o grupo concluiu que JK foi vítima de um acidente forjado na Rodovia Presidente Dutra, na altura do município de Resende, no Rio de Janeiro. Ele teria sido vítima de um complô orquestrado pela ditadura militar. Em abril, a Comissão Nacional da Verdade contrariou as conclusões da Municipal e corroborou a versão de que um acidente matou o ex-presidente.


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