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Estado de Minas

Integrantes da Comissão da Verdade chegam ao Chile para apurar prisão de brasileiros

Uma equipe chega hoje a Santiago para conhecer o trabalho das duas comissões feitas pelo Chile e levantar documentos que comprovem a cooperação iniciada logo depois do golpe que derrubou Allende, em 1973


postado em 20/04/2014 06:00 / atualizado em 20/04/2014 08:28

Chanceler do Chile, Heraldo Muñoz, diz que a presidente Michele Bachelet determinou que se busque toda a documentação para esclarecer o que se passou(foto: Carlos Vieira/DF/DA Press - 6/11/2002)
Chanceler do Chile, Heraldo Muñoz, diz que a presidente Michele Bachelet determinou que se busque toda a documentação para esclarecer o que se passou (foto: Carlos Vieira/DF/DA Press - 6/11/2002)


Brasília – Vinte dias depois do golpe que derrubou o presidente Salvador Allende e instaurou uma ditadura militar no Chile, a embaixada do Brasil tinha em mãos uma lista de 57 brasileiros presos no Estádio Nacional. Documento do Itamaraty, carimbado como "secreto e urgentíssimo", pedia a cinco órgãos de inteligência instruções sobre o que fazer com os homens e mulheres recolhidos pelos militares chilenos. Em vez de ajudar seus compatriotas, porém, os diplomatas brasileiros estavam mais preocupados em passar ao regime informações sobre a movimentação dos exilados no país vizinho.

As relações entre a ditadura militar chilena e a brasileira serão alvo de mais uma investigação da Comissão Nacional da Verdade. Uma equipe comandada pelo cientista político Paulo Sérgio Pinheiro chega hoje a Santiago para conhecer o trabalho das duas comissões feitas pelo Chile e levantar documentos que comprovem a cooperação iniciada logo depois do golpe que derrubou Allende, em 1973. O telegrama da embaixada transformado em uma nota da então Divisão de Segurança e Informações, hoje extinta, marca o embrião de uma cooperação entre as duas ditaduras. Foi fornecida pelos militares chilenos, que estavam interrogando um a um os presos brasileiros no estádio, que, ao final, passaram de 80.

O que poderia parecer um levantamento comum de brasileiros em situação de risco no exterior se mostra, na verdade, um relatório de informações sobre a militância de cada um. "Da relação de brasileiros que se encontram presos no Chile, identificamos os abaixo relacionados como elementos da "Associação Brasileiro-Chilena de Solidariedade (ABCS)", informa o texto. A associação, chamada de "caixinha" pelos exilados, ajudava os recém-chegados com dinheiro para se manter. Para os militares, era um centro de atividade política de esquerda.

 O documento lista a ficha corrida de 11 pessoas, com os antecedentes de alguns dos presos. Relata ainda quem seriam expulsos, interrogados mais uma vez ou julgados pela Justiça militar chilena. "Essa é uma prova de que a embaixada do Brasil tinha conhecimento do que estava acontecendo com os brasileiros. Mas a ação deles não foi de proteger o cidadão brasileiro, foi de passar informações para o governo militar", afirma o advogado Vitório Sorotink, um dos prisioneiros no Estádio Nacional. Ao cair o regime de Allende, em 11 de setembro de 1973, cerca de 5 mil brasileiros viviam no Chile, a maioria exilados do regime militar de 1964.

Refúgio O antropólogo Tomás Tarquínio e o advogado Vitório Sorotink são dois dos brasileiros que aparecem na lista da embaixada do país no Chile. Presos no Estádio Nacional, foram agredidos e interrogados pelos militares chilenos alguns dias depois do golpe que instaurou uma ditadura militar no Chile. Ex-militantes estudantis, os dois foram parar em Santiago logo depois do Ato Institucional nº 5, que endureceu ainda mais a ditadura brasileira. "Até o golpe de 1973, o Chile era um local de refúgio", conta Sorotink. Depois do golpe, no entanto, boa parte dos brasileiros foi parar no Estádio Nacional e no Estádio Chile, transformados em prisão temporária. Tarquínio foi preso em 13 de setembro, dois dias depois do golpe

Apanhou durante alguns dias para servir de "exemplo", por ser estrangeiro, antes de ser levado ao Estádio Nacional. "Eram tantos presos que eles não sabiam mais onde colocar. Por isso levaram para o estádio. Bastava ser estrangeiro para ser levado", conta. No estádio, eles tiveram contato com os militares brasileiros enviados ao Chile para ajudar nas torturas. Após negociações com embaixadores e organismos internacionais, alguns deles sem interesse imediato para a ditadura chilena foram despachados para campos de exilados das Nações Unidas. Tarquínio foi para a França; Sorotink, para a Suíça.


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