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Estado de Minas

Restos mortais do ex-presidente João Goulart serão analisados por peritos europeus

Amostras dos restos mortais do ex-presidente serão enviadas a laboratórios de Portugal e Espanha, que ajudarão a Polícia Federal a tirar dúvida sobre suspeita de assassinato


postado em 06/04/2014 06:00 / atualizado em 06/04/2014 07:48

Dois laboratórios – um da Espanha e outro de Portugal – foram contratados pela Presidência da República para a análise dos restos mortais do presidente João Goulart, que estão sendo periciados para afastar a suspeita de que ele foi assassinado durante a ditadura militar, na Operação Condor. O laboratório da Universidade de Múrcia, na Espanha, vai receber o material ósseo, e o da Universidade de Coimbra, em Portugal, analisará tecidos moles. Parte das amostras está sendo periciada pela Polícia Federal brasileira, depois de o corpo do ex-presidente ter sido exumado, em novembro. De acordo com o neto de Jango, o advogado Christopher Goulart, apesar de os laboratórios terem sido escolhidos em dezembro, o envio dos restos mortais sofreu atraso e ainda não foi feito, mas isso não deve comprometer o prazo de divulgação do laudo oficial. “O material está bem conservado”, ressalta Goulart.

Christopher Goulart, que é suplente de vereador pelo PDT em Porto Alegre (RS), disse que a luta da família agora é manter o interesse político pelo esclarecimentos da morte de seu avô, já que os meios para isso foram viabilizados. Ele conta que desde a exumação tem feito uma verdadeira peregrinação pelos órgãos envolvidos no trabalho de apuração das circunstâncias da morte de João Goulart. “Nos próximos dias, vou pedir uma reunião com a nova secretária de Direitos Humanos, Ideli Salvatti (PT-SC), para tratar do assunto e solicitar mais agilidade no envio do material para perícia. Na semana passada, estive no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Federal para acompanhar os trabalhos”, disse Goulart, que espera que o prazo de um ano seja suficiente para esclarecer se a morte do avô foi mais um crime cometido no período de exceção de direitos.

“Enfermedad” João Goulart morreu em 1976 no exílio, em sua casa em Mercedes, na Argentina. O corpo foi enterrado sem autopsia. A certidão de óbito de Jango se limita a dizer que ele foi vítima de uma "enfermedad" (doença). De acordo com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), os laboratórios no exterior vão realizar exames toxicológicos, já que existe a suspeita de que o ex-presidente foi envenenado, com a troca da medicação da qual fazia uso diário. Por sua vez, o Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal – que coordenou todo o processo de exumação – ficou responsável pelos exames antropológicos e de DNA. A CNV informou ainda que as amostras foram coletadas pelos policiais federais brasileiros e lacradas para envio aos países colaboradores.

Apesar de ser bem equipado, o Instituto de Criminalística da Polícia Federal brasileira não dispõe de meios para testar algumas substâncias que poderiam ter causado a morte de Jango. Entre elas estão o Isodril e Adelfan – consumidos para tratar a cardiopatia do ex-presidente –, além de substâncias que podem levar à morte, como cloreto de potássio, clorofórmio e escopolamina.

Os restos mortais do presidente João Goulart foram exumados em 13 de novembro, em São Borja (RS), sua cidade natal, e transladado para Brasília, onde foi recebido com honras militares, em cerimônia que contou com a presença dos últimos cinco presidentes: José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma Rousseff.

Quatro perguntas para...

MARIA THEREZA GOULART - Viúva do ex-presidente João Goulart


O presidente demonstrava preocupação com uma possível deposição do governo?
Era uma época difícil. O Jango estava cercado de pessoas e políticos bons, mas o clima era de tensão, os partidos não se entendiam. Queriam que ele realizasse coisas que dependiam de aprovação do Congresso por risco e conta própria, mas ele era um homem muito cauteloso e sabia de suas responsabilidades. Acho que, no fim, ele sabia que estava sozinho e que o desfecho era uma coisa iminente. Preferiu seguir com suas convicções a ceder diante das exigências da direita e da esquerda. Preferiu cair de pé.

Jango demonstrou alguma frustração por ter sido traído por alguém da sua confiança?
Ocorreram inúmeras traições de pessoas que ele havia eleito, cujas carreiras políticas ele havia ajudado a construir, de pessoas que havia ajudado e ficaram ao lado da ditadura. Ele sentia muita mágoa dessas pessoas, inclusive algumas que encontrou posteriormente no exílio e tinham vergonha de vê-lo, de atravessar uma rua para cumprimentá-lo, pois tinham vergonha de suas próprias atitudes.

Existe alguma coisa deixada para trás, depois que foi deflagrado o golpe, que tinha um significado especial e que a senhora ainda gostaria de reaver?
Deixamos bens, quadros, joias, carros etc. Mas isso não é mais importante do que as pessoas em nossa família, como meu pai e minha mãe, de quem nem sequer pude despedir-me em suas mortes. Fui presa em São Borja para ver meu pai. Mas é triste sim. No casamento de meu irmão, no Rio, vi uma joia minha, um colar no pescoço de uma senhora casada com um militar.

Com os 50 anos do golpe, o que lhe passa pela cabeça?
Quero agradecer a Deus por me permitir estar ainda aqui presenciando este grande momento de reflexão que está se dando no Brasil com a figura de Jango. Ele merecia esse reconhecimento, e, onde quer que ele esteja, estará feliz, pois a história está lhe dando o reconhecimento devido. O Brasil que ele tanto amou está refletindo seu governo em prol dos menos favorecidos. Acho que esta é para mim a grande recompensa. Jango acordou novamente para o Brasil.


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