Brasília – Para quem pensa que os mascarados e o gás lacrimogêneo serão apenas uma lembrança de 2013, um recado: “Com toda a certeza, vai ter manifestação na Copa do Mundo e às vésperas das eleições”, avisa Raíssa Labanca. A estudante de direito faz parte do grupo que, batizado de Marcha do Vinagre, ajudou a levar dezenas de milhares de brasilienses às ruas, entre junho e setembro. “Não acabou porque as pessoas saíram das ruas. Já há convocações para 2014 com o mote ‘não vai ter Copa’”, confirma Esther Gallego, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A pesquisadora acredita que o momento de calmaria se deve a “uma reorganização para 2014”. Nas redes sociais, dezenas de eventos simultâneos já estão agendados para 25 de janeiro.
Embora se definam como protetores dos manifestantes contra os excessos policiais, os black blocs não são unanimidade mesmo entre outros ativistas. “Sou contra esse tipo de manifestação, acho que protesto tem de ser pacífico. Vi policiais que estavam lá por obrigação, pois, se dependesse deles, se juntariam aos manifestantes”, explica Raíssa. Para a organizadora da Marcha do Vinagre, o esvaziamento das ruas se deu por dois fatores. “Um pouco de desilusão, e a violência. As pessoas sabiam que ia ter violência.”
INVESTIGAÇÕES
Em São Paulo, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) já ouviu 150 pessoas, em um único inquérito policial, “para investigar a atuação de black blocs em meio a essas manifestações”, informou a Secretaria de Segurança Pública do estado. “As condutas estão sendo individualizadas, com a possibilidade de enquadramento por associação ao crime”, completou a pasta. Neste ponto, Raíssa e os black blocs estão do mesmo lado: são alvo de monitoramento pela inteligência policial. A estudante relata que todos os organizadores da Marcha do Vinagre foram grampeados, o que causou medo em muita gente. Esther Gallego avalia que a perseguição também afastou os mascarados das ruas. “Talvez a repressão seja tão dura que acabe com o movimento. Você vê meninos jogando uma pedra e sendo enquadrados por organização criminosa, isso é muito duro.”
Além da perseguição policial, Raíssa acredita que o movimento que chegou a levar mais de um milhão de brasileiros às ruas, em um único dia, tomou um banho de água fria com a reação dos mandatários políticos. “As respostas não foram suficientes, foram um verdadeiro embala neném.” A pesquisadora da Unifesp também avalia a reação do poder público como insuficiente. “É uma questão política transformada em questão policial. Seria mais sensato o governo pensar no que realmente está acontecendo.” (Colaborou André Shalders)