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Estado de Minas

Poeta diplomata, Vinicius de Moraes completaria 100 anos

Carreira no Itamaraty, onde o compositor entrou por concurso, abriu as portas para Vinicius de Moraes, que levou o nome do Brasil para o mundo


postado em 19/10/2013 06:00 / atualizado em 19/10/2013 08:53

Vinicius, entre os escritores Rubem Braga e Ferreira Gullar, conversa com o poeta chileno Pablo Neruda (D), um dos seus amigos da época em que vivia em Paris como diplomata(foto: Augusto Corsino/O Cruzeiro/EM - Setembro/69)
Vinicius, entre os escritores Rubem Braga e Ferreira Gullar, conversa com o poeta chileno Pablo Neruda (D), um dos seus amigos da época em que vivia em Paris como diplomata (foto: Augusto Corsino/O Cruzeiro/EM - Setembro/69)


Poeta, compositor, escritor, cantor, dramaturgo e diplomata. Essa última função é a menos lembrada quando se fala sobre Vinicius de Moraes. O carioca, que completaria hoje 100 anos, se destacou tanto pelas composições e poesias que é até compreensível que as lembranças sobre sua trajetória musical sejam bem mais reconhecidas do que os fatos que marcaram sua carreira na diplomacia. Mas Vinicius também ajudou a levar o nome do Brasil para outros países de forma institucional. Na função de promover a cultura brasileira, ninguém mais adequado do que um dos compositores da segunda música mais cantada na história. Com mais de 500 interpretações gravadas em vários países, Garota de Ipanema – fruto de parceria com Tom Jobim – só foi menos tocada do que Yesterday, dos Beatles.


Em 1942, Vinícius foi aprovado em concurso do Itamaraty, depois de aconselhado pelo diplomata Oswaldo Aranha. A função, antes de ser uma vocação do poeta, garantiria uma tranquilidade para ele consolidar sua obra. No ano seguinte, ingressou oficialmente na carreira diplomática, com 29 anos, sendo nomeado para o cargo inicial no Ministério das Relações Exteriores pelo então presidente Getúlio Vargas. Em 1946, foi indicado para a vaga de vice-cônsul em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde ficou por cinco anos.


Nessa primeira atuação como diplomata, Vinicius se aproximou de artistas brasileiros que faziam grande sucesso nos Estados Unidos, como Carmen Miranda, e personalidades internacionais, como o cineasta norte-americano Orson Wellws. Ele acompanhou de perto algumas montagens cinematográficas em Hollywood, que se concretizava como capital do cinema. Com a morte de seu pai, em 1950, o poeta retornou ao Brasil e aumentou seu volume de produções musicais.


Três anos depois, em dezembro de 1953, ele seguiu para a França como segundo-secretário da embaixada brasileira em Paris e era presença frequente nos círculos culturais da capital francesa. Autorizado a voltar para o Rio de janeiro em 1956, como forma de férias-prêmio, ele permaneceu em sua cidade natal por quase todo o ano e passou a se voltar cada vez mais para trabalhos com música popular. Ao convidar Antonio Carlos Jobim para fazer uma música para a peça Orfeu da Conceição, deu início a uma parceria que, com a união do cantor e violinista João Gilberto, criaria o movimento de renovação da música popular brasileiro, conhecido como Bossa Nova.


Para o vice-diretor da Escola de Música da UFMG, Mauro Rodrigues, a opção pela diplomacia serviu  para abrir as portas para o músico brasileiro e levou para outros países um estilo que representou bem o país. “A garantia de contatos institucionais fora do Brasil como diplomata o ajudou a levar um movimento cultural que ficaria como marca do nosso povo. Como diplomata, ele teve as portas abertas para mostrar seu trabalho”, explica Rodrigues. Em 1957, Vinicius  transferiu-se de Paris para Montevidéu, no Uruguai, atuando ao lado da delegação brasileira na Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), onde ficou até 1960. Ao retornar ao Rio, ele manteve seu cargo no Ministério das Relações Exteriores.

Com o passar do tempo e com sua obra ganhando cada vez mais repercussão, o poeta conseguiu levar uma boa imagem do país. “Esse espírito otimista e positivo que Viníicius carregava, principalmente com a bossa nova, ficou marcado na imagem do brasileiro lá fora. Uma síntese do estilo africano e europeu, que destacava nossa cultura. E isso não foi positivo só lá fora, mas aqui também, já que a difusão desse estilo afetivo e alegre fez com que ele fosse assumido e valorizado dentro do Brasil”, avalia o professor, especialista em música popular brasileira.


CASSAÇÃO
Apesar do reconhecimento como um dos maiores poetas e músicos do país, o fim de sua carreira como diplomata foi cercado por polêmicas e mágoas. Em 1969, cinco anos depois do golpe militar, Vinicius foi cassado pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5). Segundo trechos de relatório elaborado pela Comissão de Investigação Sumária – criada pelo regime militar para fiscalizar os órgãos nacionais –, o gosto pela noite era um dos entraves para sua atuação no Itamaraty.

 

Em um dos relatórios que tratava de sua demissão, no entanto, ficou claro que existia também admiração pelo poeta. “Considerando que a conduta do primeiro secretário Vinicius de Moraes é incompatível com as exigências e o decoro da carreira diplomática, mas em atenção aos seus méritos de homem de letras e artista consagrado, cujo valor não desconhece, a comissão propõe o seu aproveitamento no Ministério da Educação e Cultura”, dizia o texto que tratava de sua exoneração. Ele deixou o cargo durante um dos maiores expurgos registrados na diplomacia brasileira, com 44 servidores cassados, sendo 13 diplomatas.

 

Aos 55 anos, Vinicius foi aposentado compulsoriamente. Dez anos depois, ele desabafou em uma entrevista que considerou “uma sacanagem” a forma como foi expulso do Itamaraty. Mais de 40 anos depois de ser cassado pela ditadura militar e 30 depois de sua morte, ele foi agraciado com uma inédita promoção post mortem a embaixador. Em agosto de 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu o poeta ao cargo máximo da carreira diplomática, em cerimônia que contou com a presença de familiares e amigos do artista.


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