Depois do anúncio do primeiro escalão da Prefeitura de Belo Horizonte, na última quinta-feira, os ex-vereadores que foram derrotados nas eleições esperam uma vaga no segundo escalão. “Conversei com o Marcelo Abi-Saber, secretário de Assuntos Institucionais, e ele disse que após o primeiro escalão vão discutir com os vereadores que perderam”, afirma o ex-vereador Márcio Almeida (PRB). O candidato derrotado fez carreira como assessor de políticos e também pensa em voltar para a área se não receber um convite do prefeito.
Perguntada sobre o que anda fazendo atualmente, a ex-vereadora Pricila Teixeira (PTB) ri e brinca: “Que pergunta indiscreta!”. Advogada, ela diz que está administrando bens da família e que recebeu um convite para voltar a trabalhar no Tribunal de Contas do Estado. “Continuo atuando dentro do partido. Sou da Executiva Estadual e Municipal do PTB. Tenho expectativa de receber algum convite agora também”, afirma.
O ex-vereador Heleno de Abreu deixou o PHS assim que foi derrotado e retornou para o PSDB. Também voltou ao antigo posto, de assessor parlamentar do deputado estadual João Leite (PSDB), com quem trabalhou desde 1993, quando o ex-goleiro entrou para a política. O ex-vereador Carlúcio Gonçalves (PR) está negociando para trabalhar com o deputado federal Diego Andrade (PSD). “Estou em stand by e esperando uma definição”, explica Gonçalves, que é proprietário de uma tradicional gráfica em Belo Horizonte, mas passou o controle da empresa para os filhos.
NO PODER Apesar de não ter sido reeleito, João da Locadora (PT) se deu bem e foi convidado para o cargo de secretário de Administração de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que tem como prefeita sua companheira de partido Daniela Corrêa. A locadora de vídeos que lhe trouxe notoriedade na capital ainda funciona e ele acompanha atentamente suas contas. “Eu cheguei a ter 40 lojas em BH, mas a pirataria acabou com tudo. Trabalho com locadores desde 1989. Sempre fui comerciante, mas hoje só tenho uma na Floresta (Região Leste)”, conta.
Fábio Caldeira (PSB) deve ser nomeado ouvidor-geral do estado ainda nesta semana. Cabo Júlio (PMDB) não se elegeu vereador, mas já foi empossado como deputado estadual no lugar de Antônio Júlio (PMDB), novo prefeito de Pará de Minas, na Região Central. Moamed Rachid (PDT) volta para a Câmara para seu sexto mandato com a nomeação de Bruno Siqueira (PDT) para a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, e Sílvia Helena (PPS) também deve ser contemplada com um cargo de segundo escalão na prefeitura.
Começar de novo, 20 anos depois
De todos os políticos que deixaram o cargo de vereador de Belo Horizonte em 2012, talvez Geraldo Félix (PMDB) seja o que mais demonstre ter sentido a mudança de vida. Ele exerceu cinco mandatos na Câmara Municipal de Belo Horizonte e, antes de ser eleito pela primeira vez, em 1992, era figura conhecida na Casa e trabalhava como promotor do Legislativo da capital mineira. “Eu perdi dinheiro sendo vereador. Retrocedi na minha carreira. Mas são coisas da vida, foi o que eu quis fazer”, comenta ele. Félix pretende agora estudar um pouco de direito por conta própria para poder voltar a advogar na área trabalhista. Ele credita o resultado nas urnas em outubro principalmente à posição que tomou em relação ao aumento do salário dos vereadores, aprovado no ano passado. “Era um dinheiro que já estava lá, e todos eram favoráveis. Mas isso me prejudicou. Eu saí menor da Câmara”, avalia.
Félix não abandonará as atividades do partido, afirma, mas terá como prioridade acompanhar os filhos e estar mais presente em sua família. “A política toma muito tempo nosso, quero ficar mais em casa agora”, diz. Nostálgico, ele lembra: “Eu deixei a advocacia invicto, sem perder uma causa”. O ex-vereador confidencia que recebeu uma proposta para trabalhar em um escritório mas diz que ainda não pensou sobre o assunto. Capitão reformado da Aeronáutica, ele relembra com orgulho seu passado político: “Em 1964, me posicionei a favor do então presidente João Goulart e fiquei preso um ano e muitos meses por isso. Sou anistiado”, diz.
Feira
Seu companheiro de partido que também não conseguiu se reeleger, Preto do Sacolão (PMDB) diz que tirou um tempo para descansar depois da eleição. Desde que assumiu uma cadeira de parlamentar na Câmara, em 2009, ele arrendou o sacolão que o tornou conhecido no Bairro São Gabriel, na Região Nordeste. Hoje tem uma empresa copiadora, que faz xerox e outros serviços para estudantes de uma faculdade em BH, administrada por sua mulher. “O que eu quero no momento é descansar um pouco e, daqui a alguns meses, se Deus quiser, voltar a dar assistência às minhas bases, onde eu trabalho”, afirma ele, que também continua participando de atividades partidárias.
O radialista Alberto Rodrigues (PV) segue narrando partidas de futebol e afirma que não irá se afastar da vida política, mas se diz desiludido com o processo eleitoral no país. “Eu não quero mais mexer com política eleitoral na minha vida, é desgastante demais, cansativo. Você apanha muito, às vezes apanha inocentemente. Não quero”, diz ele, que é réu no processo que apura cobrança de propina por vereadores para aprovar o projeto de construção do Boulevard Shopping.