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Estado de Minas DEPOIS DO ESCÂNDALO, O OUTRO LADO

Políticos que investigaram o mensalão 2005 vão comandar capitais importantes

Antes críticos ferozes do governo, hoje são aliados ou preferem evitar ataques: Arthur Virgílio Neto (PSDB) em Manaus, ACM Neto (DEM) em Salvador, Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba e Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro


postado em 04/11/2012 07:19 / atualizado em 04/11/2012 07:27

Sessão da CPI dos Correios em dezembro de 2005. Durante meses, o Brasil acompanhou os trabalhos de investigação do esquema, que acabaram rendendo fama a alguns parlamentares que integraram a comissão (foto: Carlos Moura/CB/D.A Press 20/07/2005)
Sessão da CPI dos Correios em dezembro de 2005. Durante meses, o Brasil acompanhou os trabalhos de investigação do esquema, que acabaram rendendo fama a alguns parlamentares que integraram a comissão (foto: Carlos Moura/CB/D.A Press 20/07/2005)

Enquanto os envolvidos no maior escândalo da história política brasileira podem estar em vias de cumprir penas na cadeia, depois da condenação em série pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quatro dos parlamentares que ganharam notoriedade durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios – que investigou o mensalão em 2005 – vivem dias de glória. Em janeiro, vão assumir as prefeituras de importantes capitais brasileiras: Arthur Virgílio Neto (PSDB) em Manaus, ACM Neto (DEM) em Salvador, Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba e Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro. Eles se tornaram estrelas do mundo político atuando pela punição dos envolvidos no esquema de compra de votos no Congresso. Agora, sete anos depois, medem as palavras antes de falar sobre os condenados. Assumem os cargos com uma lupa da sociedade sobre si por terem atuado na revelação das provas que ajudaram nas condenações no maior julgamento penal da história do STF sobre um caso de corrupção.

Os quatro chegam ao Executivo com histórias diferentes. Um dos mais exaltados críticos, que ganhou os holofotes – à época era líder do PSDB no Senado –, Arthur Virgílio se elegeu prefeito de Manaus derrotando a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que teve o ex-presidente Lula em seu palanque. A briga particular com o ex-presidente foi tensa. Lula encarou como projeto pessoal derrotar Virgílio na capital amazonense. Isso porque desde as denúncias do mensalão o tucano o atacou por todos os flancos. Chegou inclusive a ameaçar o petista com uma surra.

ACM Neto também continuou na oposição. Derrotou em Salvador Nelson Pelegrino, do PT. Na campanha, se desculpou por um episódio da CPI explorado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na campanha do adversário. É que durante as investigações, o democrata disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) o estaria grampeando e que, a exemplo de Arthur Virgílio, também seria capaz de dar uma surra em Lula. Agora eleito, o discurso é outro: diz buscar uma relação harmoniosa com a presidente Dilma Rousseff.

Gustavo Fruet e Eduardo Paes tiveram trajetórias diferentes. Ambos eram do PSDB e migraram para partidos aliados do PT nacionalmente. Fruet foi para o PDT para disputar a Prefeitura de Curitiba e venceu Ratinho Junior (PSC) com o apoio do PT de Lula. Eduardo Paes aderiu ao PMDB sob protestos em outubro de 2007, quando era secretário do governo do peemedebista Sérgio Cabral no Rio. Em sua reeleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, Paes, que em 2005 chegou a sugerir que os caras-pintadas voltassem às ruas (em referência ao processo de revolta popular que levou ao impeachment de Collor), teve fartas aparições de Lula e da presidente Dilma Rousseff (PT) em sua propaganda eleitoral.

Como sub-relator de movimentações financeiras da CPI, Fruet na época disse que tentar negar o mensalão do PT era tentar negar os fatos. Hoje, não se importa em ter o PT como aliado. “O mundo não é tão simples, como se fosse dividido entre partidos do bem e do mal. É um pouco mais complexo. A realidade dos municípios é totalmente diferente da nacional”, disse ao Estado de Minas. O agora prefeito eleito de Curitiba afirmou que jamais se poderia projetar naquela época o futuro dos colegas de CPI e acredita que todos cumpriram os seus papéis. “Tem uma trajetória de luta e superação de todos que vai contra a ideia da síndrome da CPI, de que ela sempre prejudica quem participa”, afirmou.

Sobre o resultado do julgamento, Fruet afirmou lamentar que tudo tenha chegado a esse ponto e ressaltou o fato de o Brasil ter uma decisão que agora servirá de jurisprudência para casos de corrupção. Até por isso, ele diz estar ciente da sua responsabilidade. “É muito maior. Já na primeira reunião com os secretários vou me lembrar de dizer isso, que não podemos dar margem a qualquer irregularidade. Se alguém cometer um erro, será imediatamente afastado”, prevê.

Obrigações Arthur Virgílio garante que continua opositor do PT, mas admite que as relações terão de mudar, já que é prefeito eleito de Manaus. “Agora, a preocupação não é tanto fazer oposição e sim governar. Quero ter uma relação correta e republicana com a presidente Dilma, porque ela tem obrigações com Manaus e eu tenho obrigações com Manaus. Então, vamos ver a melhor forma de cumprir com elas juntos”, disse ao EM. Para ele, ACM Neto, que também não mudou de partido, não cometeu vacilos na campanha eleitoral. Já sobre Fruet e Paes, que tiveram apoio dos petistas, ele preferiu não comentar.

O ex-senador afirmou ainda que sua fala sobre dar uma surra no ex-presidente Lula foi deturpada. Na época, segundo ele, havia uma ameaça de forjar um flagra de drogas no carro de sua filha e, ao pedir providência sobre o caso no Senado, a petista que presidia a reunião não deu o crédito devido à denúncia. “Foi então que perguntei se ela queria que eu fosse a Manaus dar uma surra nos responsáveis e falei que, pela minha filha, sou capaz de dar uma surra até no presidente da República”. Virgílio também evita o clima de triunfo sobre o julgamento do mensalão. “Nenhum sentimento menor, nenhum sentimento negativo ou de vingança, mas de dever cumprido sim”, afirma. O prefeito eleito considera o momento comovente e diz que o Brasil se destaca no cenário internacional. “Dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), somos aquele país que no conjunto tem instituições mais sólidas e isso ficou provado agora”, afirmou.

Por onde andam

Delcídio Amaral (PT/MS)
O petista, que foi presidente da CPI dos Correios, continua atuando como senador. É cotado para concorrer ao governo do Mato Grosso do Sul em 2014. Participou das campanhas petistas no seu estado e apoiou o vencedor na capital, Campo Grande, Alcides Bernal (PP).

Osmar Serraglio (PMDB/PR)
Relator da CPI dos Correios que balizou as acusações da Procuradoria Geral da República, entregou o texto final sobre o mensalão no início de 2006. Em 2009, tentou ser presidente da Câmara dos Deputados, mas acabou abandonando a candidatura em favor de Michel Temer. Atualmente é deputado federal.

Você se lembra?

"Foi delegação do Lula. A incompetência e a omissão às vezes fazem um mal para o Brasil pior do que a corrupção. E sob esse aspecto, o presidente é responsável sim" - Gustavo Fruet, em agosto de 2005, em entrevista sobre a CPI dos Correios

"Lula sabe de tudo. A sede da quadrilha do mensalão é o Palácio do Planalto" - Eduardo Paes, em agosto de 2006, durante a CPI do mensalão

"Estou dizendo aqui que, na melhor das hipóteses, senhor Lula, o senhor é um idiota; na pior, o senhor é um corrupto. Chega dessa história de Lula não saber das coisas" - Arthur Virgílio, em 14 de julho 2005, da tribuna do Senado

"O presidente da República, ou qualquer um dos seus que tiver coragem de se meter na minha frente, assim como disse o senador Arthur Virgílio, tomará uma surra" - ACM Neto, em novembro de 2005


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