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Estado de Minas

Fraude servia marmitas indigestas a detentos

Gravações feitas durante investigações revelam que alimentação fornecida aos presos pela empresa Stillus era de baixa qualidade e seria motivo de uma ameaça de rebelião em presídio


postado em 28/06/2012 06:00 / atualizado em 28/06/2012 07:08

Área vendida à Stillus Alimentação em Montes Claros: metro quadrado foi repassado por R$ 672,78, enquanto laudo técnico apurou valor de R$ 885,84 (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A press)
Área vendida à Stillus Alimentação em Montes Claros: metro quadrado foi repassado por R$ 672,78, enquanto laudo técnico apurou valor de R$ 885,84 (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A press)


Escutas telefônicas da Operação Laranja com Pequi, deflagrada  nessa terça-feira pelo Ministério Público estadual (MPE) para combater um esquema de fraudes envolvendo fornecimento de merenda escolar e comida para presos, revelam, além de acertos na concorrência e ajuste de preço, que as alimentações servidas nas penitenciárias eram de baixa qualidade. Em uma das conversas com um funcionário de um presídio feminino em Minas Gerais, o diretor da Stillus Alimentação, Álvaro Wagner Diniz, preso anteontem, admite a péssima qualidade da comida e promete melhorar as futuras refeições. “Naquela ocasião avizinhava-se do mencionado estabelecimento penal ameaça de grave rebelião em razão da péssima qualidade da alimentação fornecida pela Stillus”, diz um trecho do inquérito instaurado pelo MPE para apurar as irregularidades. O ex-presidente do Cruzeiro Alvimar Oliveira Costa, irmão do senador Zezé Perrella (PDT), e o atual vice-presidente do time celeste, José Maria Fialho, são sócios proprietários da Stillus Alimentação.

“Até antes do Natal … até quarta-feira antes do Natal, admito totalmente. Do Natal para cá com certeza tá caprichado”, diz Álvaro, ao ser questionado sobre a falta de qualidade da comida. Segundo o MPE, Álvaro seria o encarregado de representar a Stillus nas licitações e de fazer os pagamentos das propinas para servidores públicos. O nome do presídio citado nessa interceptação telefônica não foi divulgado pelo MPE, mas o governo mantém desde 2009 um contrato com a Stillus para o fornecimento de refeições para a Penitenciária Feminina José Abranches, em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Ao todo, a Stillus fornece 44,6 mil refeições para 24 unidades prisionais do estado ao custo de R$ 3,2 milhões mensais. De acordo com o MPE, as sete empresas do grupo liderado por Alvimar firmaram, entre janeiro de 2009 e agosto do ano passado, contratos no valor de R$ 166 milhões com o governo de Minas para o fornecimento de refeições para presídios e centros de detenção do estado. As suspeitas são de que um terço desse valor tenha sido desviado.

As conversas também citam dois funcionários de unidades prisionais mineiras que cobrariam propinas para reajustar o valor dos contratos de alimentação em um presídio também não identificado, um servidor de nome Reinaldo e um diretor chamado Alexandre. O diretor administrativo do Presídio de Três Corações, Roni Buzzeti, foi exonerado anteontem. Seu nome faz parte da lista dos presos pela operação suspeitos de envolvimento com as fraudes. O governo do estado, disse por meio de nota, que vai auditar todos os contratos da Stillus e das empresas ligadas a ela e que se houver irregularidades eles serão cancelados. A Stillus também se pronunciou por meio de uma nota onde afirma ter prestado todas as informações pedidas pelo MPE e disse estar coloborando com as investigações.

Unimontes

Além de unidades prisionais em Minas e em Tocantins, o grupo fornecia merenda escolar para a Prefeitura de Montes Claros e as refeições do bandejão da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). A comida do recém-inaugurado Restaurante Universitário da Unimontes é fornecida, de acordo com as escutas, pela empresa Gaúcha Alimentação Coletiva.

Em um dos áudios, Bruno Vidotti, apontado pelo MPE como um dos cabeças da organização, discute com Clóvis Bianchini, representante da Gaúcha, os preços do bandejão e comentam sobre as exigências feitas pelos estudantes, como suco com e sem açúcar e comida vegetariana, consideradas excessivas em relação ao que é fornecido para o restaurante popular de Montes Claros.

Os dois falam ainda sobre a fraude na emissão de notas fiscais no restaurante popular para sonegação de ICMS. O inquérito não detalha qual empresa do grupo presta serviços de fornecimento de alimentação para o restaurante popular. No ramo do bandejão o grupo também fornece refeições para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Gravações feitas durante as investigações

Data: 30/12/2011
Horário: 18h06


Álvaro Wagner Diniz Araújo, um dos diretores da Stillus Alimentação, conversa com um interlocutor que se encontrava no interior de um presídio feminino localizado em Minas Gerais, mas que não é identificado
Interlocutor: Mas o problema Álvaro é o seguinte, olha só o que é que estava acontecendo. As presas, dias atrás, a comida não estava vindo boa não, Álvaro… Ela estava sem qualidade mesmo.
Álvaro: Até antes do Natal … até quarta-feira antes do Natal admito totalmente. Do Natal para cá com certeza tá caprichado.
Interlocutor: O que aconteceu para você entender… em virtude daqueles momentos de final de ano, da comida não ter vindo daquele jeito, você conhece presos. Por isso que eu sempre falo “a comida é que acalma a cadeia”, não tem jeito. A única coisa que eu peço é manter a qualidade.

Data 27/2/2012
Horário: 9h13

Bruno Vidotti, ex-pregoeiro da Secretaria de Defesa Social e apontado como “faz-tudo” da organização criminosa, conversa com Clóvis Luiz Bianchini, representante da Gaúcha Alimentação Coletiva, sobre as refeições do bandejão da Unimontes
Clóvis: Eles colocaram o subsídio alto do aluno. Eles fizeram o negócio, esperaram para decidir nos últimos dias, e o pessoal já tá até querendo fazer greve já. Tem base?
Bruno: Os alunos?
Clóvis: É porque eles colocaram um subsídio alto para o aluno pagar, de R$ 2,50, e a diferença a faculdade paga. E o restaurante popular é R$ 1.
Clóvis: Os professores estão instigando os alunos porque eles não vão ganhar subsídio. O cardápio que eles exigem em relação ao restaurante popular nem se compara. Suco todo dia, com açúcar, sem açúcar, comida vegetariana.


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